CC BY 4.0 · Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39(01): 217712352023rbcp0761pt
DOI: 10.5935/2177-1235.2023RBCP0761-PT
Relato de Caso

Blefaroplastia com cantopexia em paciente portadora de cútis laxa: Um relato de caso

Article in several languages: português | English
1   Residente do Serviço de Cirurgia Plástica, Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, CE, Brasil.
,
1   Residente do Serviço de Cirurgia Plástica, Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, CE, Brasil.
,
2   Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil
,
3   Membro Titular SBCP, Staff Serviço de Cirurgia Plástica, Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, CE, Brasil.
,
3   Membro Titular SBCP, Staff Serviço de Cirurgia Plástica, Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, CE, Brasil.
,
4   Membro Titular SBCP, Regente e Chefe do Servico de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, CE, Brasil.
› Author Affiliations
 

▪ RESUMO

Cútis laxa é uma rara doença do tecido conectivo caracterizada pela disfunção das fibras elásticas. Indivíduos acometidos por essa enfermidade queixam-se de sua aparência envelhecida. Os tratamentos se baseiam no uso de cosméticos ou em técnicas cirúrgicas, sendo a cirurgia plástica uma ferramenta de extrema relevância. A blefaroplastia tem o objetivo de melhorar a aparência senil e proporcionar rejuvenescimento na área ao redor dos olhos, fazendo com que o olhar pareça mais descansado e alerta. Trata-se de um estudo observacional retrospectivo utilizando os dados do prontuário. Relato do Caso: Paciente do sexo feminino, 17 anos, encaminhada ao serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza-CE, para tratamento devido à insatisfação com a sua aparência. Submetida a uma blefaroplastia superior e inferior associada a cantopexia sem cantotomia. No período pós-operatório, foi observado resultado satisfatório para a cirurgia proposta e adequada correção das alterações existentes. Conclusão: Observa-se a importância da correção cirúrgica facial nos casos de cútis laxa, ressaltando a relevância da aplicação de técnicas cirúrgicas adequadas e o aprimoramento das mesmas nesse perfil de paciente.


#

INTRODUÇÃO

Cútis laxa é uma doença multissistêmica rara do tecido conectivo, caracterizada pela disfunção das fibras elásticas gerando uma pele inflexível, com dobras redundantes e aspecto enrugado. Assim, os indivíduos acometidos por essa enfermidade queixam-se de sua aparência envelhecida, além de apresentar em maior frequência aneurismas de aorta e problemas pulmonares[1] [2] [3]. Este distúrbio pode ser adquirido ou hereditário - de caráter dominante ou recessivo, este último apresentando acometimento simétrico e normalmente de pior prognóstico.

As fibras elásticas são compostas principalmente de elastina, proteína da família dos colágenos que possibilita a flexibilidade dos tecidos e resistência à tensão. Na cútis laxa, foi detectada a perda de elastina, com fragmentação das fibras elásticas na derme reticular, acarretando frouxidão de pele, vasos, pulmões e demais tecidos[2].

Os tratamentos baseiam-se no uso de cosméticos ou em técnicas cirúrgicas, como uma forma de amenização ou correção, sendo a cirurgia plástica uma ferramenta de extrema relevância para a terapêutica desses pacientes[4].

Diante das alterações da aparência, mais notadamente na região da face, pescoço, axila e virilha, surge grande desejo por parte dos pacientes por correções cirúrgicas, principalmente aquelas relacionadas às alterações faciais[5].

Dos possíveis procedimentos cirúrgicos, a cirurgia de blefaroplastia, tanto inferior quanto superior, tem o objetivo de melhorar a aparência senil e proporcionar rejuvenescimento na área ao redor dos olhos, fazendo assim com que o olhar pareça mais descansado e alerta[6].

A tradicional blefaroplastia inferior é um procedimento que, na maioria das vezes, traz bons resultados, obtendo-se uma cicatriz subciliar pouco perceptível[7].

A cantopexia é um procedimento cirúrgico realizado após a blefaroplastia superior clássica e a inferior por via conjuntival. No segmento anterior, é retirado uma elipse de tecido, além de uma faixa do músculo orbicular pré-septal. Na parte inferior, é empregado um acesso conjuntival para a excisão dos bolsões de gordura. A técnica cirúrgica é iniciada fazendo-se uma incisão no tecido com diâmetro aproximado de 2mm, localizada instantaneamente abaixo do canto palpebral lateral[6] [8].


#

OBJETIVO

Este artigo tem por objetivo relatar o caso de uma paciente jovem submetida a blefaroplastia superoinferior com cantopexia para correção das alterações periorbitárias anatômicas e estéticas decorrentes da cútis laxa.


#

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 17 anos, encaminhada ao serviço de cirurgia plástica do Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza-CE, procurando ajuda médica para tratamento devido à insatisfação com a sua aparência, principalmente na região orbitária, além de dificuldade de inserção social por estigmatização.

Ao exame físico, foi evidenciada exuberante dermatocálase superior, com abaulamento devido à herniação de bolsas de gordura e à ptose bilateral das glândulas lacrimais, contribuindo para o efeito de pseudoptose palpebral, associado a herniação de bolsas palpebrais inferiores e a canto arredondado com ângulo cantal negativo ([Figura 1]). Além disso, identificou-se ptose do tecido malar com proeminência do sulco nasogeniano, aumento do jowl fat e um retrognatismo. Percebeu-se ainda uma hipertrofia de polo superior das orelhas, com leve apagamento da fossa escafoide, associado a hipertrofia de concha.

Zoom Image
Figura 1 Paciente portadora de cútis laxa no pré-operatório.

Durante avaliação pré-operatória, foram realizados exames complementares buscando alterações cardiopulmonares, respiratórias ou de grandes vasos relevantes para a investigação, que não demonstraram nenhuma alteração. Ainda no préoperatório a paciente assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Walter Cantídio (CAAE: 50728421.5.0000.5045).

O procedimento foi realizado em 15 de dezembro de 2021. Devido à queixa principal da paciente em relação às pálpebras, iniciamos seu tratamento com blefaroplastia superior e inferior, sendo retiradas elipses de pele e de bolsões gordurosos, reposicionamento das glândulas lacrimais associado à cantopexia, sem cantotomia e sem cantólise, para melhor posicionamento do ângulo cantal, refixando o seguimento inferior do tendão cantal lateral mais internamente no rebordo orbitário próximo de sua inserção.

No período pós-operatório, paciente retornou ao ambulatório de cirurgia plástica do serviço no 7° dia para retirada de pontos da síntese da pele. Manteve-se o acompanhamento periódico desde então. Foi observado resultado satisfatório para a cirurgia proposta, identificando-se adequada correção das alterações existentes, a saber: dermatocálase importante associada a prolapso das glândulas lacrimais, bem como do ângulo cantal negativo ([Figura 2]).

Zoom Image
Figura 2 Pós-operatório de blefaroplastia superior com cantopexia.

A paciente evoluiu sem complicações pós-operatórias, mostrando-se bastante satisfeita com o resultado obtido. A mesma segue em acompanhamento no serviço de cirurgia plástica do Hospital Universitário Walter Cantídio com propostas futuras de ritidoplastia, avanço de mento ou prótese mentual e otoplastia.


#

DISCUSSÃO

Cútis laxa é uma doença genética que causa flacidez e redundância da pele, deixando um aspecto envelhecido nesses pacientes. As alterações ocasionadas pela doença podem levar a isolamento social, à dificuldade de interação e ao agravamento de doenças psíquicas.

O planejamento terapêutico para correção das lesões deve ser individualizado e executado por cirurgiões que reconheçam as diferenças dermatológicas desses pacientes. São escassos os relatos na literatura sobre a abordagem cirúrgica das pálpebras em pacientes com cútis laxa[9] [10].

Ozsoy et al.[11] descreveram um caso de uma paciente de 20 anos com diagnóstico de cútis laxa, a qual apresentou resultado estético satisfatório com blefaroplastia superior bilateral sem excisão do tecido adiposo.

Banks et al.[12] relataram dois casos de pacientes portadores de cútis laxa, um de 44 anos e outro de 5 anos de idade, que foram submetidos a ritidoplastia com blefaroplastia para correção dos defeitos estéticos causados pela doença. Observouse um resultado aceitável no pós-operatório imediato, com boa cicatrização, porém que apresentaram recorrência da doença meses após a abordagem cirúrgica, devido ao defeito crônico no metabolismo do colágeno.


#

CONCLUSÃO

Diante do exposto, observa-se a importância da correção cirúrgica facial nos casos de cútis laxa, ressaltando a importância da aplicação de técnicas cirúrgicas adequadas e o aprimoramento das mesmas neste perfil de paciente.

Devido à multiplicidade de alterações, faz-se ainda necessário firmar para os pacientes que o tratamento nem sempre é finalizado com apenas um procedimento cirúrgico, sendo, muitas vezes, indicada abordagem dos demais defeitos em outras etapas operatórias, como proposto para a paciente do caso.


#
#

Conflitos de interesse

não há.

  • REFERENCES

  • 1 Taylor JA.. Blueprints plastic surgery. Malden: Blackwell; 2005
  • 2 Berk DR, Bentley DD, Bayliss SJ, Lind A, Urban Z.. Cutis laxa: a review. J Am Acad Dermatol 2012; 66 (05) 842.e1-17
  • 3 Dantas SG, Trope BM, de Magalhães TC, Azulay DR, Quintella DC, Ramos-E-Silva M.. Blepharochalasis: A rare presentation of cutis laxa. Actas Dermosifiliogr (Engl Ed) 2019; 110 (04) 327-329
  • 4 Beighton P, Bull JC, Edgerton MT.. Plastic surgery in cutis laxa. Br J Plast Surg 1970; 23 (03) 285-290
  • 5 Jones AP, Janis JE.. Essentials of Plastic Surgery. Q&A Companion. New York: Thieme Medical Publishers; 2016
  • 6 Lessa S, Sebastiá R, Flores E.. Uma Cantopexia Simples. Rev Bras Cir Plást 1999; 14 (01) 59-70
  • 7 Cardim VLN, Bazzi K, Silva AS, Silva MG, Santos FM, Salomons RL. et al. Cantopexia e reforço tarsal com retalho de periósteo. Rev Bras Cir Plást 2013; 28 (01) 36-40
  • 8 Game J, Morlet N.. Lateral canthal fixation using an oblique vertically orientated asymmetric periosteal transposition flap. Clin Exp Ophthalmol 2007; 35 (03) 204-207
  • 9 Misani M, Fontaine S.. Cutis Laxa of the face: A case report and review of literature. J Dermatol Res Ther 2018; 4: 055
  • 10 Xue Y, Chen H, Zeng X, Jiang Y, Sun J.. Generalized acquired cutis laxa treated with facial plastic surgery. Eur J Dermatol 2011; 21 (01) 141-142
  • 11 Ozsoy Z, Gozu A, Dayicioglu D, Mete O, Buyukbabani N.. Localized cutis laxa and blepharoplasty. Dermatol Surg 2007; 33 (12) 1510-1512 , discussion 1512
  • 12 Banks ND, Redett RJ, Mofid MZ, Manson PN.. Cutis laxa: clinical experience and outcomes. Plast Reconstr Surg 2003; 111 (07) 2434-2442 , discussion 2443-4

*Autor correspondente:

José Isnack Ponte de Alencar Filho
Rua Pastor Samuel Munguba, 1290, Rodolfo Teófilo, Fortaleza, CE, Brasil, CEP: 60430-372

Publication History

Received: 12 October 2022

Accepted: 23 October 2023

Article published online:
03 April 2025

© 2025. The Author(s). This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)

Thieme Revinter Publicações Ltda.
Rua do Matoso 170, Rio de Janeiro, RJ, CEP 20270-135, Brazil

Bibliographical Record
JOSE ISNACK PONTE DE ALENCAR, JOSé ALBERTO GUILHERME FROTA-JúNIOR, GUILHERME PINHO CARDOSO, VITOR DE VASCONCELLOS MUNIZ, FERNANDO SOARES DE ALCâNTARA, SALUSTIANO GOMES DE PINHO PESSOA. Blefaroplastia com cantopexia em paciente portadora de cútis laxa: Um relato de caso. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: 217712352023rbcp0761pt.
DOI: 10.5935/2177-1235.2023RBCP0761-PT
  • REFERENCES

  • 1 Taylor JA.. Blueprints plastic surgery. Malden: Blackwell; 2005
  • 2 Berk DR, Bentley DD, Bayliss SJ, Lind A, Urban Z.. Cutis laxa: a review. J Am Acad Dermatol 2012; 66 (05) 842.e1-17
  • 3 Dantas SG, Trope BM, de Magalhães TC, Azulay DR, Quintella DC, Ramos-E-Silva M.. Blepharochalasis: A rare presentation of cutis laxa. Actas Dermosifiliogr (Engl Ed) 2019; 110 (04) 327-329
  • 4 Beighton P, Bull JC, Edgerton MT.. Plastic surgery in cutis laxa. Br J Plast Surg 1970; 23 (03) 285-290
  • 5 Jones AP, Janis JE.. Essentials of Plastic Surgery. Q&A Companion. New York: Thieme Medical Publishers; 2016
  • 6 Lessa S, Sebastiá R, Flores E.. Uma Cantopexia Simples. Rev Bras Cir Plást 1999; 14 (01) 59-70
  • 7 Cardim VLN, Bazzi K, Silva AS, Silva MG, Santos FM, Salomons RL. et al. Cantopexia e reforço tarsal com retalho de periósteo. Rev Bras Cir Plást 2013; 28 (01) 36-40
  • 8 Game J, Morlet N.. Lateral canthal fixation using an oblique vertically orientated asymmetric periosteal transposition flap. Clin Exp Ophthalmol 2007; 35 (03) 204-207
  • 9 Misani M, Fontaine S.. Cutis Laxa of the face: A case report and review of literature. J Dermatol Res Ther 2018; 4: 055
  • 10 Xue Y, Chen H, Zeng X, Jiang Y, Sun J.. Generalized acquired cutis laxa treated with facial plastic surgery. Eur J Dermatol 2011; 21 (01) 141-142
  • 11 Ozsoy Z, Gozu A, Dayicioglu D, Mete O, Buyukbabani N.. Localized cutis laxa and blepharoplasty. Dermatol Surg 2007; 33 (12) 1510-1512 , discussion 1512
  • 12 Banks ND, Redett RJ, Mofid MZ, Manson PN.. Cutis laxa: clinical experience and outcomes. Plast Reconstr Surg 2003; 111 (07) 2434-2442 , discussion 2443-4

Zoom Image
Figura 1 Paciente portadora de cútis laxa no pré-operatório.
Zoom Image
Figura 2 Pós-operatório de blefaroplastia superior com cantopexia.
Zoom Image
Figure 1 Patient with lax skin in the pre-operative period.
Zoom Image
Figure 2 Postoperative period of upper blepharoplasty with canthopexy.