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Introdução A colite de derivação fecal (CDF) é um processo inflamatório assintomático que ocorre
no segmento colorretal desfuncionalizado após cirurgias de desvio do trânsito intestinal,
como a colostomia ou ileostomia. Entretanto, cerca de 30% dos pacientes podem apresentar
a forma sintomática da CDF, com evacuação mucossanguinolenta, tenesmo e desconforto
abdominal. A reconstituição do trânsito fecal é o tratamento mais eficaz para a CDF,
mas entre 30% e 40% dos pacientes não têm esta reconstituição, e desenvolve a enfermidade.
Para a maioria, empregam-se os tratamentos conservadores, como a aplicação de corticoides
e enemas contendo ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) ou 5-aminossalicílico, mas
que cursam com eficácia variável. O transplante de microbiota fecal (TMF) tem sido
utilizado para o tratamento da CDF, e demonstrou resultados promissores.
Objetivo Verificar os benefícios do TMF no tratamento da CDF.
Materiais e Métodos Pesquisa na base de dados PubMed (por artigos publicados de 2016 a 2022), tendo sido
incluídos 14 artigos de revisão.
Resultados A CDF sintomática pode se desenvolver em 3 a 36 semanas após a interrupção do trânsito
intestinal, e não apresenta predileção por sexo, idade, tipo de estoma ou cirurgia
realizada. Sua fisiopatologia inclui modificações na flora bacteriana, deficiência
nutricional local e aumento da produção de espécies reativas de oxigênio pelas células
da mucosa cólica, decorrente da falta de AGCCs. O tratamento preconizado, como o uso
de enemas com AGCCs, demonstrou resultados inconsistentes. O uso de corticoides pode
ocasionar a atrofia da mucosa e, no longo prazo, osteoporose, retenção hidroeletrolítica
e imunossupressão. O TMF foi aprovado pelo FDA em 2013 para tratar infecções refratárias
por C. difficile e, na colite ulcerativa, como estratégia adjuvante, por ser uma opção segura, sem
contraindicações, e por apresentar poucos efeitos adversos. Os sintomas clínicos da
CDF melhoram após 5 dias do início do tratamento e a melhora endoscópica é observada
após 28 dias, com boa regressão do processo inflamatório nos segmentos exclusos de
trânsito. O principal risco do tratamento relaciona-se à possibilidade de transmissão
de outros agentes infecciosos quando a seleção dos doadores não é realizada com rigor;
por isso, o transplante autólogo parece a opção mais segura.
Conclusão O TMF demonstrou eficácia e segurança; entretanto, devido à composição altamente
dinâmica da microbiota, estudos devem observar possíveis eventos adversos em longo
prazo.