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DOI: 10.1055/s-0035-1571172
Metástase hipofisária de adenocarcinoma mamário: relato de caso
Pituitary Metastasis of Mammary Adenocarcinoma: A Case ReportAddress for correspondence
Publication History
21 July 2014
28 August 2015
Publication Date:
13 January 2016 (online)
Resumo
Somente 1% de todas as cirurgias hipofisárias são realizadas para tratar tumores metastáticos desta região. Os focos primários mais comuns são respectivamente mama e pulmão. Neste artigo, descrevemos uma paciente com antecedente de adenocarcinoma mamário, que se apresenta com paralisia oculomotora súbita à direita. O objetivo do trabalho é descrever um caso de metástase mamária para a região selar, evidenciando dados clínicos e radiológicos que tornam tal diagnóstico plausível.
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Abstract
Only 1% of all pituitary surgeries are performed to treat metastatic tumors in this region. The most common primary sites are breast and lung respectively. In this article we describe a patient with previous breast adenocarcinoma presenting with oculomotor palsy sudden right. The objective is to describe a case of breast metastasis to the sellar region, showing clinical and radiological findings that make this plausible diagnosis.
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Introdução
A região da sela túrcica pode ser acometida por uma variedade de lesões, incluindo benignas e malignas. O diagnóstico diferencial abrange adenomas hipofisários (cerca de 90% dos casos), lesões inflamatórias, vasculares e tumores não hipofisários. As lesões metastáticas desta região são incomuns, ocorrendo em apenas 1% das ressecções da pituitária[1] e 0,14 a 24% de todas as metástases cerebrais em séries de autópsia.[2] [3]
Provavelmente em decorrência do aumento de sobrevida e aperfeiçoamento dos exames de imagem, a frequência destas lesões tem aumentado nas últimas décadas.[4] Câncer de mama e pulmão são as neoplasias metastáticas mais comuns para essa região, seguidos de próstata, células renais, trato gastrointestinal, linfomas, tireoide e plasmocitoma, muitas vezes já fazendo parte de uma disseminação generalizada, associada a outros sítios.[5] Essas lesões localizam-se principalmente na hipófise posterior, provavelmente em decorrência da intensa vascularização desta região, porém podem ocorrer na hipófise anterior, sendo predominante nesta topografia a metástase mamária, devido ao tropismo hormonal destes tumors.[8] Têm crescimento rápido e progressivo, provocando destruição óssea e invasão de estruturas adjacentes.[6] [7]
Descreveremos o caso de uma mulher, branca, de 56 anos, com história de mastectomia, radioterapia e quimioterapia adjuvante em 2013, devido a adenocarcinoma invasivo de mama, que apresentou paralisia completa do terceiro nervo craniano direito, 9 meses após a cirurgia.
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Relato de Caso
Paciente de 56 anos, sexo feminino, com diagnóstico de adenocarcinoma mucinoso de mama esquerda, estágio IIIB, submetida, em outro serviço, à mastectomia e linfadenectomia, recebendo posteriormente tratamento com quimioterapia, radioterapia e hormonoterapia (anastrozol). Apresentou-se, 9 meses após mastectomia, com história de ptose palpebral à direita, associada à diplopia de aparecimento súbito havia 15 dias. Ao exame neurológico, apresentava anisocoria direita, associada à paresia de reto medial direito e ptose palpebral. Negou diminuição de acuidade visual. Exames de outros aparelhos sem alterações.
Foi submetida inicialmente à tomografia contrastada de crânio, que evidenciou aumento volumétrico da glândula hipofisária, com destruição do arcabouço selar predominante à direita. A ressonância magnética (RM) de sela túrcica evidenciou lesão adeno-hipofisária, com contornos lobulados, de aproximadamente 1,2 cm no seu maior diâmetro, com aspecto ovoide, realce heterogêneo ao gadolínio, com íntimo contato com o seio cavernoso direito, sem extensão suprasselar ou compressão quiasmática ([Figs. 1], [2] and [3]). A RM de crânio não evidenciou nenhuma outra lesão encefálica, e a cintilografia não mostrou disseminação óssea.
Os exames laboratoriais mostravam: prolactina, 18 ng/dL (valor de referência [VR] = 3-20); cortisol matutino, 20,4 (VR = 6,7-22); hormônio de crescimento, 0,31 (VR < 3,5); somatomedina, 144 (VR = 81-225); T4 livre, 1,20 (VR = 0,54-1,24); e hormônio tireotrópico, 0,67 (VR = 0,34-5,6). Hemograma e eletrólitos sem alterações.
Optou-se, então, por acesso à lesão via transesfenoidal com técnica endoscópica. No intraoperatório, foi observada lesão de coloração castanha-clara, de consistência firme. A ressecção lesional foi subtotal, devido ao íntimo contato com o seio cavernoso direito. Não houve intercorrências durante o procedimento ou durante o pós-operatório, e a paciente recebeu alta 3 dias após a cirurgia.
Retornou ao ambulatório após 7 dias, sem novas queixas, apresentando melhora da anisocoria, porém persistência do estrabismo e da ptose palpebral.
O exame anatomopatológico e perfil imuno-histoquímico foram compatíveis com foco metastático de adenocarcinoma mucinoso de mama. A paciente foi encaminhada à oncologia, onde foi indicado tratamento radioterápico adjuvante da sela túrcica.
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Discussão
Tumores metastáticos da glândula pituitária são complicações incomuns[9] (cerca de 1 a 3,6% dos tumores malignos)[8] e representam 0,14 a 28,1% das metástases cerebrais.[2] [3] Na literatura, as neoplasias mais associadas ocorrem na mama e no pulmão, correspondendo respectivamente a 30-47% e 19-30% dos casos.[8] [9]
A maioria das metástases se localiza na hipófise posterior (neuro-hipófise), e somente 13%, na hipófise anterior (adeno-hipófise). Isso provavelmente ocorre devido ao aporte arterial direto da hipófise posterior (artéria hipofisária) e vascularização via sistema portal da hipófise anterior.[10] Nos casos de acometimento da adeno-hipófise, deve-se suspeitar de origem mamária, provavelmente devido à afinidade hormonal desse tipo de lesão.[8]
A maioria das apresentações é assintomática, havendo sinais e sintomas em apenas 7% dos casos.[2] Devido à topografia mais comum, é frequente a ocorrência de diabetes insípido rapidamente progressiva, associada ou não a déficits de pares cranianos, sendo os últimos geralmente associados à compressão quiasmática ou invasão do seio cavernoso.[11]
Não foram definidos, ainda, critérios específicos ou sensíveis que permitam a diferenciação do adenoma. As poucas características de imagem incluem: espessamento da haste hipofisária, perda do hiperssinal da hipófise posterior, isointensidade de sinal de T1 e T2, invasão do seio cavernoso e mudança esclerótica em torno da sela túrcica.[9] [10] [11] [12]
Frente às dificuldades para diferenciação radiológica ou laboratorial, a história clínica do paciente com evolução de sintomas neurológicos e hormonais rapidamente progressivos, somada a algumas características radiológicas, torna-se importante para a elaboração da hipótese diagnóstica.[12]
Múltiplas modalidades de tratamento existem para esse tipo de lesão, incluindo ressecção cirúrgica, quimioterapia e radioterapia.[13] Devido à raridade e apresentação, geralmente, em estágio final de doença metastática, não existem estudos, que comprovem a melhor forma de tratamento.[8] Devido à invasão de estruturas nobres adjacentes e à alta vascularização destes tipos de tumor, a ressecção total, na maioria dos casos, é inviável.[14] Atualmente, existe uma discussão quanto à radioterapia adjuvante, havendo dúvidas se a irradiação deve ser feita somente na região selar, ou em todo o crânio.[8]
Geralmente, quando é feito o diagnóstico de metástase nesta topografia, a doença já se encontra em estágio avançado, o que confere um prognóstico ruim para estes pacientes. Não foram encontrados estudos que comprovem a melhora da sobrevida com a abordagem cirúrgica, apesar da evidente melhora de sintomas compressivos. A sobrevida gira em torno de 6 a 22 meses, independentemente da indicação cirúrgica.[14]
No caso relatado, uma mulher de 56 anos, com história de câncer de mama se apresenta com paralisia súbita de oculomotor direito. A ressonância mostra lesão adeno-hipofisária e invasão do seio cavernoso ipsilateral. Frente a estes achados, a hipótese de metástase selar, apesar de infrequente, torna-se claramente plausível.
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Conclusão
As metástases para a região selar são raras. Porém, devem ser consideradas como diagnóstico diferencial, principalmente em pacientes idosos, com história de malignidade ou com sintomas rapidamente progressivos de diabetes insípido e paralisia de nervos cranianos relacionados ao seio cavernoso.
Apesar do prognóstico pobre, devido à gravidade da doença sistêmica, o tratamento adequado pode aliviar os sintomas progressivos e melhorar a qualidade de vida do paciente.
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Referências
- 1 McCormick PC, Post KD, Kandji AD, Hays AP. Metastatic carcinoma to the pituitary gland. Br J Neurosurg 1989; 3 (1) 71-79
- 2 Sioutos P, Yen V, Arbit E. Pituitary gland metastases. Ann Surg Oncol 1996; 3 (1) 94-99
- 3 Gsponer J, De Tribolet N, Déruaz JP , et al. Diagnosis, treatment, and outcome of pituitary tumors and other abnormal intrasellar masses. Retrospective analysis of 353 patients. Medicine (Baltimore) 1999; 78 (4) 236-269
- 4 Nelson PB, Robinson AG, Martinez AJ. Metastatic tumor of the pituitary gland. Neurosurgery 1987; 21 (6) 941-944
- 5 Chiang MF, Brock M, Patt S. Pituitary metastases. Neurochirurgia (Stuttg) 1990; 33 (4) 127-131
- 6 Melmed S. Evaluation of pituitary masses. In: De Groot LJ, Jameson L, eds. Endocrinology. 4a ed. New York: WB Saunders Company; 2001. .p.282-8.
- 7 Albrecht S, Bilbao JM, Kovacs K. Nonpituitary tumors of the sellar region. In: Melmed S, ed. The Pituitary. 2nd ed. Massachusetts: Blackwell Science Inc; 2002. .p.592-608.
- 8 Fassett DR, Couldwell WT. Metastases to the pituitary gland. Neurosurg Focus 2004; 16 (4) E8
- 9 Komninos J, Vlassopoulou V, Protopapa D , et al. Tumors metastatic to the pituitary gland: case report and literature review. J Clin Endocrinol Metab 2004; 89 (2) 574-580
- 10 Morita A, Meyer FB, Laws Jr ER. Symptomatic pituitary metastases. J Neurosurg 1998; 89 (1) 69-73
- 11 Houck WA, Olson KB, Horton J. Clinical features of tumor metastasis to the pituitary. Cancer 1970; 26 (3) 656-659
- 12 Kistler M, Pribram HW. Metastatic disease of the sella turcica. Am J Roentgenol Radium Ther Nucl Med 1975; 123 (1) 13-21
- 13 Losa M, Grasso M, Giugni E, Mortini P, Acerno S, Giovanelli M. Metastatic prostatic adenocarcinoma presenting as a pituitary mass: shrinkage of the lesion and clinical improvement with medical treatment. Prostate 1997; 32 (4) 241-245
- 14 Freda PU, Post KD. Differential diagnosis of sellar masses. Endocrinol Metab Clin North Am 1999; 28 (1) 81-117 , vi
Address for correspondence
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