CC BY 4.0 · Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39(01): 217712352023rbcp0798pt
DOI: 10.5935/2177-1235.2023RBCP0798-PT
Artigo Original

Reparação da parede abdominal com membranas acelulares de pericárdio bovino - Parte I - Achados clínicos e radiológicos

Article in several languages: português | English
1   Hospital do Coração de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
2   Sociedade Portuguesa de Beneficência de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
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2   Sociedade Portuguesa de Beneficência de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
3   Hospital Estadual João Paulo II, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
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2   Sociedade Portuguesa de Beneficência de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
3   Hospital Estadual João Paulo II, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
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JONAS DIAS DE CAMPOS SEVERI
1   Hospital do Coração de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
2   Sociedade Portuguesa de Beneficência de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
3   Hospital Estadual João Paulo II, São José do Rio Preto, SP, Brasil.
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▪ RESUMO

Introdução:

Reduzindo os índices de recidiva de forma impactante, o emprego de biomateriais como “telas de reforço” na reparação de diferentes defeitos da parede abdominal tornou-se rotina quase obrigatória para o sucesso dessas reparações. A partir da década de 1990 houve a introdução de matrizes biológicas acelulares, iniciando-se assim uma nova era na reparação dos defeitos da parede abdominal. O objetivo é avaliar a funcionalidade do pericárdio bovino acelularizado em reparações da parede abdominal.

Método:

Trinta pacientes foram submetidos a reparação de defeitos da parede abdominal, com biopróteses acelulares de pericárdio bovino, perfazendo um total de 40 implantes anatomicamente individualizados. O seguimento médio foi de 31 meses, sendo os pacientes avaliados clinicamente e radiologicamente. Em três casos foram feitas biópsias das áreas implantadas permitindo análise histológica do material.

Resultados:

Não se observou recidiva das herniações em nenhum dos casos, tanto clinica como radiologicamente. Também não houve registro de hematomas, infecções ou qualquer fenômeno de natureza reacional local ou sistêmica. Radiologicamente, não foi possível visualizar as matrizes no local de implantação em qualquer dos períodos de pós-operatório analisados.

Conclusão:

As matrizes mostraram similaridade às demais membranas biológicas descritas na literatura internacional. Representando uma importante atualização e evolução conceitual, as membranas acelulares de pericárdio bovino podem ser incorporadas ao arsenal terapêutico nas reparações de parede abdominal.


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INTRODUÇÃO

O comprometimento da integridade anatômica e funcional da parede musculoaponeurótica do abdômen é uma ocorrência relativamente frequente, com graus variados de manifestação clínica, complexidade e agente causal, sendo representado principalmente pelas hérnias nas suas diferentes formas, pela frouxidão ou complacência exagerada do plano abdominal anterior secundários à obesidade ou gravidezes e por sequelas pós-infecções, traumas ou ressecções tumorais.

Dados da rede pública do Brasil mostram uma média anual de 242 mil herniorrafias, com 54% correspondendo às hérnias inguinais, sendo 99,4% por via aberta e apenas 0,6% por laparoscopia, com 22% relatados como operados em situação de emergência[1]. Acrescentam-se a isso os pacientes operados nas redes privadas e as reparações secundárias a demais causas, indicando a magnitude do problema e exigindo um algoritmo na seleção apropriada da técnica a ser adotada nas diferentes correções[2].

Além disso, abaulamentos difusos por frouxidão de toda parede abdominal, com comprometimento funcional e/ou estético, são também ocorrência comum e não devidamente estimada em pacientes pós-cirurgia bariátrica, em gravidez de repetição ou em mulheres de biótipo androide, afetando em graus variados a qualidade de vida e capacidades laborais em uma parcela bem maior da população, com grande procura aos cirurgiões plásticos para tratamento. Embora completas em sua integridade, geralmente essas reparações exigem um reforço com telas após plicatura da parede muscular em função do adelgaçamento das estruturas, prevenindo uma recidiva da protrusão com comprometimento funcional e cosmético do resultado[3].

Embora fatores de comorbidade como obesidade, diabetes e tabagismo possam afetar os índices de recidiva[4], a associação de biomateriais permitiu reparar diferentes defeitos da parede abdominal com importante alívio da tensão concomitante ao aumento da resistência local, reduzindo esses índices em mais de 50% e evidenciando o fator mecânico como preponderante no sucesso das reparações[5], tornando rotina obrigatória o uso das “telas de reforço” nessas situações.

Após décadas utilizando telas sintéticas[6], a partir dos anos 1990 houve a introdução de membranas biológicas de origem animal ou humana - denominadas matrizes extracelulares (MECs) - iniciando-se assim uma nova era na reparação dos defeitos da parede abdominal[7], com resultados que estimularam sua adoção crescente em várias partes do mundo nas últimas duas décadas.

Diferentes tipos de membranas acelularizadas vêm sendo desenvolvidas a partir de tecidos biológicos variados - como derme humana[8] ou animal[9], mucosa intestinal[10], tecido fetal bovino[11] e pericárdio bovino[12] - cada uma com características relativamente distintas em termos de aplicações clínicas e terapêuticas, descritas em inúmeras publicações científicas, de maneira geral estabelecendo um novo padrão de indicações na reparação de defeitos da parede abdominal, assim como em diversas outras áreas ([Tabela 1]).

Tabela 1.

Espécie de Origem

Tecido de Origem

Aplicação

Nome/Fabricante

Humana

Derme

Partes Moles / Mama

Partes Moles / Mama

Mama/Tendão

Mama

Partes Moles

Prolapso Orgãos Pélvicos

Feridas Crônicas

AlloDerm / Lifecell

AlloMax / Bard Davol

AlloPatch / Musculosk Foundation

Neoform / Mentor Worldwide

GraftJacket / Kinetc Concepts

Axis / Coloplast

DermaPure / Regenix Group

Fascia Lata

Oftalmologia

Prolapso Orgãos Pélvicos

Tutoplast FL/IOP

Suspend / Coloplast

Pericárdio

Oftalmologia

IO Patch / IOP

Bovina

Derme

Partes Moles

TissueMend / Stryker

Pericárdio

Mama, Vascular,

Duramáter, Fascia

Odontologia

Duramáter

Válvula Cardíaca

Veritas, Dura-Guard, PeriGuard,

Vascu-Guard / BAXTER

CopiOs / Zimmer

Lyoplant / B. Braun Melsungen

Perimount / Edwards Lifesciences

Porcina

Derme

Partes Moles/Fascia/ Mamas

Partes Moles

Partes Moles, Mamas, Fascia

Strattice / LifeCell

ColaMend, XenMatrix / Bard Davol

Permacol / Tissue Science Lab

Mucosa Intestinal

Mamas, Fascia, Duramáter

Reparação Nervos

Pericárdio / Tec. Cardíaco

Surgisis, Durasis, Oasis / Cook Biotech

AxoGuard / AxoGen

CorMatrixECM / CorMatrix Cardiov

Bexiga Urinária

Partes Moles

MatriStem/ACell

Equina

Pericárdio

P. Moles / Feridas Crônicas

Unite / Synovis Ort. Wound Care

Duramáter

DurAdapt / Pegasus Biologic

Utilizando MECs produzidas por empresa com expertise na produção de biopróteses de pericárdio bovino há 40 anos[13], este protocolo analisou a aplicação de membranas biológicas - Denominada Periwall® - em cirurgia reparadora da parede abdominal, com aspectos ainda não descritos em humanos sob condições de normalidade e não se identificando publicações sobre o tema na literatura científica nacional.


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OBJETIVO

O objetivo principal do estudo foi observar a funcionalidade de membranas acelulares de pericárdio bovino na reparação da parede abdominal, assim como avaliar sua similaridade com as demais biopróteses descritas na literatura.


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MÉTODO

No período de Abril de 2018 a Janeiro de 2022, trinta pacientes foram submetidos a reparação da parede abdominal utilizando a membrana acelular de pericárdio bovino, 14 homens e 16 mulheres, com idades entre 29 e 77 anos (média=48 anos), por diferentes indicações e localizações, perfazendo um total de 40 implantes anatomicamente individualizados, resumidos na [Tabela 2]. O seguimento mínimo foi de 10 meses e o máximo de 46 meses, com média de 31 meses.

Tabela 2.

Diagnóstico

Número de Casos

Número de Implantes

Hérnias

Inguinal Unilateral

10

10

Inguinal Bilateral

03

06

Incisional

04

04

Umbilical/Paraumbilical

02

02

Epigástrica

01

01

Pós Bariatrica / Complacência Parede Abdominal

06

09

Endometrioma De Parede Infra Umbilical

01

01

Deformidades Associadas

Hérnia Inguinal + Hérnia Supra Umbilical

01

02

Pós Bariátrica + Hérnia Supra Umbilical

01

02

Complacência Parede + Hérnia Inguinal Bilateral

01

03

Total

30

40

Em caráter multicêntrico e devidamente aprovado pelo CONEP e pelos Comitês de Ética em Pesquisa, os pacientes foram selecionados e operados em conjunto pelo autor principal e pelas equipes de cirurgia geral com expertise na área em três hospitais de referência de São José do Rio Preto - Beneficência Portuguesa, Hospital do Coração e Hospital Estadual João Paulo II. Todos os pacientes receberam termo de consentimento informado sobre a natureza do procedimento, descrevendo a necessidade obrigatória da tela de reforço para a correção do problema e as opções existentes entre o composto sintético e o biológico.

Além da patologia principal e da classificação da natureza das feridas operatórias, foram registradas as variáveis idade, Índice de Massa Corporal e eventuais patologias associadas, importantes para os critérios de inclusão/exclusão do estudo. Foram utilizados somente dois critérios de inclusão a saber - 1. Foram admitidas somente cirurgias classificadas como “Limpas” e 2. Nos casos em que a indicação correspondeu ao padrão convencional descrito na literatura para o uso de telas sintéticas, ou seja, nas cirurgias em que a implantação de reforço da parede abdominal foi obrigatória. Foram excluídos pré-operatoriamente pacientes obesos, portadores de feridas operatórias contaminadas ou infectadas e portadores de comorbidades associadas importantes (hipertensão arterial, diabetes tipo 1, enfisema e/ou doença pulmonar obstrutiva), com relação risco-benefício considerada desfavorável pela equipe médica.

Todos os pacientes foram operados sob anestesia geral, com média de internação de 1 dia, tendo recebido antibioticoterapia com cefalosporina 1g por dia por 7 dias. Foi recomendado o uso de cinta abdominal compressiva por um período de 120 dias, assim como proibição de atividades físicas de esforço nesse período.

Além do acompanhamento clínico mensal, foram feitos exames radiológicos por ultrassonografia em diferentes períodos do pós-operatório e, em 4 casos, ressonância eletromagnética da parede abdominal aos 9, 11, 17 e 26 meses.

Em 3 pacientes foi possível fazer biópsias das áreas implantadas aos 13, 22 e 23 meses de pós-operatório. As lâminas foram coradas em hematoxilina-eosina, tricrômio de Gomori e Picro-Sírius Red e submetidas a análises morfométricas.

Preparo das membranas

As membranas foram fornecidas estéreis em frascos contendo formaldeído a 4% requerendo uma lavagem pré-implantação, conforme recomendação do fabricante. Assim, a membrana foi colocada em uma cuba contendo soro fisiológico 0,9% e manualmente agitada, desprezando-se a solução a cada 5 minutos e repetindo-se o procedimento por 3 ciclos, exigindo-se então 15 minutos para o material estar em condições de uso. Foram seguidos os princípios de “no touch” na manipulação dos implantes e no preparo da loja, com troca e lavagem das luvas para remoção de resíduos de talco e nova antissepsia do sítio cirúrgico previamente à sua implantação, favorecendo assim sua mínima manipulação. Foi preparada uma solução contendo 1000ml de soro fisiológico a 0,9% associado a 2g de cefalosporina e 80mg de gentamicina, deixando-se a membrana já lavada em imersão nessa solução até o momento de seu uso. Durante o processo de fixação, a mesma solução foi utilizada para irrigar toda área de implantação em períodos aleatórios.


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Técnica cirúrgica

A fixação das membranas foi feita com pontos separados e/ ou contínuos de fios não absorvíveis de polipropileno (Prolene®) 2-0 ou 3-0 em sua periferia, complementados com múltiplos pontos de adesão “em colchoeiro” em sua superfície, evitando dobras do implante. De rotina, pontos absorvíveis de ácido poliglicólico 2/0 (Vicryl®) ou Polidioxanona (PDS®) 2/0 foram aplicados plicando-se o subcutâneo às membranas e aponeurose muscular em toda extensão da área descolada, para imobilização do retalho e redução máxima de espaços mortos, prevenindo seromas e promovendo a maior superfície de contato possível da interface membrana-tecido. Não foram utilizados drenos aspirativos em nenhum dos casos nesta série.

Nos casos de hérnias inguinais (19 casos) a membrana de reforço foi fixada ao canal inguinal com pontos de Prolene 2/0 e mantida sepultada em posição subfascial ([Figura 1A]). No fechamento da aponeurose foram dados pontos de Vicryl® 2/0 plicando-se a membrana como descrito. O tamanho médio dos implantes foi de 10 x 6cm.

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Figura 1. A: Intraoperatório de reparação de hérnia inguinal. Visão da membrana fixada no canal inguinal, abaixo da fáscia muscular (setas pretas) que será suturada, "sepultando" o implante em posição subfascial. B: Implante de membrana acelular em posição suprafascial, suturada diretamente sobre a parede muscular após aproximação primária da musculatura. C: Aspecto intraoperatório de hérnia incisional com "anel" de abertura da parede com cerca de 10cm de diâmetro, impossibilitando o fechamento por aproximação direta das camadas musculares. D: Correção do defeito relatado em C com implante "em ponte", fixando-se a membrana sob tensão em toda borda do anel herniário, recobrindo diretamente o peritônio.

Nas hérnias umbilicais e epigástricas (5 casos) foi possível fazer a aproximação primária direta da musculatura e aponeurose, com pontos separados de poliglecaprone 1/0 (Caprofyl®), sendo a membrana afixada em posição suprafascial, suturada recobrindo a área tratada com fios separados de Prolene 3/0 ([Figura 1B]). O tamanho médio dos implantes foi de 6 x 6cm.

Em 3 hérnias incisionais o mesmo procedimento foi utilizado, com as membranas em posição suprafascial e dimensão média de 10 x 10cm. Em um caso não foi possível a aproximação primária da musculatura, sendo a membrana posicionada excepcionalmente em ponte, diretamente suturada sob tensão externamente aos bordos do anel herniário e sobre o peritônio ([Figuras 1C] e [D]).

Nas reparações por complacência exagerada da parede (8 casos) e reconstrução pós-ressecção tumoral (1 caso), após plicatura muscular horizontal e vertical com fios absorvíveis 1-0 de Caprofyl® ou polidioxanona (PDS®), as membranas foram suturadas em posição suprafascial com pontos de Prolene 3/0. Estes casos exigiram as maiores membranas - 15 x 10cm - como também houve a necessidade do uso de mais de uma membrana, com posicionamento supra e infraumbilical em 3 casos.


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RESULTADOS

Avaliações clínicas

Os pacientes apresentaram bons resultados, não se evidenciando recidiva das herniações em nenhum dos casos, tanto clinica como radiologicamente. Também não houve registro de hematomas, infecções ou qualquer fenômeno de natureza reacional local ou sistêmica. Em 1 caso o paciente apresentou seroma infraumbilical, tratado por punção aspirativa com retirada de 60ml de secreção, sem demais recidivas.

Três pacientes foram reoperadas tardiamente, 2 para revisão de cicatriz aos 13 e 22 meses de pós-operatório e 1 para revisão pós-ressecção de endometrioma aos 23 meses. Em todas não foi possível a identificação visual da membrana previamente implantada, então incorporada ao leito receptor de aspecto normal, sem áreas reacionais e com leve fibrose cirúrgica da região. Em todas foram feitas as biópsias na região correspondente à anterior implantação da membrana.


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Avaliações radiológicas

As ultrassonografias, realizadas em diferentes períodos, não possibilitaram qualquer identificação das membranas implantadas, mesmo precocemente. Nos primeiros 30 dias de pós-operatório pôde-se observar pequenos seromas esparsos na área dos implantes, sem relevância clínica, desaparecendo depois desse período. Não foram observadas recidivas locais a longo prazo, assim como alterações anatômicas da região operada ([Figuras 2A-D]).

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Figura 2. A, B, C e D: Imagens por ultrassonografia de parede abdominal, pós-reparação associada a implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes períodos de pós-operatório. Imagens em A, aos 15 dias pós-herniorrafia inguinal, e B, aos 30 dias pós-herniorrafia incisional, mostrando pequenos seromas isolados, sem repercussão clínica ou necessidade de drenagem. Em C e D, imagens aos 45 e 150 dias mostrando aspecto normal pós-reparação de hérnias incisionais, com ausência de recidiva ou alterações anatômicas. As setas identificam a interface subcutâneo/aponeurose muscular, com aspecto anatômico habitual. Em nenhum dos casos a técnica permitiu a visualização das membranas implantadas.

Nas ressonâncias eletromagnéticas, realizadas aos 9, 11, 17 e 26 meses de pósoperatório, também não foi possível identificar as membranas na região de implantação, assim como sinais indiretos de sua presença. Não foram identificadas recidivas locais ou alterações anatômicas importantes das áreas operadas ([Figuras 3A-D]).

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Figura 3. A, B, C e D: Imagens por ressonância eletromagnética de parede abdominal, pós-reparação associada a implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes períodos de pós-operatório. Em A, 9 meses de pós-operatório de abdominoplastia pós-bariátrica; em B, 11 meses pós-reparação por ressecção de endometrioma de parede infraumbilical; em C e D, aos 17 e 26 meses pós-correção de hérnia incisional. Em todos os casos as membranas foram fixadas em posição suprafascial e os cortes correspondem às áreas de implantação. Em A, C e D observa-se uma anatomia normal da parede abdominal, com ausência de diástase dos músculos retos abdominais (setas vermelhas), seromas, herniações ou outras alterações. Em B, C e D observa-se nitidamente a interface subcutâneo/aponeurose, apresentando aspecto normal, não sendo possível identificar a presença das membranas implantadas. SC - subcutâneo; MRA - músculo reto abdominal).

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Avaliações histológicas

Em todas as amostras as biópsias mostraram neoformação tecidual em substituição às membranas implantadas, com importante deposição de colágeno e tecido celularizado de aspecto normal, não sendo observados aspectos reacionais importantes. Os achados e as análises morfométricas e estatísticas estão descritas detalhadamente em publicação paralela a esta (parte II).


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DISCUSSÃO

Matrizes biológicas acelulares têm sido cada vez mais utilizadas não somente na reconstrução da parede abdominal, mas também de forma crescente em diversas aplicações terapêuticas, revelando uma evolução conceitual na aplicação de biomateriais. A natureza da organização molecular tridimensional distingue os moldes biológicos de matriz extracelular dos materiais sintéticos pela possibilidade de reparação por remodelação tecidual ao invés de fibrose cicatricial, estratégias perseguidas pelos conceitos da engenharia de tecidos e medicina regenerativa[14].

O pericárdio bovino tem sido adotado com sucesso para essa finalidade com relativa vantagem sobre os materiais sintéticos pela capacidade de ser incorporado aos tecidos circundantes, demonstrando resistência à infecção, extrusão, erosão e formação de adesões viscerais[15] [16] [17]. As membranas acelulares têm sido particularmente indicadas na presença de feridas contaminadas e nas situações de contato direto do implante com as vísceras[18] [19].

Os resultados observados permitem afirmar que a matriz de pericárdio utilizada teve comportamento similar ao documentado na literatura, apresentando funcionalidade na correção dos defeitos, sem registro de recidivas ou eventos reacionais e integração aos tecidos adjacentes, com o neotecido oferecendo resistência mecânica satisfatória a longo prazo. Foi possível observar diretamente a incorporação total das membranas nas reoperações, além dos resultados descritos nas avaliações radiológicas. Neste aspecto, embora atestando a integridade anatômica dos locais operados, as matrizes não foram visualizadas ao ultrassom já a partir de 15 dias de pós-operatório, assim como por ressonância eletromagnética a partir de 9 meses, revelando assim a ineficácia dos métodos como ferramenta de avaliação de MECs em pós-operatório.

O protocolo adotado não permitiu avaliar comparativamente as membranas em reparações mais complexas e em feridas contaminadas, mas, pela similaridade apresentada com as características gerais das MECs descritas na literatura disponível, sua indicação pode ser considerada sem restrições em futuras reparações da parede abdominal naquelas condições. Deliberadamente, o protocolo limitou as indicações para casos de menor risco, classificados como de Grau I[20], limitando comorbidades que pudessem interferir na avaliação do implante em si na eventualidade de complicações.

Estima-se que até 75% das complicações são devidas a infecção, seromas e fixação inadequada do implante[21] [22], justificando a metodologia preventiva adotada. A rotina na prevenção da formação de biofilmes[23], causa comum de eventos adversos no uso de implantes, justifica a adoção rigorosa do conceito “no touch” no intraoperatório[24] [25]. O mesmo se aplica na prevenção de seromas e fixação dos implantes, com pontos de adesão “subcutâneo/implante/aponeurose” cumprindo vários objetivos de forma eficiente.

Com a imediata imobilização do retalho e implante, previne-se deslizamentos e promove-se o maior contato possível da interface membrana/tecido, favorecendo os processos biológicos de reparação e incorporação da membrana. Além disso, reduz-se ao máximo a presença de “espaço morto” no plano de descolamento, prevenindo seromas e simultaneamente dispensando o uso de drenos.

Não foram utilizados drenos aspirativos em nenhum dos casos desta série e em somente um caso houve a necessidade de punção aspirativa para tratamento de pequeno seroma. As ultrassonografias realizadas em diferentes períodos do pós-operatório mostram pequenos seromas esparsos presentes nos primeiros 30 dias, não sendo observados nos casos tardios, com interface subcutâneo/aponeurose de aspecto normal, sem a visualização das membranas.

Além de ser mais confortável para o paciente a ausência de drenos, seu uso pode favorecer a contaminação do sítio cirúrgico e não é devidamente demonstrada sua eficácia na prevenção de seromas[26] [27], com uso restrito a indicações excepcionais. Os resultados obtidos confirmam que a fixação rigorosa da interface subcutâneo/aponeurose/implante, com suturas de adesão progressivas de toda área descolada[28], pode dispensar o uso de drenos aspirativos nas reparações da parede abdominal na presença de implantes.

Aspectos técnicos na colocação e posicionamento dos implantes em relação ao plano muscular - subfascial, suprafascial, submuscular ou “em ponte” - são fatores descritos que também podem aumentar o risco de complicações[29] [30]. Nos casos operados nesta série as membranas foram implantadas no espaço subfascial para as hérnias inguinais e suprafasciais nas protrusões e reparações de hérnias incisionais com aproximação primária da musculatura, sendo mantida em ponte excepcionalmente em apenas 1 caso. Auxiliados pelos métodos de fixação, os resultados mostram que a fixação suprafascial de biopróteses é um método simples e eficaz na correção de hérnias ventrais de menor complexidade, como descrito em outras publicações[31], assim como nos casos comuns por complacência exagerada da parede abdominal (Vídeo 1).

As próteses biológicas devem ser biodegradadas por ação de metaloproteases[32] e substituídas pelos tecidos nativos ao longo do tempo, servindo como uma estrutura temporária para o crescimento das células do hospedeiro. Se o implante for absorvido antes de adequados processos de neovascularização, crescimento tecidual e diferenciação/deposição de colágeno, a qualidade do neotecido irá comprometer o resultado esperado, conceito que determina a funcionalidade dos implantes.

Neste contexto se focam as discussões sobre a reticulação ou não de MECs para reparações da parede abdominal[33] [34], em função de comportamento biológico diverso. Matrizes não reticuladas apresentam incorporação e reabsorção mais rápida[35], enquanto a reticulação (cross-linking) prolonga o tempo de degradação e aumenta a resistência mecânica[36] [37].

Estudos demonstraram que MECs reticuladas com glutaraldeído apresentam maior resistência à colagenase, com degradação mais lenta particularmente em ambientes contaminados[38] [39], sendo por isso a primeira escolha a ser considerada nessas situações já há mais de uma década[21] [40]. Estudos com pericárdio bovino acelularizado demonstraram relação direta entre grau de reticulação e resistência à degradação, sendo isso determinante na cinética de degradação e no padrão de regeneração tecidual[41] [42], parecendo lógico adotar biopróteses reticuladas em regiões de maior stress mecânico como na parede abdominal.

A matriz reticulada em glutaraldeído empregada neste estudo mostrou propriedades similares às demais biopróteses relatadas no que se refere aos requisitos de degradação progressiva do material versus resistência mecânica do tecido neoformado. Além dos achados clínicos e radiológicos, a visualização direta dos sítios reoperados mostrou a parede íntegra com tecido cicatricial de boa qualidade, sem aderências ou processos inflamatórios importantes, com as membranas implantadas totalmente incorporadas.

Matrizes extracelulares representam um nicho microambiental com atividades biológicas importantes nos processos de regeneração tecidual[43], indo além da questão apenas estrutural de suporte mecânico. Com a implantação, iniciam-se processos de impacto na atividade biológica local com recrutamento celular e resposta imune[44] [45] [46], favorecendo um ambiente de remodelação funcional ao invés fibrose cicatricial ou processos inflamatórios crônicos.

Diferentemente do papel exclusivamente mecânico dos implantes sintéticos, as biopróteses desempenham um papel ativo nos eventos biológicos in situ, apontando na direção de processos regenerativos que devem ser devidamente conhecidos e experimentados pelos cirurgiões, cuja experiência é estimada como um dos fatores prognósticos mais importantes na correção de hérnias da parede abdominal[47].


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CONCLUSÃO

A matriz acelular de pericárdio bovino apresentou eficácia na correção dos defeitos da parede abdominal, atestando sua funcionalidade e similaridade às demais biopróteses descritas na literatura.

Os exames por ultrassonografia e ressonância eletromagnética se mostraram métodos ineficazes como ferramenta de avaliação de MECs em pós-operatório.

Pontos de fixação “subcutâneo/implante/aponeurose” em toda área descolada podem dispensar o uso de drenos aspirativos na presença de biopróteses de pericárdio bovino implantadas em posição suprafascial.

O emprego de matrizes extracelulares traz importantes evoluções conceituais que devem ser incorporadas pelos cirurgiões, com a escolha das biopróteses devendo ser considerada por fatores que vão além da relação custo-benefício dos procedimentos. Séries com maior número de casos e diante de reconstruções complexas poderão definir melhor os critérios para sua indicação.


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Conflitos de interesse:

não há.

Instituição: Hospital Estadual João Paulo II, Sociedade Portuguesa de Beneficência de São José do Rio Preto, Hospital do Coração de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, SP, Brasil.


  • REFERÊNCIAS

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*Autor correspondente:

Luiz Fernando Frascino
Av. Juscelino Kubitscheck de Oliveira, 3700, São José do Rio Preto, SP, Brasil, CEP: 15093-225

Publication History

Received: 14 March 2023

Accepted: 23 October 2023

Article published online:
20 May 2025

© 2024. The Author(s). This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)

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Bibliographical Record
LUIZ FERNANDO FRASCINO, FERNANDA RIBEIRO FUNES LORENZZATO, HAMILTON LUIZ FUNES, JONAS DIAS DE CAMPOS SEVERI. Reparação da parede abdominal com membranas acelulares de pericárdio bovino - Parte I - Achados clínicos e radiológicos. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: 217712352023rbcp0798pt.
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Figura 1. A: Intraoperatório de reparação de hérnia inguinal. Visão da membrana fixada no canal inguinal, abaixo da fáscia muscular (setas pretas) que será suturada, "sepultando" o implante em posição subfascial. B: Implante de membrana acelular em posição suprafascial, suturada diretamente sobre a parede muscular após aproximação primária da musculatura. C: Aspecto intraoperatório de hérnia incisional com "anel" de abertura da parede com cerca de 10cm de diâmetro, impossibilitando o fechamento por aproximação direta das camadas musculares. D: Correção do defeito relatado em C com implante "em ponte", fixando-se a membrana sob tensão em toda borda do anel herniário, recobrindo diretamente o peritônio.
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Figure 1. A: Intraoperative inguinal hernia repair. View of the membrane fixed in the inguinal canal below the muscular fascia (black arrows) that will be sutured, “burying” the implant in a subfascial position. B: Acellular membrane implant in a suprafascial position sutured directly onto the muscular wall after primary approximation of the muscles. C: Intraoperative appearance of an incisional hernia with a “ring” opening in the wall measuring approximately 10cm in diameter, making it impossible to close by directly approximating the muscle layers. D: Correction of the reported defect in C with a “bridge” implant, fixing the membrane under tension along the entire edge of the hernial ring, directly covering the peritoneum.
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Figura 2. A, B, C e D: Imagens por ultrassonografia de parede abdominal, pós-reparação associada a implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes períodos de pós-operatório. Imagens em A, aos 15 dias pós-herniorrafia inguinal, e B, aos 30 dias pós-herniorrafia incisional, mostrando pequenos seromas isolados, sem repercussão clínica ou necessidade de drenagem. Em C e D, imagens aos 45 e 150 dias mostrando aspecto normal pós-reparação de hérnias incisionais, com ausência de recidiva ou alterações anatômicas. As setas identificam a interface subcutâneo/aponeurose muscular, com aspecto anatômico habitual. Em nenhum dos casos a técnica permitiu a visualização das membranas implantadas.
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Figura 3. A, B, C e D: Imagens por ressonância eletromagnética de parede abdominal, pós-reparação associada a implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes períodos de pós-operatório. Em A, 9 meses de pós-operatório de abdominoplastia pós-bariátrica; em B, 11 meses pós-reparação por ressecção de endometrioma de parede infraumbilical; em C e D, aos 17 e 26 meses pós-correção de hérnia incisional. Em todos os casos as membranas foram fixadas em posição suprafascial e os cortes correspondem às áreas de implantação. Em A, C e D observa-se uma anatomia normal da parede abdominal, com ausência de diástase dos músculos retos abdominais (setas vermelhas), seromas, herniações ou outras alterações. Em B, C e D observa-se nitidamente a interface subcutâneo/aponeurose, apresentando aspecto normal, não sendo possível identificar a presença das membranas implantadas. SC - subcutâneo; MRA - músculo reto abdominal).
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Figure 2. A, B, C and D: Ultrasound images of the abdominal wall, post-repair associated with implantation of acellular bovine pericardial membrane, at different postoperative periods. Images in A, 15 days after inguinal herniorrhaphy, and B, 30 days after incisional herniorrhaphy, showing small isolated seromas without clinical repercussion or need for drainage. In C and D, images at 45 and 150 days showing normal appearance after repair of incisional hernias, with no recurrence or anatomical changes. The arrows identify the subcutaneous/muscular aponeurosis interface, with the usual anatomical appearance. In none of the cases did the technique allow visualization of the implanted membranes.
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Figure 3. A, B, C and D: Electromagnetic resonance imaging of the abdominal wall, post-repair associated with acellular bovine pericardial membrane implant, at different postoperative periods. In A, 9 months after post-bariatric abdominoplasty surgery; in B, 11 months after repair by resection of infraumbilical wall endometrioma; in C and D, at 17 and 26 months after incisional hernia repair. In all cases, the membranes were fixed in a suprafascial position, and the cuts corresponded to the implantation areas. In A, C, and D, the normal anatomy of the abdominal wall is observed, with the absence of diastasis of the rectus abdominis muscles (red arrows), seromas, herniations, or other changes. In B, C, and D, the subcutaneous/aponeurosis interface is clearly observed, presenting a normal appearance, and it is not possible to identify the presence of the implanted membranes. SC - subcutaneous; RAM - rectus abdominis muscle).