Palavras-chave cicatrização - isquemia - lesões do manguito rotador - recidiva - técnicas de sutura
Introdução
O conhecimento da anatomia do manguito rotador é acompanhado pela evolução das técnicas
de reparo das lesões que nele ocorrem.[1 ]−[3 ] Tais técnicas almejam: promover melhor estabilidade biomecânica do reparo, maximizar
o contato entre o tendão e o leito ósseo, e permitir uma distribuição uniforme de
tensão, o que proporciona um ambiente favorável à cicatrização.[4 ]
[5 ]
Uma das configurações consagradas de sutura da lesão do manguito rotador (LMR) é a
fileira dupla, em que uma ou mais âncoras são colocadas adjacentes à cartilagem articular
e as outras, lateralmente. Esta configuração, descrita inicialmente por Lo e Burkhart,[6 ] não interliga a fileira medial à lateral; consequentemente, não há compressão do
tendão contra o leito ósseo,[7 ]
[8 ] e isso pode comprometer a cicatrização.[2 ]
[3 ]
[8 ]
[9 ]
Diversas modificações dessa técnica foram desenvolvidas com o objetivo de pressionar
toda a área mobilizada do tendão à sua zona de inserção.[1 ]
[2 ]
[5 ] Essas alterações foram chamadas de sutura “transóssea equivalente”, pois os fios
de sutura das âncoras da fileira medial são posicionados sobre a superfície bursal
do tendão e, em seguida são tensionados, aproximando-os ao osso, e, então, interligados
às âncoras da fileira lateral.
Concomitantemente a essa evolução, tem se teorizado sobre a importância do suprimento
sanguíneo para o manguito rotador após o seu reparo.[10 ] Com o auxílio de angiograma e fluxometria por Doppler-laser, compreendem-se cada
vez mais a sua vascularização e fluxo sanguíneo. Apesar da rica rede de anastomose
arterial na região muscular, a região tendínea mostra-se mais delicada e predisposta
a lesão e hipofluxo, havendo até corredores avasculares.[10 ]
[11 ] A partir destas observações, podemos inferir que uma sutura como a Suture Bridge
(SB; Arthrex, Naples, FL, Estados Unidos),[12 ] na qual os fios que interligam as fileiras se cruzam, pode comprometer a vascularização
do tendão e sua cicatrização.
Buscando aprimorar o arsenal terapêutico, o objetivo deste trabalho é avaliar os resultados
clínicos pós-operatórios do reparo artroscópico das LMRs, utilizando uma configuração
de sutura desenvolvida por nós e a partir de uma modificação da SB. Detalharemos neste
artigo tal modificação, denominada Suture Bridge modificada (SBM).
Casuística e Métodos
Realizamos a cirurgia em posição de “cadeira de praia”, sob anestesia geral associada
a bloqueio anestésico interescalênico. A primeira etapa é a inspeção artroscópica
da articulação, seguida da abordagem do espaço subacromial. Após exploração da lesão,
são feitas as mobilizações dos tendões e a cruentização do leito ósseo no tubérculo
maior, e, então, repara-se a lesão.
A técnica consiste no uso de pelo menos um ponto de fixação medial, com uma âncora
carregada com dois fios na margem articular associada à fixação lateral com uma única
âncora de interferência.
Em caso de lesões pequenas e em algumas médias com acometimento apenas do tendão supraespinal,
utiliza-se apenas uma âncora medial convencional carregada com dois fios, o que totaliza
quatro pontas de fio. Todas as pontas transfixam o tendão no sentido da face articular
para a bursal, e, então, são dispostas paralelamente às fibras do tendão e entre si.
As pontas centrais são suturadas e formam um ponto de colchoeiro central, o que resulta
na aproximação da face articular do tendão ao osso subjacente, ao passo que as pontas
periféricas são deixadas livres. Em seguida, as quatro pontas de fio são tracionadas
e fixadas na face lateral do tubérculo maior por meio de uma âncora sem fio (de interferência),
o que gera um ponto de fixação lateral ([Figura 1 ]).
Fig. 1
Suture Bridge modificada (SBM) com uma âncora medial. Exemplo ilustrativo da configuração da técnica
de SBM para lesões pequenas e médias.
Nas lesões médias e grandes com acometimento de mais de um tendão, emprega-se técnica
similar, e se repetem duas vezes a mesma configuração, com duas âncoras mediais convencionais
carregadas com dois fios cada uma, que totalizam dois grupos com quatro pontas de
fio cada. Há apenas uma modificação a ser feita: após a realização dos pontos de colchoeiro
centrais, uma das pontas é desprezada, de tal modo que as seis pontas de fio remanescentes
(três de cada grupo) serão tracionadas até o ponto de fixação lateral. As pontas desprezadas
são cortadas, pois na âncora de interferência lateral só há espaço para seis pontas
de fio ([Figura 2 ]).
Fig. 2
Suture Bridge modificada (SBM) com duas âncoras mediais. Exemplo ilustrativo da configuração da
técnica de Suture Bridge modificada para lesões médias e grandes.
Todos os pacientes seguiram regimes de reabilitação similares. Os ombros foram imobilizados
com tipoia funcional por quatro a seis semanas, e, então, manteve-se apenas o acompanhamento
fisioterapêutico até que se completassem seis meses de reabilitação.
Entre janeiro de 2016 e fevereiro de 2019, foram operados 71 pacientes, 5 com ombros
bilaterais, num total de 76 ombros, os quais foram submetidos a tratamento cirúrgico
artroscópico por SBM, executada pelos autores.
Desses, foram incluídos os pacientes com LMRs completas pequenas, médias e grandes,
segundo a classificação de DeOrio e Cofield,[13 ] com acometimento do tendão do supra e/ou infraespinal, com ou sem lesão associada
do cabo longo do bíceps, submetidos à cirurgia exclusivamente primária por SBM, e
com seguimento mínimo de um ano e meio. Os critérios de exclusão foram: acometimento
dos demais tendões do manguito rotador e cirurgia prévia no ombro avaliado. Foram
excluídos 3 pacientes devido à presença de lesão do tendão do músculo subescapular,
e a amostra final totalizou 68 pacientes (73 ombros).
Deste total, 28 eram do gênero masculino (41,2%) e 40, do feminino (58,8%). A média
de idade foi de 60 anos, com variação de 44 a 81 anos. Antes dos procedimentos cirúrgicos,
os pacientes apresentavam média de movimento de elevação de 119° (variação: 30° a
140° ), 44° (variação: 10° a 60° ) de rotação lateral, e T12 (variação: trocânter
a T7) de rotação medial ([Tabela 1 ]).
Tabela 1
CasoS
Gênero
Trauma
EL pré e pós-op
RL pré e pós-op
RM pré e pós-op
N° de tendões acometidos
N° de âncoras (medial/lateral)
UCLA pós-op
1
F
140/140
60/90
T12/T7
1
1/1
35
2
M
140/140
60/60
T12/L3
1
1/1
35
3
F
140 /140
60/70
T7/T7
1
1/1
35
4
M
80/120
60/60
GLÚT/T10
1
1/1
35
5
F
80 /120
60/60
GLÚT/L4
1
1/1
35
6
F
+
80/130
40/60
GLÚT/T7
1
1/1
35
7
F
+
130 /130
60/60
T10/T7
1
1/1
35
8
M
130 /130
60/60
T12/T7
1
1/1
35
9
M
+
140 /140
60/60
T7/T7
1
1/1
35
10
M
+
140/140
60/65
T7/T7
1
1/1
35
11
M
+
140/140
60/70
T12/T8
1
1/1
35
12
F
80/120
10/60
GLÚT/L3
1
1/1
32
13
F
+
80/130
60/65
TROC/T7
1
1/2
35
14
M
80/130
60/70
TROC/T8
1
1/1
35
15
F
130/130
60/65
T12/T7
1
1/1
35
16
M
130/140
60/45
T12/T8
1
1/1
35
17
M
130/130
50/60
T10/T9
1
1/1
35
18
F
130/135
60/60
T10/T9
1
1/1
35
19
F
80/120
50/50
TROC/L4
1
1/1
27
20
M
80/110
50/50
TROC/L3
1
1/1
27
21
F
130/130
60/60
T9/T7
1
1/1
34
22
M
110/140
60/60
T9/T9
1
1/1
35
23
M
+
120/140
60/60
T10/T7
1
1/1
35
24
M
+
80/110
40/60
GLÚT/T12
2
1/2
32
25
F
30/140
40/60
T12/T12
1
1/1
35
26
F
+
130/140
40/70
T12/L2
1
1/1
35
27
F
+
60/130
50/60
T10/L1
1
1/1
35
28
F
140/140
60/60
T7/T9
1
1/1
35
29
F
130/140
30/60
T12/T7
2
1/2
35
30
M
120/140
40/60
T12/T10
2
1/2
35
31
M
+
120/140
30/60
T12/T10
2
1/2
35
32
M
130/140
40/60
T12/T7
1
1/1
35
33
M
120/140
30/60
T12/T7
1
1/1
34
34
M
+
130/140
60/60
T12/T7
2
1/2
34
35
F
130/140
60/60
T12/T10
2
1/1
35
36
M
130/140
30/60
T12/T10
1
1/1
34
37
M
120/140
30/60
T12/T10
2
1/2
34
38
F
110/130
30/50
T10/T10
2
1/2
35
39
M
+
110/140
20/60
L1/L1
2
1/1
35
40
M
+
60/130
20/60
T12/T10
1
1/1
34
41
F
+
120/120
30/40
T12/T12
2
1/1
30
42
F
130/140
20/70
L1/L1
2
1/1
34
43
F
130/130
40/50
T12/T12
2
1/2
34
44
F
100/140
30/60
T12/T8
1
1/1
35
45
F
130/130
40/50
T12/T9
1
1/1
35
46
F
120/140
40/60
T12/T12
2
1/2
35
47
F
+
130/140
40/60
T12/T12
2
1/2
35
48
F
130/130
50/60
T12/T7
2
1/2
33
49
F
70/110
20/50
T12/L1
2
1/2
30
50
M
120/140
60/60
T9/T7
2
1/2
35
51
M
130/130
40/40
T12/T10
2
1/2
35
52
M
120/140
40/60
T12/T12
2
1/1
35
53
F
120/140
30/60
T12/T12
1
1/1
35
54
F
120/130
30/50
T12/T12
1
1/2
35
55
F
120/130
40/60
T12/T12
1
1/1
34
56
F
130/140
30/60
T12/T9
2
1/2
35
57
F
130/140
40/60
T10/T9
1
1/1
35
58
F
130/140
40/60
T12/T7
2
1/1
35
59
F
130/130
40/60
T12/T9
1
1/1
35
60
F
120/140
30/70
T12/T7
2
1/2
35
61
F
+
120/120
30/50
T12/L3
1
1/1
27
62
M
130/130
40/45
T12/L4
1
1/1
27
63
F
140/140
60/70
T12/T9
1
1/1
35
64
F
140/140
60/60
T9/T9
1
1/1
35
65
F
140/140
60/60
T7/T7
1
1/1
35
66
F
+
120/140
40/60
T12/T10
1
1/1
35
67
F
130/130
60/50
T9/T10
2
1/1
35
68
F
130/130
60/40
T9/L2
2
1/2
32
69
F
130/140
30/60
T12/L2
1
1/1
32
70
F
120/130
30/60
T12/L2
2
1/2
35
71
M
+
120/140
30/60
T12/T9
2
1/2
35
72
M
+
120/130
30/40
T7/T7
2
1/2
35
73
M
120/130
30/40
T12/T10
2
1/2
32
No pós-operatório 13 ombros (17,8%) apresentavam pseudoparesia do manguito rotador,[14 ] com média de 72° (variação: 30° a 80°) de elevação, 43° (variação: 10° a 60°) de
rotação lateral, e L5 (variação: trocânter a T10) de rotação medial ([Tabela 2 ]).
Tabela 2
Pré-operatório
Pós-operatório
EL
RL
RM
EL
RL
RM
Casos
4
80
60
GLÚT
120
60
T10
5
80
60
GLÚT
120
60
L4
6
80
40
GLÚT
130
60
T7
12
80
10
GLÚT
120
60
L3
13
80
60
TROC
130
65
T7
14
80
60
TROC
130
70
T8
19
80
50
TROC
120
50
L4
20
80
50
TROC
110
50
L3
24
80
40
GLÚT
110
60
T12
25
30
40
T12
140
60
T12
27
60
50
T10
130
60
L1
40
60
20
T12
130
60
T10
49
70
20
T12
110
50
L1
Em 48 casos (65,8%), utilizamos 2 âncoras (1 medial e 1 lateral), conforme a [Figura 1 ], e, em 25 casos (34,2%), 3 âncoras (2 mediais e 1lateral) ([Figura 2 ]).
Os pacientes foram divididos em dois grupos conforme a etiologia da LMR; o grupo I
consistiu dos pacientes de etiologia traumática, e o grupo II, degenerativa; eles
foram reavaliados segundo a Escala de Ombro da University of California, Los Angeles
(UCLA), modificada[15 ] ([Figura 3 ]). As amplitudes de movimento (ADMs) ativas foram registradas no pré-operatório e
comparadas aos valores registrados no pós-operatório, de acordo os parâmetros da American
Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS). No grupo I, houve 4 lesões pequenas, 10 médias,
e 6 grandes; já no grupo II, foram observadas 6 lesões pequenas, 30 médias, e 17 grandes.
Fig. 3 Estratificação dos pacientes e casos segundo grupo etiológico e gênero.
Para análise estatística, todos os dados foram avaliados por meio do programa Minitab
(Minitab, LLC, State College, PA, Estados Unidos), versão 19. As informações obtidas
foram comparadas por meio do teste exato de Fisher e do teste do qui-quadrado (p < 0,05).
Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ensino e Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz (CAAE: 26308719.0.0000.0070).
Resultados
A ADM média no pós-operatório foi: elevação de 134° (variação: 110° a 140°), rotação
lateral de 58° (variação: 40° a 70°) e rotação medial de T10 (variação: L4 a T7).
Houve ganho de movimento em todas as direções na maioria dos ombros operados ([Tabela 1 ]). O aumento médio de elevação foi de 15°, o de rotação lateral, de 14°, e o de rotação
medial, de 2 níveis vertebrais.
Em relação aos grupos, no de etiologia traumática (grupo I), um paciente foi submetido
a cirurgia em vigência de capsulite adesiva. Na avaliação final, esse grupo apresentou
aumento médio da elevação ativa de 21°, ganho médio de rotação lateral de 10,5°, e
ganho médio de rotação medial de 2 níveis vertebrais. A média na Escala de ombro da
UCLA foi de 32,4 pontos (variação: 27 a 35 pontos). No grupo II, de etiologia degenerativa,
um paciente foi submetido a cirurgia em vigência de capsulite adesiva, assim como
outros dois, que a desenvolveram depois. Esse grupo teve aumento médio da elevação
ativa de 13,4°, ganho médio de rotação lateral de 13,1°, e ganho médio de rotação
medial de 2 níveis vertebrais. A média na Escala de Ombro da UCLA foi de 34,7 pontos
(variação: 27 a 35 pontos). Comparando-os, não houve diferença estatística entre os
grupos com relação ao gênero (p = 0,101), à idade (p = 0,450), ou ao tamanho da lesão (p = 0,300). Além disso, tampouco houve correlação entre a etiologia e os ganhos nos
diferentes movimentos: elevação (p = 0,363), rotação lateral (p = 0,324), e rotação medial (p = 0,134), conforme a [Tabela 3 ].
Tabela 3
Grupo I – etiologia traumática
Grupo II – etiologia degenerativa
p
EL
21
13,4
0,363
RL
10,5
13,1
0,324
RM
2
2
0,134
UCLA
32,4
34,7
0,839
Não houve correlação estatisticamente significativa entre a pontuação final na Escala
de Ombro da UCLA e as seguintes variáveis: tamanho da lesão (p = 0,452), gênero (p = 0,256), número de âncoras utilizadas (p = 0,163), etiologia (p = 0,839), e faixa etária no momento da cirurgia (p = 1). Tampouco houve correlação estatística entre a faixa etária e o tamanho da lesão
(p = 0,941).
Houve correlação estatística significativa entre o tamanho da lesão e a quantidade
de âncoras utilizadas (p < 0,005). Nas 23 lesões grandes, foram utilizadas 3 âncoras; nas 10 pequenas, 2 âncoras;
já em relação às 40 médias, 2 casos (2,7%) foram tratados com 3 âncoras, ao passo
que as 38 restantes (52,1%), com 2 âncoras.
Discussão
A técnica de SB é um reparo que propicia resistência suficiente para a manutenção
da sutura e da cicatrização tendínea.[1 ]
[3 ]
[5 ]
[8 ]
[9 ] Todavia, tal sutura pode predispor à redução do fluxo sanguíneo do tendão, uma vez
que os fios não sejam dispostos em paralelo às suas fibras, desrespeitando a microvascularização.[2 ]
[3 ]
[10 ]
[11 ] Com o intuito de preservar a biologia do tendão e acreditando-se que a cicatrização
esteja diretamente relacionada à vascularização do manguito rotador, modificamos a
SB de modo a obter a resistência fornecida por este tipo de reparo, sem criar áreas
de isquemia em regiões com perfusão já fragilizada. Desse modo, nossa sutura visa
manter corredores vasculares que preservam o fluxo sanguíneo, que progride de medial
para lateral[16 ] ([Figura 4 ]).
Fig. 4 Fluxo sanguíneo após o reparo tendíneo. Imagem esquemática que mostra (A ) manguito rotador reparado com técnica de Suture Bridge (linhas azuis) e regiões de isquemia delimitadas pelas áreas em vermelho; (B ) manguito rotador reparado com técnica SBM (linhas azuis) com corredores vasculares
e fluxo sanguíneo preservados (setas vermelhas).
Em uma revisão sistemática, Hein et al.[8 ] avaliaram as taxas de rerrotura comparando 3 técnicas, e encontraram um total de
26% de falhas para fileira simples, 21% para fileira dupla, e 21% para SB. Esse estudo[8 ] incluiu 2.048 ombros, e os autores mostraram que, em números absolutos, a fileira
dupla apresentou menos casos de complicação do que a SB nas lesões pequenas, médias
e grandes. No entanto, as taxas de rerrotura foram menores na SB apenas nas lesões
extensas. Segundo Bedeir et al.[17 ], caso não haja mobilidade tendínea adequada nas lesões extensas, a lesão não é reduzida
anatomicamente à sua zona de inserção, mesmo submetendo o coto tendíneo a tração exagerada.
Por outro lado, nas lesões menores, o reparo é possível mesmo com a soltura inadequada,
mantendo-se o tecido tensionado a cargas suprafisiológicas e reinserindo-o no osso,
o que predispõe a uma construção pouco biológica e pode causar maior isquemia.[2 ]
[17 ] Já do ponto de vista clínico, numa meta-análise, Ren et al.[18 ] demonstraram superioridade na pontuação da Escala de Ombro da UCLA nos pacientes
submetidos ao reparo com SB em comparação aos reparados com fileira dupla.
Assim como os ótimos resultados funcionais encontrados na literatura em relação à
SB,[18 ]−[21 ] os pacientes incluídos neste trabalho apresentaram excelente evolução no aspecto
clínico (Escala de Ombro da UCLA = 34 pontos), com ganho de ADM em comparação ao pré-operatório,
tanto em lesões traumáticas quanto degenerativas. Tal resultado também é descrito
na literatura para outros tipos de reparo. Abechain et al.[22 ] compararam os resultados clínicos após reparo artroscópico entre dois grupos, de
lesões traumáticas e não traumáticas, avaliaram pacientes com idades similares às
dos nossos (grupo traumático: média de idade 59 anos; grupo não traumático: média
de 59,5 anos), e obtiveram resultados semelhantes em ambos os grupos, independentemente
de sua etiologia, assim como observado neste estudo.
Também verificamos resultados satisfatórios nos pacientes que apresentavam pseudoparesia
previamente à abordagem cirúrgica, com reversão em todos os casos. Com resultado similar
em um estudo prévio, Miyazaki et al.[19 ] avaliaram a evolução de pacientes com LMRs grandes e extensas, associadas a pseudoparesia,
submetidos a reparo artroscópico. Foi observada melhora funcional na quase totalidade
dos pacientes operados (37 de 38 pacientes). Desse modo, podemos inferir que a SBM
também é uma sutura estável e resistente, que proporciona resultados similares aos
de outros reparos já descritos.[19 ]
Podemos dizer que, como evolução desfavorável, houve 4 pacientes com resultado funcional
regular (Escala de Ombro da UCLA = 27 pontos). Dois destes pacientes foram submetidos
a cirurgia em vigência de capsulite adesiva, e outros dois desenvolveram-na após o
procedimento. Todos apresentavam lesões médias, e foram submetidos a reparo com duas
âncoras ([Figura 1 ]). Os casos operados em vigência de capsulite adesiva foram submetidos a capsulotomias
anterior e inferior, e, assim como os demais casos que desenvolveram a doença no decorrer
da evolução após a cirurgia, foram submetidos a bloqueio anestésico do nervo supraescapular
a cada 14 dias subsequentemente, no decorrer de 5 meses a 1 ano (média de 7,75 meses).
Apesar da pontuação de 27 na Escala de Ombro da UCLA, ao final da série de bloqueios
anestésicos, todos apresentaram pontuação de 35. A capsulite adesiva foi apenas uma
intercorrência do tratamento, que felizmente não interferiu negativamente nem na função
final dos pacientes, nem na sutura em si.
Não faz parte da nossa rotina ambulatorial pós-operatória solicitar exames de imagem,
como a ressonância magnética. No entanto, com o intuito de saber se houve ou não adesão
do tendão à sua zona de inserção, solicitamos de forma aleatória esse método de imagem
em seis casos, e verificamos em todos eles a ocorrência da cicatrização e integração
tendínea no osso, assim como da manutenção da SBM ([Figura 5 ]).
Fig. 5 Cicatrização do tendão no osso. Imagens de ressonância magnética do ombro direito
do paciente número 51; (A ) imagem pré-operatória em coronal ponderada em T2, que mostra lesão tendinosa (seta
vermelha); (B ) imagem em coronal ponderada em T2, 18 meses após a cirurgia, que mostra cicatrização
da lesão (seta vermelha).
Apesar dos resultados promissores com baixo número de complicações, ausência de rerroturas
e melhora funcional da quase totalidade dos pacientes, temos que ponderar os seguintes
fatores como falhas em nosso trabalho: casuística pequena, seguimento curto, e ausência
de grupo de controle.
Conclusão
Os resultados clínicos pós-operatórios do reparo artroscópico de LMRs pela técnica
de SBM foram excelentes e bons na maioria (94,5%) dos casos, quando avaliados pela
Escala de Ombro da UCLA após 1 ano e meio de acompanhamento.