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DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0835-PT
Explante de silicone: a importância da ressonância nuclear magnética das mamas no planejamento pré-operatório
Article in several languages: português | English▪ RESUMO
Introdução:
A recente preocupação sobre a segurança dos implantes de silicone tem levado muitas mulheres a buscarem a retirada de seus implantes, mesmo sem aparente complicação nas mamas. Por outro lado, muitos cirurgiões não se sentem confortáveis em realizar o explante por receio de que a paciente não gostará do resultado estético após a cirurgia. A ressonância nuclear magnética (RNM) é um recurso valioso para avaliação diagnóstica das mamas e pode ser usada no planejamento do explante. O objetivo é demonstrar como a análise sistematizada das imagens da ressonância magnética das mamas pode auxiliar no planejamento do explante de silicone.
Método:
Uma análise detalhada dos cortes axial e sagital da RNM foi feita para avaliar a quantidade de tecido em cada mama. Essas imagens foram apresentadas às pacientes durante a consulta pré-operatória para que elas pudessem perceber, com clareza, o quanto o implante influencia no tamanho de suas mamas. No mesmo momento, foram apresentadas fotos de pós-operatório de pacientes com características semelhantes para que a paciente pudesse analisar, de forma mais objetiva, se ficaria satisfeita ou não com a estética das mamas após o explante.
Resultados:
As pacientes demonstraram alto grau de compreensão das imagens apresentadas e se mostraram satisfeitas com esta análise detalhada de expectativa de resultado.
Conclusão:
A comparação das imagens da RNM das mamas e das imagens de resultados de pós-operatório confere maior objetividade ao diálogo pré-operatório, favorecendo a compreensão do resultado esperado e trazendo maior clareza à decisão pelo explante.
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Descritores:
Implante mamário - Doenças mamárias - Cuidados pré-operatórios - Imageamento por ressonância magnética - Elastômeros de siliconeINTRODUÇÃO
A recente preocupação sobre a segurança dos implantes de silicone tem levado muitas mulheres a buscar a retirada de seus implantes, mesmo sem haver ruptura, contratura ou qualquer outra complicação nas mamas[1] [2] [3].
Desde a sua criação, os implantes de silicone já passaram por vários momentos de discussão sobre sua segurança[1] [4] [5]. Atualmente, as redes sociais trouxeram maior facilidade de compartilhamento de informações entre as pacientes[2] [4].
Quando pessoas públicas retiram seus implantes e compartilham suas angústias nas redes sociais, essas angústias se disseminam rapidamente e suas seguidoras começam a se perguntar se seus implantes também estariam comprometendo sua qualidade de vida[2] [3].
Publicações sobre o linfoma anaplásico de células gigantes (BIA-ALCL) e a crescente crença em doenças de difícil diagnóstico, como a síndrome ASIA e a doença do silicone, têm gerado receio nas pacientes com implantes de silicone[3] [4] [5]. Além disso, o uso de implantes de grandes volumes nos últimos anos tem ocasionado ptose precoce e insatisfação estética mesmo em pós-operatórios relativamente recentes.
Por todos esses motivos, muitas mulheres têm desejado retirar seus implantes, mesmo que isso signifique que suas mamas possam deixar de agradá-las esteticamente.
Por outro lado, muitos cirurgiões não se sentem confortáveis em realizar o explante em função da falta de comprovação científica sobre as possíveis inseguranças dos implantes associado ao receio de que a paciente não gostará do resultado estético após a retirada dos implantes3.
A ressonância nuclear magnética (RNM) é um recurso valioso para avaliação diagnóstica das mamas. Apresenta alta sensibilidade para identificar alterações oncológicas do tecido mamário e é capaz de mostrar alterações dos implantes e da cápsula peri-implante[6] [7].
Para realização do exame, a paciente é posicionada de bruços e as imagens são captadas em cortes axial, sagital e coronal, preferencialmente com uso de contraste (para avaliação da saúde do tecido mamário)[6].
A análise cuidadosa dos cortes axial e sagital permite ao cirurgião constatar se existem áreas de adelgaçamento do tecido mamário (com propensão à depressão após a retirada dos implantes), assimetria mamária, diferença de posicionamento dos implantes, além de mostrar alterações do implante.
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OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é demonstrar como a análise sistematizada das imagens da ressonância magnética das mamas pode auxiliar no planejamento do explante de silicone, facilitando a comunicação entre cirurgião e paciente, tornando a decisão pelo explante mais consciente e favorecendo a chance de satisfação no pósoperatório.
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MÉTODO
A autora tem utilizado este recurso no planejamento pré-operatório de pacientes com intenção de realizar o explante desde novembro de 2020, em São Paulo, SP.
As pacientes não mostraram resistência em realizar a ressonância, mesmo em se tratando de um exame desconfortável e dispendioso. Uma análise dos cortes axial e sagital da RNM foi feita para avaliar a quantidade de tecido em cada mama. Essas imagens foram apresentadas às pacientes durante a consulta pré-operatória para que elas pudessem perceber, com clareza, o quanto o implante influencia no tamanho de suas mamas.
No mesmo momento, foram apresentadas fotos de pós-operatório de pacientes com características semelhantes (tamanho e plano de colocação dos implantes, biotipo, peso, altura, técnica utilizada na reconstrução pós-explante) para que a paciente pudesse analisar, de forma mais objetiva, se ficaria satisfeita ou não com a estética das mamas após o explante.
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RESULTADOS
As pacientes demonstraram alto grau de compreensão das imagens apresentadas, tanto das RNM como das fotos de resultados de outras pacientes, escolhidas por semelhança com o caso em análise.
Independentemente de ter decidido seguir ou não com o explante, todas as pacientes se mostraram mais seguras com sua escolha após esta previsão individualizada de resultado pós-explante.
Todas aquelas que optaram por seguir com o explante consideraram o resultado coerente à expectativa alinhada no pré-operatório ([Figura 1A-F]).


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DISCUSSÃO
Quando a paciente começa a cogitar retirar definitivamente seus implantes, surge a insegurança quanto ao possível aspecto estético das mamas após a cirurgia. O medo de um mau resultado é alimentado por médicos, amigos e familiares, mas, mesmo assim, muitas pacientes seguem seu desejo de explantar buscando os benefícios de evitar cirurgias futuras e possíveis complicações relacionadas à presença de um corpo estranho no organismo.
Não raro, o resultado estético é insatisfatório, pois a paciente idealizava uma mama semelhante à que tinha antes do implante, porém a distorção do tecido mamário e a distensão da pele são inevitáveis.
Como em qualquer cirurgia plástica, alinhar a expectativa de resultado é fundamental para a satisfação da paciente e analisar a imagem da RNM das mamas em conjunto com fotos de pós-operatório de outras pacientes torna esse diálogo mais inteligível.
É importante deixar claro que não se trata de uma promessa de resultado, mas sim de uma ferramenta para facilitar a comunicação entre cirurgião e paciente e para documentar as características da relação mama/implante antes do explante.
Para não haver erros de interpretação da quantidade de tecido em cada mama, é importante comparar imagens de RNM respeitando o plano de colocação do implante, pois a expansão do tecido mamário é maior quando o implante está retroglandular do que quando está retropeitoral.
Vale ressaltar que, para que sejam coerentes, as comparações devem ser feitas entre casos semelhantes. Por isso, é necessário organizar um banco de imagens com dados dos implantes (tamanho, formato, plano de colocação) e das pacientes (peso, altura, técnica utilizada na reconstrução pós-explante) para tornar as análises mais confiáveis e reprodutíveis.
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CONCLUSÃO
Inúmeros fatores podem levar a paciente a buscar o explante, mas, independentemente da motivação, não podemos deixar de nos preocupar com a capacidade emocional da paciente de viver bem com sua nova autoimagem após a retirada dos implantes.
A comparação das imagens da RNM das mamas e das imagens de resultados de pós-operatório traz informações valiosas para o alinhamento de expectativa da paciente que busca retirar seus implantes, pois confere maior objetividade ao diálogo pré-operatório, favorecendo a compreensão do resultado esperado e trazendo maior clareza à decisão pelo explante.
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Conflitos de interesse:
não há.
Instituição: Instituto de Cirurgia Plástica Santa Cruz, São Paulo, SP, Brasil.
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REFERÊNCIAS
- 1 Calobrace MB. Elective Implant Removal and Replacement in Asymptomatic Aesthetic Patients with Textured Devices. Plast Reconstr Surg 2021; 147 (5S): 14S-23S
- 2 Magnusson MR, Cooter RD, Rakhorst H, McGuire PA, Adams Jr WP. Deva AK. Breast Implant Illness: A Way Forward. Plast Reconstr Surg 2019; 143 (3S): 74S-81S
- 3 Tanna N, Calobrace MB, Clemens MW, Hammond DC, Nahabedian MY, Rohrich RJ. et al. Not All Breast Explants Are Equal: Contemporary Strategies in Breast Explantation Surgery. Plast Reconstr Surg 2021; 147 (04) 808-818
- 4 Rohrich RJ, Bellamy JL, Alleyne B. Assessing Long-Term Outcomes in Breast Implant Illness: The Missing Link? A Systematic Review. Plast Reconstr Surg 2022; 149 (04) 638e-45e
- 5 Rohrich RJ, Kaplan J, Dayan E. Silicone Implant Illness: Science versus Myth?. Plast Reconstr Surg 2019; 144 (01) 98-109
- 6 Rossi AJRE, Kluthcovsky ACGC, Mansani FP. Comparison between magnetic resonance imaging and ultrasonography as the best examination to measure malignant breast tumors in surgical planning. Mastology 2018; 28 (03) 176-181
- 7 Schmitt W, Coelho JM, Lopes J, Marques JC. O Papel da Radiologia na Monitorização das Complicações Relacionadas com as Próteses Mamárias. Acta Radiol Port 2018; 30 (01) 23-34
*Autor correspondente:
Publication History
Received: 27 June 2023
Accepted: 05 December 2023
Article published online:
20 May 2025
© 2024. The Author(s). This is an open access article published by Thieme under the terms of the Creative Commons Attribution 4.0 International License, permitting copying and reproduction so long as the original work is given appropriate credit (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)
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PATRICIA JACKELINE MACIEL, LUAN AGUIAR FERRETTI, JESSICA SIERRA FERRAZ DE CAMPOS, BARBARA VALENCA PEREIRA CONDE. Explante de silicone: a importância da ressonância nuclear magnética das mamas no planejamento pré-operatório. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: 217712352024rbcp0835pt.
DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0835-PT
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REFERÊNCIAS
- 1 Calobrace MB. Elective Implant Removal and Replacement in Asymptomatic Aesthetic Patients with Textured Devices. Plast Reconstr Surg 2021; 147 (5S): 14S-23S
- 2 Magnusson MR, Cooter RD, Rakhorst H, McGuire PA, Adams Jr WP. Deva AK. Breast Implant Illness: A Way Forward. Plast Reconstr Surg 2019; 143 (3S): 74S-81S
- 3 Tanna N, Calobrace MB, Clemens MW, Hammond DC, Nahabedian MY, Rohrich RJ. et al. Not All Breast Explants Are Equal: Contemporary Strategies in Breast Explantation Surgery. Plast Reconstr Surg 2021; 147 (04) 808-818
- 4 Rohrich RJ, Bellamy JL, Alleyne B. Assessing Long-Term Outcomes in Breast Implant Illness: The Missing Link? A Systematic Review. Plast Reconstr Surg 2022; 149 (04) 638e-45e
- 5 Rohrich RJ, Kaplan J, Dayan E. Silicone Implant Illness: Science versus Myth?. Plast Reconstr Surg 2019; 144 (01) 98-109
- 6 Rossi AJRE, Kluthcovsky ACGC, Mansani FP. Comparison between magnetic resonance imaging and ultrasonography as the best examination to measure malignant breast tumors in surgical planning. Mastology 2018; 28 (03) 176-181
- 7 Schmitt W, Coelho JM, Lopes J, Marques JC. O Papel da Radiologia na Monitorização das Complicações Relacionadas com as Próteses Mamárias. Acta Radiol Port 2018; 30 (01) 23-34



