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CC BY 4.0 · Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39(02): 217712352024rbcp0807pt
DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0807-PT
Artigo Original

Percepção tátil e visual no aumento de radix com cartilagem fragmentada livre na rinoplastia

Artikel in mehreren Sprachen: português | English
1   CRER - Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação, Goiânia, GO, Brasil.
2   Instituto Arruda Cirurgia Plástica, Goiânia, GO, Brasil.
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▪ RESUMO

Introdução:

A correção da relação radix dorso nasal é realizada há vários anos utilizando as mais variadas técnicas como enxerto de cartilagem auricular, septal ou costal, preenchimento com ácido hialurônico, uso de fáscia e enxertos e uso de cartilagem picada em cubo, silicone e ácido hialurônico. O uso de cartilagem fragmentada é descrito na literatura e tem ganhado adeptos nos últimos anos, pela facilidade em ser realizado. O objetivo neste estudo é descrever nossa experiência com a utilização do enxerto de cartilagem fragmentado no aumento do radix comparando a percepção visual e tátil do paciente e sua satisfação.

Método:

Estudo observacional em pacientes submetidos a rinoplastia no período de janeiro 2018 a junho de 2022, em cirurgias nas quais ocorreu o aumento de radix com o uso de enxerto de cartilagem picada.

Resultados:

Dos 47 pacientes, a maioria era do sexo feminino (35, 74,4%), com média de idade de 34,6 anos (18-44). Quanto ao tipo de pele, Fitzpatrick tipo 3 (n=28, 59,5%) foi o principal, sendo encontrado frequentemente pacientes com pele de média espessura (n=23, 48,9%). Complicações presentes foram infecção (1 caso), migração de cartilagem picada (3 casos), e reabsorção parcial (1 caso). Na avaliação da percepção tátil 42 pacientes (89,3%) percebiam, à palpação, as proeminências cartilaginosas e na visual apenas 2 (4%). A satisfação foi elevada em 45 (96%) pacientes.

Conclusão:

A cartilagem picada livre pode ser utilizada na região do radix com resultados satisfatórios.


INTRODUÇÃO

A correção da relação radix dorso nasal é realizada há vários anos utilizando as mais variadas técnicas como enxerto de cartilagem auricular, septal ou costal, preenchimento com ácido hialurônico, uso de fáscia e enxertos e uso de cartilagem picada em cubo, silicone e ácido hialurônico[1] [2] [3] [4].

A utilização de cartilagem picada na região dorsal teve início logo após a Segunda Guerra Mundial com os trabalhos de Gordon & Warren[1] e Peer[2]. Logo depois deste período, a dificuldade em se estabelecer critérios seguros diminuindo complicações locais resultou na pouca utilização deste recurso e somente na década de 1990 a técnica foi retomada pelos trabalhos de Erol[3] [4] [5], com o “Turkish delight”, e a reprodução por Guerrerosantos et al.[6] e Daniel & Calvert[7].

Com a possibilidade da reprodutibilidade da técnica descrita em vários estudos[8] [9] [10] [11] [12] [13] [14], há a descrição da cartilagem picada com colocação em planos na superfície nasal, através do uso ou não de fáscia muscular.

O enxerto de cartilagem é comumente utilizado no aumento de dorso nasal, seja como cartilagem íntegra, seja com a cartilagem picada. A região do radix é uma das principais beneficiadas com o uso de cartilagem nesta região, o que permite um dorso com maior harmonia e beleza visual. Segundo McKinney & Sweis[15], a altura ideal do radix é de três quartos do comprimento nasal ou da projeção nasal. Segundo Taş[13], a utilização de enxerto de cartilagem picada na região dorsal é uma maneira de estabelecer um dorso belo e suave.


OBJETIVO

Neste estudo analisamos a utilização do enxerto de cartilagem picada no aumento da altura do radix nasal. O uso de cartilagem fragmentada é descrito na literatura e tem ganhado adeptos desta técnica nos últimos anos. O objetivo é descrever nossa experiência com a utilização do enxerto de cartilagem fragmentado no aumento do dorso comparando a percepção visual e tátil com a satisfação do paciente.


MÉTODO

O estudo foi realizado em pacientes submetidos a rinoplastia no período de janeiro 2018 a junho de 2022, no Hospital Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo, em Goiânia, GO, em cirurgias nas quais ocorreu o aumento de radix com o uso de enxerto de cartilagem picada, sendo os pacientes avaliados com 6 meses de pós-operatório.

Como critérios de exclusão foram estabelecidos pacientes menores de 18 anos, com comorbidades reumatológicas, doenças que destroem a cartilagem como leishmaniose, hanseníase e granulomatose de Wegener.

O estudo foi aprovado por comissão de ética interna do hospital e plataforma Brasil CAEE 30798120.6.0000.5082 e os dados foram tabulados em Excel 23 (Microsoft®), sendo coletadas as seguintes informações: idade, sexo, classificação de Fitzpatrick, espessura da pele, origem do enxerto, complicações, percepção tátil ao enxerto e percepção visual do enxerto e satisfação com o resultado.


RESULTADOS

Foram estudados 47 pacientes submetidos a aumento de radix com cartilagem picada. Destes, 35 (74,4%) eram do sexo feminino e 12 (25,6%) do sexo masculino, com média de idade de 34,6 anos (18-44).

Quanto ao tipo de pele Fitzpatrick, tipo 2 (n=4, 8,5%), tipo 3 (n=28, 59,5%), tipo 4 (n=14, 29,8%) e tipo 5 (n=1, 2,2%), sendo pele fina (n=7, 14,9%), pele média (n=23, 48,9%) e pele grossa (n=17, 36,2%) ([Figuras 1] e [2]).

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Figura 1. Classificação de Fitzpatrick.
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Figura 2. Origem dos enxertos.

A origem da maioria dos enxertos foi de cartilagem septal (n=39, 83%), cartilagem costal (n=6,12,8%) e auricular (n=2, 4,2%) ([Figura 3]).

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Figura 3. Espessura da pele.

Complicações presentes foram infecção (1 caso), migração de cartilagem picada (3 casos) e reabsorção parcial (1 caso).

Na avaliação da percepção tátil 42 pacientes (89,3%) percebiam à palpação as proeminências cartilaginosas, porém isto não os incomodava ([Figura 4]).

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Figura 4. Percepção visual.

Na avaliação visual apenas 2 pacientes percebiam a irregularidade, em que foi realizada raspagem local com resolução ([Figura 5]).

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Figura 5. Percepção tátil.

Dos pacientes estudados, 45 referiram satisfação com o resultado (muito satisfeito e satisfeito) ([Figura 6]).

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Figura 6. Satisfação do paciente.

Nas Figuras de [7] [8] [9] [10] [11] [12] a [13], demonstração dos procedimento no preparo da cartilagem, sua introdução no rádix e a visualização do resultado.

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Figura 7. Cartilagem.
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Figura 8. Aplicação da cartilagem fragmentada no radix.
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Figura 9. Aferições no pré-operatório imediato.
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Figura 10. Pós-operatório imediato.
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Figura 11. Pré-operatório com rinomanômetro.
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Figura 12. Pós-operatório imediato à introdução de cartilagem no radix.
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Figura 13. Pós-operatório tardio: 1 ano.

DISCUSSÃO

As primeiras experiências descritas por Gordon & Warren[1] serviram para validação da técnica, mostrando que a cartilagem sobrevivia ocupando o espaço em que a mesma foi inserida. A partir disto vários usos foram iniciados em hernioplastia[16], reconstrução de parede costal[17], nariz e face[18] [19] e quadril[20]. A dificuldade em reproduzir a técnica com domínio acabou deixando-a esquecida, sendo somente resgatada por Erol décadas depois.

Os trabalhos iniciais descritos por Erol utilizavam Surgicel ou fáscia para alojar os enxertos de cartilagem picada, no conhecido Turkish delight [3]. A versatilidade de tamanhos e espessura, bem como sua utilização em cirurgias primárias e secundárias permitiram a difusão desta técnica[21].

Os enxertos na região nasal fazem parte da rinoplastia moderna, sendo parte de reorganização da estruturação e da melhora da forma. A facilidade de inclusão da cartilagem picada sem a necessidade de uma fixação mais rígida como o fio de Kirschner ou parafuso facilita sua utilização e a possibilidade de moldar o dorso pela maleabilidade do enxerto é uma vantagem superior ao uso do enxerto tipo onlay.

Vidal et al.[12] descrevem a importância do uso de enxerto de cartilagem picada na relação ponto, dorso e radix, ressaltando a importância de uso de técnica adequada pelo descolamento de área restrito apenas ao volume a ser enxertado, a introdução de enxerto através de seringa 1ml com a ponta retirada e a microporagem imediata à introdução do enxerto para moldagem adequada. Em nossa experiência concordamos com estas afirmações e que podemos utilizar a seringa desenvolvida por Erol ao invés da seringa de 1ml sem prejuízo, além da possibilidade de túnel acima do periósteo ou pericôndrio para inserção das cartilagens picadas.

A percepção da irregularidade cartilagem ao tato é descrita em outros trabalhos[21] [22], porém este estudo verificou que a mesma não é perceptível visualmente e apresenta resultados interessantes. Ma et al.[23] descrevem que a fragmentação com pedaços de cartilagem inferiores a 0,5mm permite diminuir a visibilidade de irregularidades, corroborando com os resultados deste estudo.

A utilização de cartilagem onlay sobre a região do radix pode apresentar encurvamentos que distorcem a simetria da região ou mesmo na palpação serem percebidos em assimetria e mobilização. O uso de cartilagem picada apresenta percepção tátil, mas em geral sem alteração visual. Atualmente, o uso de cartilagem picada pode ser associado ao uso de plasma rico em plaquetas que cria uma estrutura contínua e unificada o que pode ser solução tanto para percepção tátil quanto para evitar a migração.

O estudo apresenta limitações como o seguimento ser apenas de 6 meses, o que pode invariavelmente no longo prazo apresentar maior índice de reabsorção local. A região estudada é limitada ao radix. Sendo estudo observacional, apresenta os vieses relacionados a sua elaboração como de seleção ou informação, bem como possível presença de fatores de confusão.


CONCLUSÃO

O estudo demonstrou que a cartilagem picada livre pode ser utilizada na região do radix com resultados satisfatórios, apresentando baixo índice de percepção visual quando comparado à percepção tátil, sem influenciar negativamente na satisfação do resultado.



Conflitos de interesse:

não há.

Instituição: Hospital Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo, Goiânia, GO, Brasil.



*Autor correspondente:

Fabiano Calixto Fortes Arruda
Rua T50 n 723 Setor Bueno Goiânia, GO, Brasil, CEP: 74215-200

Publikationsverlauf

Eingereicht: 04. April 2023

Angenommen: 05. Dezember 2023

Artikel online veröffentlicht:
20. Mai 2025

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Bibliographical Record
FABIANO CALIXTO FORTES ARRUDA. Percepção tátil e visual no aumento de radix com cartilagem fragmentada livre na rinoplastia. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: 217712352024rbcp0807pt.
DOI: 10.5935/2177-1235.2024RBCP0807-PT

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Figura 1. Classificação de Fitzpatrick.
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Figura 2. Origem dos enxertos.
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Figura 3. Espessura da pele.
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Figura 4. Percepção visual.
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Figura 5. Percepção tátil.
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Figura 6. Satisfação do paciente.
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Figura 7. Cartilagem.
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Figura 8. Aplicação da cartilagem fragmentada no radix.
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Figura 9. Aferições no pré-operatório imediato.
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Figura 10. Pós-operatório imediato.
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Figura 11. Pré-operatório com rinomanômetro.
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Figura 12. Pós-operatório imediato à introdução de cartilagem no radix.
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Figura 13. Pós-operatório tardio: 1 ano.
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Figure 1. Fitzpatrick classification.
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Figure 2. Origin of the grafts.
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Figure 3. Skin thickness.
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Figure 4. Visual perception.
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Figure 5. Tactile perception.
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Figure 6. Patient satisfaction.
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Figure 7. Cartilage.
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Figure 8. Application of fragmented cartilage to the radix.
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Figure 9. Measurements in the immediate preoperative period.
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Figure 10. Immediate post-operative period.
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Figure 11. Preoperative with rhinomanometer.
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Figure 12. Immediate postoperative period after the introduction of cartilage into the radix.
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Figure 13. Late postoperative period: 1 year.