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CC BY 4.0 · Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39(01): 217712352024rbcp0859pt
DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0859-PT
Artigo de Revisão

Impacto da blefaroplastia superior na qualidade de vida e sua inserção no contexto da saúde pública brasileira: revisão de escopo

Article in several languages: português | English
1   Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Poços de Caldas, MG, Brasil.
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1   Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Poços de Caldas, MG, Brasil.
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1   Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Poços de Caldas, MG, Brasil.
› Author Affiliations

Fonte de financiamento: Os pesquisadores do presente estudo receberam bolsa PIBIC/FAPEMIG, vinculados à Pontifícia Universidade de Minas Gerais, campus Poços de Caldas.
 

▪ RESUMO

Introdução:

O objetivo foi desenvolver uma revisão de escopo que mapeie pesquisas disponíveis que respondam à questão: “O que se sabe sobre o impacto da blefaroplastia na qualidade de vida? Qual sua abrangência no Sistema Único de Saúde?”.

Método:

Levantamento bibliográfico nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde, Periódicos Capes, SciELO, LILACS, Medline e Cochrane Library, com estudos publicados nos últimos cinco anos.

Resultados:

Foram selecionados 323 estudos para pré-análise e a amostra final contou com 19 estudos. A qualidade de vida foi analisada em sete dos estudos incluídos (36,8%) e os demais analisaram critérios funcionais (31,5%) ou outras questões subjetivas que podem estar ligadas à qualidade de vida (26,3%). A maioria dos estudos demonstrou que a blefaroplastia traz melhora na qualidade de vida e em critérios indiretos como autoestima, satisfação pessoal e bem-estar, além de melhora da visão. Os dados sobre a cobertura da cirurgia no contexto público são escassos e não foi encontrado nenhum estudo que tratasse desse tema.

Conclusão:

A blefaroplastia impacta positivamente na qualidade de vida, reforçando a necessidade de se fazer cumprir o direito de realização do procedimento na saúde pública, quando comprovada sua indicação. A ausência de dados sobre a blefaroplastia no Sistema Único de Saúde demonstra alguma negligência deste tópico no âmbito da saúde pública. Portanto, a presente pesquisa tem importância em evidenciar tal lacuna, incentivando a realização de estudos que aprofundem a análise do impacto da blefaroplastia na qualidade de vida, bem como, busquem entender melhor sua cobertura e formas de ampliá-la.


INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo biológico que resulta em diversas modificações anatomofuncionais no organismo humano. Neste contexto, a região dos olhos é essencial para garantir uma harmonia facial, além de ser um importante meio de comunicação social, constituindo-se como o componente estético-funcional mais importante da face, sendo que quaisquer alterações nessa região podem acarretar o comprometimento de tais funções[1].

Neste sentido, uma das manifestações clínicas mais frequentes derivadas do processo natural do envelhecimento é a ptose palpebral[2], que acomete majoritariamente a pálpebra superior e que pode ter outras etiologias além do envelhecimento, como fatores neurogênicos, miogênicos, traumáticos ou até mesmo congênitos[3]. Como consequência, a ptose palpebral traz ao paciente uma redução da campimetria e qualidade visual, aumento da incidência de entrópio (condição que facilita o contato dos cílios com a conjuntiva ocular, predispondo infecções) e declínio da autoestima, contribuindo significativamente para a redução da qualidade de vida[1].

Neste contexto, surge a blefaroplastia, procedimento cirúrgico que tem como finalidade a correção de qualquer anormalidade funcional ou estética existente nas pálpebras, realizada em sua maioria por médicos cirurgiões plásticos e oftalmologistas[1]. Devido à sua notória importância, o Sistema Único de Saúde (SUS) garante aos cidadãos o direito de realizar cirurgias plásticas reparadoras, especialmente quando há prejuízo funcional parcial ou total e não há outras alternativas de tratamento a não ser a cirúrgica. Deste modo, é garantido aos pacientes a cirurgia de blefaroplastia pelo SUS quando comprovados os declínios funcionais descritos acima[4].

Nesta perspectiva, foi realizada a presente revisão de escopo, com o intuito de elucidar e fundamentar qual é realmente a cobertura do atendimento dos pacientes com necessidade de blefaroplastia no SUS, assim como a abrangência de seu impacto na qualidade de vida dos pacientes.


OBJETIVO

Portanto, o objetivo principal desta revisão de escopo foi mapear sistematicamente as pesquisas disponíveis sobre o tema proposto, além de delimitar as lacunas remanescentes no estudo da área. Para tal fim, foram formuladas as seguintes questões de pesquisa: O que se sabe sobre o impacto da blefaroplastia superior na qualidade de vida? Qual é sua abrangência no sistema único de saúde?


MÉTODO

Este estudo trata-se de uma revisão de escopo norteada pelas referências e princípios propostos pelo Joanna Briggs Institute (JBI) e Preferred Reporting Items for Systematic Review and MetaAnalyses extension for Scoping Review (PRISMA- ScR)[5] [6], visando a busca de informações disponíveis, assim como a identificação de lacunas remanescentes do assunto abordado por meio do seguimento das etapas: formulação dos objetivos e da questões de pesquisa (“O que se sabe na literatura sobre o impacto da blefaroplastia na qualidade de vida e sua abrangência no SUS?”; estruturação da questão de pesquisa por meio do acrônimo PCC - População: indivíduos submetidos a blefaroplastia / Conceito: qualidade de vida / Contexto: cirurgia de blefaroplastia, SUS); elaboração dos critérios de exclusão e inclusão; desenvolvimento da estratégia de busca; busca e seleção de estudos; mapeamento de dados e síntese dos resultados.

Critérios de Elegibilidade

Para seleção dos estudos, foram utilizados os seguintes critérios: estudos publicados de 2017 a 2022, que abordassem a qualidade de vida, funcionalidade, satisfação do paciente após a blefaroplastia superior, realizada como primeira intervenção, estando eles nos idiomas inglês, português e espanhol, com a aplicação do filtro “nos últimos 5 anos”. Foram incluídos estudos quantitativos, qualitativos e mistos, visando a ampla compreensão do tema.


Fontes de Informação

O levantamento bibliográfico ocorreu no período de março a junho de 2022, a partir de buscas nas bases de dados eletrônicas Medline, BVS, Periódicos Capes, SciELO e LILACS. Além da busca em periódicos, foram coletados dados de sites oficiais do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Os resultados obtidos foram exportados para o EndNote para exclusão de artigos repetidos. A estratégia de busca utilizada ocorreu por meio dos descritores presentes no MeSH (Medical Subject Headings) e DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): “Blepharoplasty”, “Quality of Life”, “Visual Field Tests”, “Patient Satisfaction” e “Sistema Único de Saúde”.

Esses descritores foram combinados por meio do uso dos operadores booleanos OR e AND, que foram empregados nas bases de dados de maneira expressa no [Quadro 1].

Quadro 1.

Bases de Dados/ Bibliotecas/ Buscadores/ Literatura Cinzenta

Estratégias de Busca

PubMed, BVS, Periódicos Capes, LILACS, SciELO, Cochrane.

((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”)) AND ((Quality of life))

((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”)) AND ((Visual field test))

((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”)) AND ((Patient satisfaction OR satisfaction))

((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”)) AND ((Patient satisfaction)) AND ((Quality of life)) AND ((Visual field test))

Com o objetivo de aumentar a consistência da pesquisa, todos os artigos encontrados nas bases de dados descritas foram selecionados em conjunto pelos pesquisadores, seguindo a ordem título, resumos e, finalmente, texto completo, para que, ao final, mediante discussão entre os avaliadores, fossem classificados em consenso somente os estudos que contribuíssem para a resposta das questões da pesquisa.

A primeira busca, selecionando artigos a partir do título, totalizou 323 artigos escolhidos. Depois que as duplicatas foram removidas (130), 193 citações ficaram remanescentes. Após essa etapa, foi lido o resumo dos artigos em questão, restando então 113 estudos. Por fim, após a leitura do texto completo, levando em consideração os critérios de elegibilidade, tivemos 19 artigos elegíveis para esta revisão de escopo. Dos 94 estudos excluídos, 81 não discorriam ou discorriam muito superficialmente sobre o impacto da blefaroplastia na qualidade de vida dos pacientes e 13 tratavam apenas da blefaroplastia inferior. Dados expressos na [Figura 1].

Zoom
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos.


RESULTADOS

O título, autor, ano, periódico, objetivos, desenho do estudo, métodos e resultados dos estudos em relação às questões da pesquisa estão apresentados no [Quadro 2].

Quadro 2.

Título

Autores, Ano e Periódico

Objetivos

Desenho

Número de participantes e idade

Métodos

Resultado

The Effect of Blepharoplasty on Our Patient’s Quality of Life, Emotional Stability, and Self-Esteem[7]

Papadoulos et al., 2019

The Journal of Craniofacial Surgery

Determinar se a blefaroplastia afeta qualidade de vida, satisfação, estabilidade emocional e autoestima

Estudo retrospectivo com pacientes submetidos à blefaroplastia transdérmica entre 1995 e 2008

46 pacientes (idade de 38-75 anos)

Aplicação de questionário de desenvolvimento próprio para a bleafaroplastia, além do Statistically significant increased values in quality of life (FLZM), Freiburg Personality Inventory (FPI-R-L) e Rosenberg Self-Esteem (RSES).

Melhora da qualidade de vida nos aspectos: trabalho, mobilidade e independência. Aumento da autoestima

Association on of Upper Eyelid Ptosis Repair and Blepharoplasty

With Headache-Related Quality of Life[8]

Bahceci Simsek, 2017

JAMA Facial Plast Surgery

Avaliar as mudanças na qualidade de vida relacionada à cefaleia em pacientes submetidos a blefaroplastia superior

Estudo coorte prospectivo

108 pacientes submetidos a blefaroplastia e 44 pacientes submetidos a correção de ptose (idade de 45-49 anos)

Aplicação do questionário Headache Impact Teste-6 (HIT) no pré e pós-operatório para pacientes com cefaleia tensional.

Aumento da pontuação Headache Impact Teste-6 (HIT) nos dois grupos pesquisados (reparação de ptose e blefaroplastia superior)

Upper eyelid blepharoplasty using Plasma exeresis: Evaluation of outcomes, satisfaction and symptoms after procedure[9]

Ferreira et al., 2021

Journal of Cosmetic Dermatology

Avaliar satisfação do paciente e sintomas depois da blefaroplastia superior usando a tecnologia plasma

Estudo observacional com pacientes que realizaram blefaroplastia superior usando plasma para tratar dermatocálas

16 pacientes (idade média 50,5 anos)

Avaliação de qualidade de vida, sintomas e satisfação usando dois questionários no dia 7 e 30 após o procedimento

Alto nível de satisfação, porém baixo impacto na qualidade de vida no dia

Functional benefits and patient satisfaction with upper blepharoplasty - evaluated by objective and subjective outcome measures[10]

Jacobsen et al., 2017

Acta Ophthalmology

Investigar resultados funcionais e satisfação do paciente na blefaroplastia superior

Estudo coorte observacional

45 pacientes (idade média 56,9 anos)

Análise pré e pós-operatória da capacidade visual no paciente, juntamente com questionário para avaliar o impacto funcional e psicossocial da pálpebra

Aumento no campo visual superior em 31,3% do lado direito e 28,3% do lado esquerdo. Todos os pacientes ficaram satisfeitos com o resultado pós-operatório e se submeteriam novamente a cirurgia

Measuring satisfaction with appearance: Validation of the FACE-Q scales (ferramenta de resultados relatados pelo paciente (PRO) composta por várias escalas e listas de verificação com funcionamento independente, projetadas para medir os resultados) for double-eyelid blepharoplasty with minor incision in young Asiansretrospective study of 200 cases[11]

Chen et al., 2017

Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic Surgery

Usar um questionário validado FACE-Q (ferramenta de resultados relatados pelo paciente (PRO) composta por várias escalas e listas de verificação com funcionamento independente, projetadas para medir os resultados) para avaliar a satisfação relatada pelo paciente após blefaroplastia dupla com pequena incisão

Estudo retrospectivo com pacientes submetidos à blefaroplastia dupla entre 2012 e 2014

200 pacientes (idade de 21-30 anos)

Aplicação do questionário FACE-Q (ferramenta de resultados relatados pelo paciente (PRO) composta por várias escalas e listas de verificação com funcionamento independente, projetadas para medir os resultados) anonimamente por e-mail

Alto nível de satisfação com a aparência do olho no geral e aumento na qualidade de vida, incluindo confiança e bem-estar

Functional outcomes of upper eyelid blepharoplasty: A systematic review[12]

Hollander et al., 2019

Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic Surgery

Revisar a literatura para avaliar o benefício funcional objetivo e subjetivo da blefaroplastia superior

Revisão sistemática

3525 estudos

Busca sistemática em 4 bases de dados (Pubmed, Embase, Cinahl e Cochrane)

28 estudos foram incluídos e mostraram aumento do campo de visão, aumento da qualidade de vida por diminuição da cefaleia e melhora da visão e diminuição da sensibilidade das pálpebras. Resultados para altura da sobrancelha, astigmatismo, sensibilidade ao contraste e cinemática da pálpebra não foram consistentes.

Investigation of Goldmann perimetry in evaluation of patients for upper eyelid blepharoplasty[13]

Pemberton et al., 2018

Orbit

Determinar se o Goldman Visual Teste (GVT) pré-operatório testado em pacientes com dermatocálase funcional descreve o resultado do campo visual superior no pós-operatório

Estudo coorte prospectivo

23 pacientes (média de idade 67 anos)

Obtenção do Goldman Visual Teste (GVT) pré-operatório com as pálpebras na posição natural e no pós-operatório e posterior análise para determinar se o teste pré-operatório prediz com precisão a melhora do campo visual

O teste pré-operatório subestimou o resultado pós-operatório em uma média de 35%, portanto, a melhora pós-operatória no campo visual é normalmente maior após a blefaroplastia do que o Goldman Visual Teste (GVT) prediz

Objective quantification of the impact of blepharoplasty on the superior visual field[14]

Kim et al., 2022

Archives of Plastic Surgery

Analisar o campo visual antes e após a cirurgia e investigar se as medidas do campo visual podem ser aplicadas como um preditor adequado de resultados cirúrgicos

Estudo prospectivo

9 pacientes (média de idade de 59,66 anos)

Participaram 9 pacientes com pseudoptose submetidos a blefaroplastia. Os campos visuais foram analisados no pré-operatório e 3 meses de pós-operatório com o Goldmann teste de perimetria cinética

A blefaroplastia teve um efeito benéfico médio de 4,99 vezes no campo de visão superior. Houve forte correlação entre o campo visual superior pré-operatório e o resultado cirúrgico.

Assessment of Patient Satisfaction With Appearance, Psychological Well-being, and Aging Appraisal After Upper Blepharoplasty: A Multicenter Prospective Cohort Study[15]

Domela Nieuwenhuis et al., 2022

Aesthetic Surgery Journal

Avaliar a satisfação relatada pelo paciente com a aparência facial, bem-estar psicológico e avaliação do envelhecimento após blefaroplastia superior com questionários validados

Estudo coorte prospectivo

2134 pacientes idosos

Foram incluídos pacientes de blefaroplastia superior de 8 ambulatórios. A satisfação relatada pelo paciente foi avaliada com o FACE-Q na admissão e 6 e 12 meses de pós-operatório

Grandes melhorias nas pontuações do FACE-Q entre a admissão e 6 meses de pós-operatório foram observadas para satisfação com a aparência, bem-estar psicológico e avaliação do envelhecimento. A satisfação com o resultado do tratamento foi fortemente correlacionada com a satisfação com a aparência, mas não com a avaliação do envelhecimento.

Patient-reported outcome measurement in upper blepharoplasty: How to measure what the patient sees [16]

Herruer et al., 2018

Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic Surgery

Pesquisar sobre o resultado da blefaroplastia em termos de satisfação e qualidade de vida, bem como determinar uma recomendação sobre quais ferramentas de avaliação devem ser usadas

Estudo prospectivo

56 pacientes (36 completaram todos os questionários, (média de idade de 55 anos)

Os pacientes submetidos à blefaroplastia preencheram questionários BOE Blepharoplasty outcome evaluation (BOE) e Derriford appearance scale 59 (DAS59) no pré-operatório e em 3-6 meses de pós-operatório. Escalas visuais analógicas (EVA) também foram utilizadas no pré e pós-operatório e o Inventário de Benefícios de Glasgow (GBI) foi utilizado no pós-operatório.

Tanto a satisfação com os olhos, quanto a autoestima melhoraram significativamente. Os pacientes relataram benefícios significativos depois do procedimento.

Effects of Upper Eyelid Blepharoplasty on Contrast Sensitivity in Dermatochalasis Patients[1] [7]

Nalci et al., 2020

Turkish Journal of Ophthalmology

Avaliar o impacto da blefaroplastia da pálpebra superior na sensibilidade ao contraste em pacientes com dermatocálase

Estudo prospectivo

34 pacientes (média de idade de 59,66 anos)

Avaliou-se no pré-operatório e no pós-operatório a melhor acuidade visual corrigida, exame oftalmológico, exame de pálpebras, ptose dos cílios, sensibilidade ao contraste, parâmetros ceratométricos e aberrações corneanas de 34 olhos de pacientes submetidos à blefaroplastia superior por dermatocálase entre os anos 2014 e 2018

A sensibilidade ao contraste aumenta significativamente após a blefaroplastia superior, especialmente em frequências espaciais mais altas. A blefaroplastia pode ter indicações funcionais adicionais para pacientes idosos com dermatocálase em termos de melhora das funções como realização de tarefas diárias e leitura.

A practical technique combining orbicularis oculi muscle resection-based epicanthoplasty and orbicularis-tarsus fixation double-eyelid plasty for cosmetic blepharoplasty[18]

Sun et al., 2019

Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic Surgery

Descrever uma técnica que combina a epicantoplastia baseada na ressecção do músculo orbicular do olho e a plastia palpebral dupla com fixação orbicular do tarso para blefaroplastia cosmética e relatar os resultados cirúrgicos em um grande número de pacientes chineses.

Estudo prospectivo

475 pacientes com média de idade de 26 anos

De janeiro de 2015 a fevereiro de 2019, 475 pacientes foram submetidos à blefaroplastia de pálpebra dupla associada à epicantoplastia com essa técnica. O período de seguimento variou de 2 a 38 meses, com média de 16 meses

97% dos pacientes ficaram satisfeitos com os resultados cirúrgicos, apresentando pregas palpebrais bem definidas e contorno do canto interno naturalmente melhorado, sem cicatriz evidente. A análise fotográfica mostrou melhora significativa na proporção da fissura palpebral no pós-operatório.

Surgical outcome and patient satisfaction after Z-epicanthoplasty and blepharoplasty[19]

Zhao et al., 2019

International Journal of Ophthalmology

Avaliar os resultados cirúrgicos da Z-epicantoplastia modificada com blefaroplastia que relatamos anteriormente da perspectiva do paciente usando medidas de resultados relatados pelo paciente (PROMs) e escores de satisfação do paciente.

Estudo retrospectivo

180 pacientes (média de idade de 24 anos)

180 pacientes submetidos à cirurgia entre janeiro de 2013 e junho de 2016 foram selecionados aleatoriamente. Formulários padronizados de satisfação do paciente e questionários usando medidas de resultados relatados pelo paciente (PROMs) validados foram enviados aos pacientes para preenchimento.

A maioria dos pacientes relatou bons ou excelentes resultados na análise de medidas de resultados relatados pelo paciente (PROMs). Nas questões relativas à função e aparência, 80,3% relataram satisfação com ambos os domínios. A maioria dos pacientes relatou uma taxa de satisfação alta ou muito alta para produzir uma pontuação média de 104 em 120 para a avaliação da satisfação do paciente

Factors Influencing Patient Satisfaction with Upper Blepharoplasty in Elderly Patients[20]

Kim et al., 2021

Plastic and Reconstructive Surgery-Global Open

Pesquisar quais fatores influenciam a satisfação do paciente idoso na blefaroplastia superior

Estudo prospectivo

57 pacientes (mais de 65 anos de idade)

Pacientes submetidos à blefaroplastia superior entre abril de 2018 e março de 2019 que responderam um questionário pré-operatório e após 6 meses, uma pesquisa de satisfação foi realizada.

A verificação significativa dos coeficientes de regressão mostrou que a melhora funcional e o grau cognitivo das precauções pós-operatórias tiveram um efeito significativo na satisfação do paciente, enquanto os resultados estéticos e as expectativas de resultados cirúrgicos não foram correlacionados com a satisfação do paciente.

Qualidade de vida e autoestima em idosas submetidas e não submetidas à cirurgia estética[21]

Spadoni-Pacheco e Carvalho, 2018

Revista Brasileira de Cirurgia Plástica

Avaliar a importância da cirurgia estética (CE) para o idoso, e se existe diferença de qualidade de vida e autoestima entre idosas que se submeteram e que não se submeteram à cirurgia estética.

Estudo caso-controle

25 idosas que se submeteram à cirurgia estética (CE) e 25 idosas que não fizeram CE (média de idade de 67,26 anos).

Grupo-caso formado por 25 idosas que se submeteram à cirurgia estética (CE) e o grupo-controle por 25 idosas que não fizeram cirurgia estética (CE). Os instrumentos aplicados foram: Minimental, questionário de qualidade de vida (WHOQOL-BREF), escala de autoestima de Rosenberg e um questionário elaborado para pesquisa de dados sociodemográficos, motivação e satisfação com a cirurgia estética (CE).

Os motivos mais escolhidos para a cirurgia foram o desconforto físico, o desejo de melhoria da qualidade de vida (QV) e a insatisfação com a autoimagem. Não foram encontradas idosas com baixa autoestima e o nível de satisfação foi alto quando relacionado com a própria vida ou a vida social. Não houve diferença de qualidade de vida (QV) e autoestima entre os dois grupos analisados.

Assessment of self-esteem and psychological aspects in patients undergoing upper blepharoplasty[22]

Gracitelli et al., 2017

Revista Brasileira de Oftalmologia

Avaliar os resultados de autoestima e qualidade de vida em pacientes submetidos à blefaroplastia superior.

Estudo transversal

49 indivíduos com diagnóstico de dermatocálase.

A autoestima e a qualidade de vida de pacientes submetidos à blefaroplastia superior foram comparadas com voluntários da mesma idade. A avaliação pré-operatória incluiu exames oftalmológicos e dois questionários: escala de autoestima de Rosenberg (RSES) e avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-BREF).

Indivíduos submetidos à blefaroplastia superior apresentaram pior autoestima com base na escala de autoestima de Rosenberg (RSES). Em relação à qualidade de vida, avaliada pela avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-BREF), foram evidentes diferenças significativas entre os grupos na subescala aspectos psicológicos

The Bleph and the Brain: The Effect of Upper Eyelid Surgery on Chronic Headaches[2] [3]

Mokhtarzadeh et al., 2017

Ophthalmic Plastic & Reconstructive Surgery

Determinar o efeito da cirurgia da pálpebra superior nos sintomas de cefaleia

Estudo caso-controle

47 pacientes (idade de 58.7 a 60.7 anos)

Grupo caso e controle preencheram um questionário de qualidade de vida pré e pós-operatório Headache Impact Test-6. O estudo foi realizado durante um período de 2 anos. Nem os pacientes nem os investigadores do estudo foram mascarados.

As pontuações pós-operatórias foram melhores no grupo caso em comparação com o controle. Todas as perguntas do Headache Impact Test-6 melhoraram significativamente no braço caso em comparação com o controle. Subjetivamente, 25 dos 28 pacientes do estudo e 4 dos 19 pacientes controle notaram alguma melhora nos sintomas após a cirurgia.

Resultados funcionales de la blefaroplastia superior[2]

Hernández Sánchez et al., 2021

Revista Cubana de Oftalmologia

Descrever os resultados funcionais da blefaroplastia superior

Estudo longitudinal prospectivo

99 pacientes (idade de 50-62 anos)

Foi realizado um estudo descritivo longitudinal prospectivo de pacientes diagnosticados com dermatocálase de pálpebra superior, alguns associados à ptose palpebral e supercílio no período de fevereiro do ano de 2019 até janeiro de 2020.

Em 98% dos casos intervencionados obteve-se a correção total da dermatocálase da pálpebra superior, correção da ptose em 86% e da sobrancelha em 88%. Não houve complicações em 94% das pálpebras operadas. A complicação mais frequente foi sangramento, com 2,5%.

Influence of upper blepharoplasty on intraocular lens calculation[2] [4]

Vola et al., 2021

Arquivo Brasileiro de Oftalmologia

Determinar o efeito da blefaroplastia superior na topografia da córnea e no cálculo do poder da lente intraocular usando Galilei e IOLMaster (fórmula de Holladay).

Estudo de série de casos

30 pacientes (idade de 47,7 - 74,4 anos).

Pacientes submetidos à blefaroplastia superior foram submetidos a sessões de imagem com Galilei e IOLMaster (fórmula de Holladay) no pré-operatório e em 1 e 6 meses de pós-operatório. A determinação do comprimento axial e o cálculo da potência da lente foram realizados usando apenas IOLMaster (fórmula de Holladay). Teste t pareado e análise vetorial foram usados para análise estatística.

A análise vetorial mostrou que 6 meses após a cirurgia, a blefaroplastia induziu em média 0,39D e 0,31D de astigmatismo corneano, medido com Galilei e IOLMaster (fórmula de Holladay). As medições do IOLMaster (fórmula de Holladay) mostraram que a curvatura corneana média, curvatura corneana mais acentuada e astigmatismo corneano foram maiores 6 meses após a cirurgia. Também mostraram que o poder da lente intraocular foi significativamente menor 6 meses após a cirurgia.

Dos estudos selecionados, apenas sete deles[7] [8] [9] [10] [12] [21] [22] citaram ou avaliaram diretamente o critério melhora na qualidade de vida; destes, cinco[7] [8] [11] [12] [22] encontraram aumento estatisticamente significativo da qualidade de vida após a blefaroplastia, um não encontrou diferenças significativas[21] e outro encontrou baixo impacto na qualidade de vida no sétimo dia após a cirurgia[9]. A idade dos indivíduos participantes desses estudos variou, tendo um artigo sem especificação[12], quatro (57%) com pacientes de no mínimo 50 anos[9] [10] [21] [22], um entre 45 e 49 anos[8] e outro abrangeu pacientes desde os 38 até os 75 anos de idade.

Seis estudos analisaram o resultado funcional da blefaroplastia superior[2] [10] [13] [14] [17] [24], critério este que foi considerado pela presente revisão como possível fator contribuinte para a melhora na qualidade de vida. Destes estudos, três encontraram aumento significativo no campo de visão superior[10] [13] [14], um apontou aumento significativo da sensibilidade ao contraste[17] após a cirurgia e, juntamente com outro estudo[24], demonstrou ótimos níveis de correção da dermatocálase. Além disso, também foi encontrada indução de astigmatismo corneano e diminuição do poder da lente intraocular após a blefaroplastia[25]. A maioria das pesquisas foram feitas em pacientes com mais de 55 anos[10] [13] [14] [17] [25] e apenas um teve a idade variando entre 47,7 e 74,4 anos[24]. Em todos os estudos, a maioria dos pacientes eram do sexo feminino.

Por fim, seis estudos[11] [15] [16] [18] [20] [23] avaliaram questões subjetivas que podem estar ligadas à melhora da qualidade de vida, como a satisfação do paciente[15] [16] [18] [20], a melhora da cefaleia[23], o bem-estar psicológico[15] e autoestima[16]. Todos eles encontraram melhoras significativas nos respectivos critérios analisados, através da aplicação de questionários aos pacientes participantes.

A partir dos resultados aqui demonstrados, ficou claro que, salvo algumas exceções[9] [21] [24], a blefaroplastia apresenta impacto positivo e significativo na vida dos pacientes submetidos à cirurgia, seja por critérios funcionais ou de bem-estar. Os benefícios incluem alta satisfação, melhora da autoestima, aumento do campo de visão, segurança e bem-estar.

Considerando todos os benefícios, a cirurgia de blefaroplastia é assegurada pelo SUS e consta na tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses e Próteses e Materiais Especiais do Sistema Único de Saúde (SIGTAP)[25]. O valor despendido pelo SUS para a realização deste procedimento foi alterado pela portaria nº 3.037[26], de 14 de novembro de 2017, para 449,44 reais. A blefaroplastia pode ser indicada pelo clínico geral ou oftalmologista, nas seguintes condições: (1) dermatocálase (excesso de pele e flacidez na prega palpebral superior) com obstrução do eixo visual, (2) lagoftalmo (má oclusão palpebral), (3) alteração da posição das pálpebras, (4) deformidades palpebrais pós-trauma ou sequela de queimadura[4].

Entretanto, o procedimento só é coberto pelo SUS em hospitais onde há residência médica de Cirurgia Plástica[27]. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), no Brasil existem 88 serviços de residência médica credenciados, sendo que vários deles estão localizados na mesma cidade e 13 (50%) dos 26 estados brasileiros não são abrangidos por nenhum serviço credenciado, demonstrando a escassez e a dificuldade de acesso da população a esse recurso.

Não foram encontrados dados sobre a lista de espera do SUS, bem como o número de blefaroplastias realizadas por ano, não sendo possível concluir sobre a realidade da cobertura prevista. O único dado encontrado sobre a cobertura de cirurgias plásticas pelo SUS foi fornecido pelo Censo da SBCP de 2016[28], que demonstrou que, do total de cirurgias plásticas realizadas naquele ano, 16,30% foram realizadas pelo SUS, entretanto, não há especificação do quanto essa porcentagem representa a blefaroplastia em si.

Por outro lado, algumas ações, principalmente por parte da SBCP, buscaram suprir o déficit no atendimento desses pacientes na fila de espera, na forma de mutirões de blefaroplastia realizados em algumas cidades brasileiras[29]. Essas ações, em sua maioria, ocorrem em parceria com hospitais do SUS e reúnem equipes médicas que se mobilizam em um curto período de tempo para atender o máximo de pacientes possível. Apesar da falta de dados sobre o número de cirurgias realizadas pelo SUS, a necessidade da organização de ações como estas já denota a existência de uma lacuna de atendimentos necessários na área.

Ademais, nas bases de dados pesquisadas, também não foi encontrado nenhum estudo sobre a inserção da blefaroplastia no SUS, apenas sobre outras cirurgias plásticas reparadoras, como tumor de pele e de mama.

Esta revisão de escopo apresenta algumas limitações. A principal delas foi a carência de publicações tratando sobre o tema, além de dados extremamente escassos e limitados no que diz respeito à cobertura da blefaroplastia pelo SUS, principalmente na literatura científica, não tendo sido encontrado nenhum estudo científico sobre tal. Portanto, não foi possível ter clareza do cenário brasileiro no que tange à demanda real da população, fila de espera e da efetivação propriamente dita da cirurgia. Uma outra limitação desta revisão é que não foi encontrado nenhum ensaio clínico randomizado a respeito dos efeitos da blefaroplastia, em nenhum dos desfechos citados. Todos os estudos primários incluídos nesta revisão foram observacionais, sendo coortes, caso-controle e série de casos. Assim, há grande necessidade de se desenvolver ensaios clínicos randomizados bem conduzidos que avaliem a efetividade da blefaroplastia superior em desfechos relevantes para os pacientes.


CONCLUSÃO

Nos estudos selecionados que buscaram entender qual a influência da blefaroplastia na qualidade de vida dos pacientes, foram encontradas diferentes formas de se esclarecer essa relação. A primeira foi de forma direta, com foco específico em analisar a melhora da qualidade de vida, por meio de critérios pré definidos. Já a segunda foi de forma indireta, pesquisando critérios que, por inferência, aumentam a qualidade de vida, como satisfação pessoal, autoestima, melhora na cefaleia e outros critérios funcionais.

Em ambos os focos de pesquisa, em sua grande maioria, foram demonstrados o aumento efetivo do fator qualidade de vida em pacientes submetidos a cirurgia. Além da melhora na qualidade de vida, houve relatos de melhoras funcionais e de critérios subjetivos ligados à qualidade de vida, como autoestima e satisfação. Dessa forma, 73% dos estudos encontraram algum tipo de influência positiva da blefaroplastia. Entretanto, a quantidade de estudos que analisou esta relação em profundidade ainda é escassa.

Sobre a inserção da blefaroplastia no SUS, os dados encontrados foram insuficientes para se ter um bom panorama, não tendo sido encontrado nenhum estudo sobre o assunto, demonstrando uma lacuna de conhecimento científico voltado a este fim.

Nesse sentido, parece haver um negligenciamento deste tópico na saúde pública, tendo como consequência prática um efeito negativo na qualidade de vida de muitos pacientes que possuem critérios e direito para realização da blefaroplastia, mas que, infelizmente, não são atendidos. Além disso, a escassez de pesquisas dificulta a compreensão real da importância e impacto desta cirurgia.

Encoraja-se, portanto, a realização de estudos, focados no aprofundamento da relação blefaroplastia e qualidade de vida, mas principalmente que avaliem o impacto da cobertura deste procedimento dentro do Sistema Único de Saúde.



Conflitos de interesse:

não há.

Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC - MG) - campus Poços de Caldas, Poços de Caldas, MG, Brasil.



*Autor correspondente:

Lucas Freire Guerra Boldrin
Rua Assis Figueiredo 515, apto 107, Centro, Poços de Caldas, MG, Brasil, CEP: 37701-000

Publication History

Received: 13 August 2023

Accepted: 04 February 2024

Article published online:
20 May 2025

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Bibliographical Record
LUCAS FREIRE GUERRA BOLDRIN, JULIANA DIOGO SILVA, MARILENE MENDES DOS SANTOS. Impacto da blefaroplastia superior na qualidade de vida e sua inserção no contexto da saúde pública brasileira: revisão de escopo. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: 217712352024rbcp0859pt.
DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0859-PT

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Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos.
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Figure 1. Flowchart of the study selection process.