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CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2023; 58(06): e896-e904
DOI: 10.1055/s-0043-1771485
Artigo Original
Mão

Fixação de fraturas em martelo com técnica de placa de gancho modificada: Uma série de casos prospectivos de 17 pacientes[*]

Article in several languages: português | English
1   Cirurgião Ortopédico, Departamento de Ortopedia, Assiut University Hospital, Assiut, Egito
,
1   Cirurgião Ortopédico, Departamento de Ortopedia, Assiut University Hospital, Assiut, Egito
,
1   Cirurgião Ortopédico, Departamento de Ortopedia, Assiut University Hospital, Assiut, Egito
,
2   Cirurgião Ortopédico, Departamento de Ortopedia, Qena Faculty of Medicine and University Hospital, South Valley University, Qena, Egito
,
Khaled Mohamed Mostafa
1   Cirurgião Ortopédico, Departamento de Ortopedia, Assiut University Hospital, Assiut, Egito
,
Galal Zaki Said
1   Cirurgião Ortopédico, Departamento de Ortopedia, Assiut University Hospital, Assiut, Egito
› Author Affiliations

Suporte Financeiro Este estudo não recebeu apoio financeiro de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos.
 

Resumo

Objetivo Diversas modalidades têm sido sugeridas para o tratamento de fraturas em martelo; no entanto, o tratamento inadequado pode causar retardo de extensão, deformidade em pescoço de cisne ou artrite da articulação interfalangiana distal (AIFD). Este estudo teve como objetivo avaliar os desfechos (funcionais, radiológicos e complicações) da redução aberta e fixação interna (RAFI) das fraturas em martelo com placas de gancho de baixo custo fabricadas com mini placas de titânio de baixo perfil.

Métodos Série de casos prospectivos de 17 pacientes consecutivos (idade média de 32,3 anos) com fraturas em martelo (seis do tipo IB e 11 do tipo IIB de Wehbe). Onze (64,7%) pacientes eram do sexo masculino. A mão acometida era a dominante em todos os pacientes, com acometimento do dedo indicador em seis (35,3%), anelar em cinco (29,4%), mínimo em três (17,65%) e médio em três (17,65%) pacientes. O mesmo cirurgião de mão experiente realizou todas as cirurgias.

Resultados O tempo operatório médio foi de 37,65 minutos. Após um acompanhamento médio de 10,94 meses (intervalo de 6 a 27), observou-se movimento médio da AIFD de 50° (intervalo de 20° a 70°), retardo de extensão em quatro (23,5%) pacientes e complicações em seis (35,29%) pacientes. De acordo com os critérios de Crawford, os desfechos foram excelentes em seis (35,3%), bons em sete (41,2%) e regulares em quatro (23,5%) pacientes.

Conclusão A técnica da placa de gancho modificada para fixação de fraturas em martelo é benéfica e econômica, mas exigente; permite fixação estável e adequada para permitir a movimentação precoce da AIFD com desfechos funcionais aceitáveis.


Introdução

O dedo em martelo traumático é uma lesão comum que acomete o tendão extensor da articulação interfalangiana distal (AIFD)[1] e pode ser associada a uma fratura com avulsão de um fragmento ósseo de tamanho variável e fixação do tendão extensor. A lesão também conhecida como “fratura em martelo”.[2] Seu tratamento inadequado pode gerar várias complicações, inclusive retardo de extensão, deformidade em pescoço de cisne, artrite, dor e perda de função.[3] [4] De modo geral, as fraturas em martelo são tratadas de forma conservativa com órteses, como as talas de Stack ou feitas sob medida.[5] Embora não exista consenso sobre as indicações para tratamento cirúrgico, a maioria dos cirurgiões o considera caso a fratura envolva mais de um terço da superfície articular ou haja presença de subluxação articular.[6]

Muitas técnicas foram descritas para o tratamento cirúrgico de fraturas em martelo, como pinos de bloco de extensão e fixação interna com redução aberta (RAFI) usando diversos implantes, como fios, bandas de tensão, parafusos ou placas.[2] [5] [7] Nenhuma dessas técnicas se mostrou superior às demais e todas foram associadas a taxas de complicações significativas de até 54%.[7] [8] [9] Em 2007, Teoh e Lee[10] introduziram uma nova abordagem, a RAFI, para tratamento de fraturas em martelo com uma placa de gancho, com excelentes resultados. Desde então, poucos relatos foram publicados na literatura avaliando os desfechos dessa técnica e alguns questionaram a reprodução dos resultados inicialmente descritos.[11]

Este estudo teve por objetivo relatar nossa experiência inicial e os desfechos (clínicos, radiológicos e complicações) das fraturas em martelo após a RAFI com placas de gancho de baixo custo fabricadas a partir de mini placas de titânio de baixo perfil.


Métodos

Este estudo prospectivo de série de casos foi realizado em pacientes com fraturas em martelo dos dedos e tratados em uma unidade especializada em cirurgia da mão em um centro de trauma de nível 1 por um profissional especializado e experiente entre abril de 2016 e julho de 2019. O estudo incluiu pacientes esqueleticamente maduros (acima de 18 anos de idade) com fraturas em martelo recentes (atendidos até 4 semanas após a lesão) de qualquer um dos quatro dígitos ulnares e classificação de Wehbe e Schneider[12] de tipo IB e IC (fraturas envolvendo mais de um terço da superfície articular) e tipo II (fraturas associadas à subluxação palmar da falange distal) e que concordaram com a participação. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (aprovação número 17101844). Os pacientes participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os dados demográficos dos pacientes, incluindo idade e sexo, além do tipo de trauma e do tempo entre o trauma e a cirurgia, foram coletados. Radiografias simples anteroposteriores e em perfil pré-operatórias do dedo foram usadas para determinar o tamanho e o deslocamento do fragmento, a porcentagem de acometimento da superfície articular, a presença de subluxação articular e a classificação da fratura.


Técnica Cirúrgica

Sob anestesia de bloqueio digital e após a preparação do membro acometido, com uso de uma luva de borracha como torniquete, uma incisão cutânea dorsal, em forma de H, foi feita centralizada sobre a prega de extensão da AIFD (Fig. 1A). Para expor o tendão extensor e o fragmento avulsionado, um retalho cutâneo espesso foi elevado e retraído em sentido proximal e distal ([Fig. 1B]). O local da fratura foi exposto e limpo. O periósteo foi elevado distalmente ao local da fratura na superfície dorsal da falange distal, permitindo a colocação subperióstea dos componentes de fixação; isso poderia facilitar a redução da fratura e minimizar as complicações dos tecidos moles, como ruptura cutânea e deformidades ungueais ([Fig. 1C]). A placa de gancho foi preparada a partir de uma mini placa de titânio de 2,0 mm com múltiplos orifícios (Orthomed-E), classicamente utilizada em fraturas de falanges e metacarpos. A placa de gancho foi confeccionada cortando dois orifícios da placa; em seguida, um dos orifícios foi seccionado para remover um terço de sua circunferência; as extremidades do crescente restante foram dobradas para formar dois ganchos pontiagudos ([Fig. 1D]).

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Fig. 1 Técnica cirúrgica. (A): Uma incisão dorsal em forma de H é feita sobre a articulação interfalangiana distal. (B): Retalhos cutâneos espessos são elevados em sentido proximal e distal. (C): Elevação subperióstea para colocação da placa de gancho. (D): Fabricação da placa de gancho a partir de uma mini placa. (E): Colocação intraoperatória da placa de gancho, mostrando seu perfil baixo e menos proeminente (ponta de seta preta). (F): Fluoroscopia intraoperatória para verificação da posição e redução da placa (ponta de seta preta).

O fragmento avulsionado foi então reduzido e fixado com pinça. Os ganchos da placa foram ancorados no tendão, tracionando o fragmento ósseo e mantendo-o na posição reduzida com a AIFD em extensão total. A placa foi posicionada na superfície dorsal da falange distal. Uma broca de 1,5 mm foi usada para criar o orifício para o parafuso perpendicular à superfície dorsal e um parafuso de 2,0 mm foi inserido. O parafuso bicortical comercial é melhor para obter uma boa fixação ([Fig. 1E]). Imagens intraoperatórias com arco em C verificaram a redução da fratura, a correção da subluxação e a colocação e o comprimento do parafuso. A estabilidade da fixação foi avaliada em uma imagem lateral com leve flexão da AIFD (F[ig. 1F]).


Protocolos de Reabilitação Pós-Operatória e Acompanhamento

Uma tala de extensão temporária de alumínio é incluída no curativo pós-operatório e substituída por uma tala de Stack no dia seguinte. O paciente é instruído a remover a tala por 10 minutos a cada hora para fazer exercícios de flexão ativa da AIFD com o punho fechado nas primeiras 2 semanas; a seguir, é feita mobilização protegida por seis semanas. A tala é usada continuamente entre os exercícios por 6 semanas e apenas à noite pelos próximos 2 meses.

Os pacientes foram acompanhados no ambulatório no primeiro dia, às 2 semanas, 6 semanas, 3 meses, 6 meses, 12 meses e, depois, anualmente após a cirurgia. Radiografias seriadas anteroposteriores e em perfil do dedo acometido foram realizadas imediatamente após o procedimento e nas consultas de acompanhamento para avaliação da consolidação da fratura e detecção de qualquer evidência de complicações ([Fig. 2]). Os desfechos funcionais foram determinados segundo os critérios de Crawford[13] ([Tabela 1]). A amplitude de movimento e o retardo de extensão da AIFD foram medidos com um goniômetro. Adotamos os critérios relatados por Teoh e Lee,[1] que consideraram a flexão ativa da AIFD de 70° como completa e de 60° ou mais como normal. O desfecho bom foi descartado por dor ou rigidez no acompanhamento final. Quaisquer complicações (no período perioperatório ou durante o acompanhamento) foram relatadas.

Tabela 1

Grau

Perda de extensão

Flexão

Dor

Excelente

Nenhum

Completa

Nenhuma

Bom

0–10

Completa

Nenhuma

Regular

10–25

Qualquer perda

Nenhuma

Mau

>25

Qualquer perda

Persistente

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Fig. 2 Paciente do sexo feminino, 35 anos, com fratura em martelo de tipo IIB de Wehbe. (A): Radiografia simples pré-operatória anteroposterior e em perfil (a ponta de seta branca indica a fratura). (B): Imagens clínicas e fluoroscópicas intraoperatórias mostrando a redução da fratura e o posicionamento da placa. (C e D): Radiografias de acompanhamento de 6 meses e 1 ano, respectivamente, mostrando a consolidação da fratura e a manutenção da posição da placa.

Resultados

A [Tabela 2] mostra os detalhes da coorte. A idade média dos pacientes foi de 32,3 anos (intervalo de 18 a 50). Em todos os pacientes, a mão afetada foi a dominante. O dedo acometido foi o indicador em seis (35,3%), o anelar em cinco (29,5%), o mínimo em três (17,6%) e o médio em 3 (17,6%) pacientes.

Tabela 2

N° do paciente

Idade

Sexo

Dedo

Mão dominante

Modo de Trauma

Tempo até a cirurgia (dias)

Tempo operatório (minutos)

Subluxação

% do Fragmento articular

Tipo de Wehbe

Tempo até consolidação (semanas)

Acompanhamento (meses)

ADM final da AIFD (graus)

Escala de Crawford

Complicações

1

40

F

Médio

Não

Doméstico

10

30

Sim

60

II B

6

12

0–60

Bom

Não

2

28

M

Mínimo

Sim

Doméstico

11

25

Sim

50

II B

6

12

0–70

Excelente

Não

3

35

M

Médio

Sim

AT

12

40

Não

35

I B

7

27

20–40

Regular

Infecção precoce

4

23

M

Anelar

Sim

Esporte

13

30

Não

40

I B

6

24

0–70

Bom

Deformidade das unhas

5

35

F

Médio

Sim

Doméstico

14

35

Sim

65

II B

6

6

0–60

Bom

Não

6

30

M

Indicador

Não

Esporte

15

35

Sim

60

II B

6

8

0–60

Bom

Não

7

35

M

Mínimo

Sim

Esporte

16

40

Não

50

I B

6

6

0–70

Excelente

Não

8

18

F

Anelar

Não

Doméstico

17

40

Sim

45

II B

6

10

0–70

Excelente

Não

9

50

M

Indicador

Sim

Lesão com maquinário

18

45

Sim

45

II B

6

10

20–40

Regular

Luxação

10

21

M

Mínimo

Sim

AT

19

40

Não

30

I B

7

8

20–40

Regular

Infecção

11

28

F

Anelar

Sim

Doméstico

20

45

Sim

50

II B

8

8

20- 40

Regular

Luxação

12

26

F

Indicador

Sim

Doméstico

21

45

Sim

40

II B

6

16

0–70

Excelente

Não

13

30

F

Anelar

Não

Doméstico

22

40

Não

55

I B

6

12

0–60

Bom

Não

14

36

M

Indicador

Sim

Esporte

23

35

Sim

40

II B

6

6

0–60

Bom

Deformidade das unhas

15

40

M

Indicador

Não

Lesão de máquina

24

30

Não

40

I B

6

6

0–60

Excelente

Não

16

24

M

Indicador

Não

Esporte

25

40

Sim

55

II B

6

8

0–70

Excelente

Não

17

50

M

Anelar

Sim

AT

26

45

Sim

55

II B

6

7

0–60

Bom

Não

A porcentagem média de acometimento da superfície articular (observado nas radiografias em perfil) foi de 47,9% (intervalo de 30 a 65%). A subluxação palmar da falange distal esteve presente em 11 (64,7%) pacientes. Em relação à classificação de Wehbe das fraturas, seis (35,3%) eram do tipo IB e 11 (64,7%) eram do tipo IIB.

O tempo médio desde a lesão até a cirurgia foi de 12,1 dias (intervalo de 1 a 20), enquanto o tempo médio desde a internação até a cirurgia foi de 6,59 horas (intervalo de 4 a 12 horas). O tempo operatório médio foi de 37,65 minutos (intervalo de 25 a 45). O tempo médio de internação foi de 8,59 horas (intervalo de 6 a 14).

Depois do acompanhamento médio de 10,94 meses (intervalo de 6 a 27), todas as fraturas apresentaram consolidação radiográfica, detectada na 6ª semana pós-operatória, com congruência da AIFD. A amplitude ativa média de movimento da AIFD foi de 50° (intervalo de 20° a 70°). O retardo de extensão foi observado em quatro (23,5%) pacientes e seu valor médio foi de 3° (intervalo de 0° a 20°). De acordo com os critérios de Crawford, os desfechos foram excelentes em seis (35,3%), bons em sete 7 (41,2%) e regulares em quatro (23,5%) pacientes. Nenhum desfecho mau foi registrado neste estudo.

Seis (35,29%) pacientes apresentaram complicações. Dois pacientes tiveram nova luxação da fratura com deformidade persistente devido ao movimento passivo vigoroso precoce da AIFD nas primeiras 2 semanas pós-operatórias e foram submetidos à revisão da fixação. No entanto, ambos relataram amplitude de movimento limitada na última consulta de acompanhamento e seus desfechos foram classificados como regulares de acordo com a escala de Crawford. Dois pacientes apresentaram infecção pós-operatória, um após 1 semana e o outro após 3 meses. Os dois foram tratados com desbridamento e remoção do componente metálico; na última consulta de acompanhamento, ambos apresentavam amplitude de movimento limitada, retardo de extensão e desfecho regular na escala de Crawford. Seis (35,3%) pacientes (incluindo os quatro pacientes anteriores) apresentaram deformidades ungueais que melhoraram após 1 ano de acompanhamento. Vale ressaltar que a proeminência dorsal da placa foi uma queixa de alguns pacientes no período pós-operatório imediato; essa queixa, porém, foi resolvida de forma espontânea, sem necessidade de intervenção específica, e não afetou os desfechos funcionais. Nenhum dos pacientes apresentou dor residual na última consulta de acompanhamento.

A remoção dos componentes de fixação não foi feita de forma rotineira nesta série. As indicações para remoção foram a ocorrência de alguma complicação ou deformidade ungueal ou o pedido do paciente. Doze dos 17 pacientes foram submetidos à remoção dos componentes de fixação.


Discussão

O tratamento ideal das fraturas em martelo ainda é controverso;[6] no entanto, a maioria dos cirurgiões concorda que o manejo inadequado de tais lesões pode levar a problemas do mecanismo extensor, como retardo de extensão ou deformidade em pescoço de cisne, ou ainda artrite da AIFD com subsequente prejuízo funcional.[3] [10] [12] Embora o tratamento conservador tenha ótimos resultados, é amplamente aceito que uma fratura intra-articular com acometimento de mais de um terço da superfície articular ou subluxação da AIFD é uma indicação para intervenção cirúrgica.[1] [2] [7]

Apesar do desenvolvimento de várias técnicas para o tratamento cirúrgico, incluindo percutâneas e abertas. e diferentes métodos de fixação, como fios, suturas, placas e parafusos, nenhuma foi isenta de complicações.[6] [7]

Muitos cirurgiões relataram o uso de fios; quatro técnicas diferentes de fixação com diversas formas de configurações (fio K, fio em forma de oito, fio de banda de tensão e sutura de banda de tensão) foram comparadas em um estudo biomecânico de Damron et al.[14] Esses autores observaram que os construtos com bandas de tensão eram superiores a outras formas de fixação. A pinagem em bloco de extensão introduzida por Ishiguro et al.[15] e depois modificada por outros autores é uma técnica bastante adotada por muitos cirurgiões de mão.[15] [16] [17] [18] Porém, pode ter desfechos ruins e causar complicações, como perda de redução, migração de pinos, migração de fios e retardo de movimento devido a fios transarticulares.[9] [10] [19] Além disso, foi relatado que a RAFI com um mini parafuso tem taxas de complicações mais altas do que as técnicas de fixação percutânea com fios.[20]

Para evitar as complicações mencionadas acima, Teoh e Lee[10] introduziram, em 2007, uma nova técnica de fixação com placa de gancho para dar fixação interna estável ao utilizar a superioridade biomecânica do método de banda de tensão com um implante estável ancorado longe do fragmento fraturado. Esses autores relataram desfechos excelentes em sua série de nove pacientes com acompanhamento médio de 17 meses; seus pacientes alcançaram flexão ativa média da AIFD de 64°, sem retardo de extensão ou complicações, e todos apresentaram desfechos excelentes ou bons na escala de Crawford.[10] Nosso estudo adotou a mesma técnica descrita por Teoh e Lee, mas usamos uma incisão em forma de H em vez de uma incisão dorsal transversal. Todos os nossos pacientes foram operados sob anestesia de bloqueio digital e receberam alta no mesmo dia da cirurgia. Nosso estudo é uma coorte prospectiva com 17 pacientes, o que acreditamos ser um número considerável. Embora tenhamos operado mais pacientes do que Teoh e Lee neste estudo e todos tenham apresentado consolidação da fratura, nossos resultados foram relativamente menos ótimos do que os antes relatados. Nossos resultados estão de acordo com os estudos publicados sobre a mesma técnica, com flexão ativa média da AIFD de 50°, retardo de extensão em 23,5% de pacientes com valor médio de 3°. A taxa de desfechos excelentes e bons na escala de Crawford foi de 76,5% e a taxa de complicações foi de 35,3%.

Desde a introdução das técnicas de placa de gancho, poucos estudos relataram seus desfechos. Em alguns, o número de pacientes foi maior, com até 35 dedos. Todos tiveram resultados variáveis, que foram abaixo do ideal em comparação aos relatados por Teoh e Lee[11] [19] [21] [22] [23] ([Tabela 3]).

Tabela 3

Estudo

Ano

N° de pacientes

Tempo médio até a cirurgia em dias (intervalo)

Tempo operatório (minutos)

Acompanhamento (meses)

Faixa de flexão ativa da AIFD

Retardo de extensão

Escala de Crawford

Complicações

N° de pacientes

Grau

Teo & Lee [10]

2007

9

18 (6–30)

17 (6–37)

64° (60–70°)

0

Excelente 4 (44,4%)

Bom 5 (55,6%)

Nenhum

Acar et al. [19]

2015

13

1,6 (1–3)

46 (36–54)

18 (12–26)

64° (50–70°)

5 (38,5%)

4° (0–10°)

Excelente 8 (61,5%)

Bom 5 (38,5%)

3 (23,1%) deformidades ungueais

Toker et al. [22]

2015

6

12 (1–38)

13 (3–26)

80°

4 (66,7%)

6° (5–10°)

Excelente 2 (33,3%)

Bom 2 (33,3%)

Feira 2 (33,3%)

1 (16,7%) necrose cutânea e retardo de cicatrização

Imoto et al. [21]

2016

25

18

7 (28%)

Excelente 10 (40%)

Bom 15 (60%)

4 (16%) dor crônica

Thirumalai et al. [23]

2017

35

40°

10 (28,6%)

11 (31,4%) total

6 (17,1%) deformidades ungueais

5 (14,3%) extrusões de placas

Tie et al. [11]

2017

31

7 (0–40)

8 (1–34)

56° (30–80°)

0

Excelente 9 (29%)

Bom 8 (25,8%)

Feira 12 (38,7%)

Ruim 2 (6,5%)

7 (22,6%) total

1 (3,2%) deformidade da unha

3 (9,7%) necrose cutânea

3 (9,7%) nova luxação da fratura

Este estudo

2022

17

12,1 (1–20)

38 (25–45)

11 (6–27)

50° (20–70°)

4 (23,5%)

3° (0–20°)

Excelente 6 (35,3%)

Bom 7 (41,2%)

Feira 4 (23,5%)

6* (35,3%) total

2 (11,8%) necrose de pele e infecção

2 (11,8%) nova luxação da fratura

6 (35,3%) deformidades ungueais

A vantagem teórica proposta pela técnica da placa de gancho foi superar algumas das complicações de sua técnica predecessora, a fixação com fios em bloco de extensão, que incluía principalmente consolidação viciosa, diminuição da amplitude de movimento e osteoartrite.[19] [24] Embora a placa de gancho permita uma amplitude de movimento precoce, não houve superioridade real nesse parâmetro, pois a fixação em bloco de extensão forneceu uma boa amplitude de movimento da AIFD, de 72° segundo Lucchina et al.,[20] e de 83° de acordo com Lee et al.[25] Em dois estudos comparativos retrospectivos de Acar et al.[19] e Toker et al.[22] que comparavam os desfechos da pinagem em bloco de extensão e da fixação com placa de gancho, não houve diferença significativa entre os dois grupos em relação à amplitude de movimento e os desfechos funcionais. Porém, a técnica de bloqueio com fio apresentou maior tempo de uso da fluoroscopia, retardo na consolidação óssea e maior tempo de retorno ao trabalho.[19]

Toker et al.[22] realizaram uma análise de custo e mostraram que a técnica da placa de gancho era sete vezes mais cara do que o uso da pinagem em bloco de extensão. Este estudo utilizou uma placa de gancho de 0,6 mm (Medartis; Basel, Suíça) que custa cerca de U$ 420, o que corresponde a mais de dois terços dos custos totais incorridos. Em nosso estudo, adotamos a técnica idealizada por Teoh e Lee, utilizando uma placa confeccionada a partir de uma mini placa com orifícios múltiplos que pode ser cortada em placas menores de orifício único. Cada uma pode ser usada em um paciente, o que reduz substancialmente o custo. Usamos uma placa produzida localmente para esse fim, o que fez com que o custo de uma placa e um parafuso fosse de cerca de US$ 20 por paciente. Vale ressaltar que o menor tempo operatório, o menor uso de fluoroscopia intraoperatória, o menor tempo de internação e a maior velocidade de consolidação e o retorno ao trabalho devem ser considerados ao determinar a análise real de custos e benefícios do uso das placas de gancho.

Este estudo tem algumas limitações; primeiro, foi um estudo de coorte não comparativo e, assim, não pudemos comparar os desfechos dessa técnica com outras modalidades de tratamento de fraturas em martelo. Em segundo lugar, um número relativamente baixo de pacientes foi incluído. Por fim, o curto período de acompanhamento impediu uma conclusão confiável sobre as prováveis complicações em longo prazo, como osteoartrite da AIFD.


Conclusão

A técnica de placa de gancho fabricada para redução aberta e fixação interna de fraturas em martelo é relativamente exigente, mas benéfica e barata. Acredita-se que forneça fixação estável adequada, permita a movimentação precoce da AIFD e tenha desfechos funcionais e radiológicos aceitável. Estudos controlados randomizados de bom delineamento experimental são encorajados para comparar os desfechos dessa técnica com outras metodologias populares para avaliação de sua superioridade e segurança.



Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

* Estudo desenvolvido no Departamento de Ortopedia do Hospital Universitário de Assiut, Assiut, Egito.



Endereço para correspondência

Ahmed A. Khalifa, M.D., FRCS, MSc.
Departamento de Ortopedia, Qena University Hospital, South Valley University
Kilo 6 Qena-Safaga Highway, Qena, Egypt 83523

Publication History

Received: 09 August 2022

Accepted: 07 February 2023

Article published online:
24 October 2023

© 2023. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution-NonDerivative-NonCommercial License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit. Contents may not be used for commercial purposes, or adapted, remixed, transformed or built upon. (https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/)

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Fig. 1 Técnica cirúrgica. (A): Uma incisão dorsal em forma de H é feita sobre a articulação interfalangiana distal. (B): Retalhos cutâneos espessos são elevados em sentido proximal e distal. (C): Elevação subperióstea para colocação da placa de gancho. (D): Fabricação da placa de gancho a partir de uma mini placa. (E): Colocação intraoperatória da placa de gancho, mostrando seu perfil baixo e menos proeminente (ponta de seta preta). (F): Fluoroscopia intraoperatória para verificação da posição e redução da placa (ponta de seta preta).
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Fig. 1 Surgical technique, (A): A dorsal H-shaped incision is made over the distal interphalangeal joint. (B): Thick skin flaps are raised proximally and distally. (C): Sub-periosteal elevation for placement of the hook plate. (D): Hook plate fabrication from a mini plate. (E): Intraoperative placement of the hook plate showing its low profile and less prominence (black arrowhead). (F): intraoperative fluoroscopy to check plate position and reduction (black arrowhead).
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Fig. 2 Paciente do sexo feminino, 35 anos, com fratura em martelo de tipo IIB de Wehbe. (A): Radiografia simples pré-operatória anteroposterior e em perfil (a ponta de seta branca indica a fratura). (B): Imagens clínicas e fluoroscópicas intraoperatórias mostrando a redução da fratura e o posicionamento da placa. (C e D): Radiografias de acompanhamento de 6 meses e 1 ano, respectivamente, mostrando a consolidação da fratura e a manutenção da posição da placa.
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Fig. 2 Female patient, 35 years old, presented with mallet fracture Wehbe Type II B, (A): preoperative anteroposterior and lateral plain radiograph (fracture indicated by white arrowhead). (B): intraoperative clinical and fluoroscopic images showing fracture reduction and plate position. (C and D): six months and one year follow up radiographs respectively, showing fracture healing and maintained plate position.