Palavras-chave articulação do cotovelo - fios ortopédicos - fraturas distais do úmero - metanálise
- pinos ortopédicos
Introdução
As fraturas supracondilares do úmero são lesões ortopédicas pediátricas comuns e clinicamente
significativas. No entanto, sua incidência aumentou nas últimas décadas, e elas representam
entre 3% e 15% de todas as fraturas em crianças. Além disso, são as fraturas que mais
requerem tratamento cirúrgico na população pediátrica; [1 ]
[2 ] geralmente ocorrem em crianças de 5 a 7 anos e são decorrentes de acidentes, como
quedas sobre a mão estendida.[3 ]
[4 ] Dadas as características anatômicas únicas do osso pediátrico e a possibilidade
de complicações, a escolha da estratégia terapêutica mais apropriada é fundamental
para alcançar desfechos favoráveis.
A escolha entre duas técnicas cirúrgicas primárias, a redução fechada e fixação percutânea
(closed reduction and percutaneous pinning , CRPP, em inglês) e a redução aberta e fixação interna (open reduction and internal fixation ORIF, em inglês), há muito é assunto de debate e interesse clínico. Vários autores
brasileiros preferem diversos métodos de CRPP, que consiste na redução de fragmentos
ósseos fraturados sem a necessidade de incisão extensa (uma vantagem da técnica),
seguida da inserção de pinos percutâneos para a manutenção do alinhamento.[1 ]
[5 ]
[6 ] Por outro lado, a ORIF requer exposição aberta do sítio da fratura (uma desvantagem),
visualização direta e fixação com parafusos ou placas. No entanto, a ORIF tem como
vantagem a redução anatômica precisa e fixação maior, mas suas desvantagens também
incluem maior morbidade cirúrgica e hospitalização prolongada.[7 ]
O processo de tomada de decisão sobre a abordagem terapêutica ideal para fraturas
supracondilares do úmero em pacientes pediátricos é multifacetado. Faz-se necessária
uma avaliação abrangente dos fatores específicos do paciente, das características
da fratura e das evidências disponíveis. Além disso, a seleção de medidas de desfechos
apropriadas para a avaliação do sucesso do tratamento desempenha um papel crucial
na orientação das decisões clínicas.[8 ] Entre essas medidas de desfechos, dois parâmetros primários se destacam como centrais
para a avaliação da eficácia do tratamento: os critérios funcionais de Flynn e o ângulo
de Baumann.[8 ]
[9 ]
Os critérios funcionais de Flynn permitem uma avaliação abrangente da recuperação
funcional, e abrangem fatores como dor, amplitude de movimento e força. Esses critérios
são particularmente relevantes em pacientes pediátricos, pois refletem a restauração
da função do cotovelo, que é essencial para as atividades da vida diária e qualidade
de vida geral.[10 ] Enquanto isso, o ângulo de Baumann é uma medida radiológica usada para a avaliação
do alinhamento anatômico da articulação do cotovelo após a fratura. O alinhamento
anatômico adequado é essencial para minimizar complicações de longo prazo, como deformidades
cubitais em varo ou valgo.[11 ]
Embora pesquisas anteriores tenham tentado abordar o debate sobre CRPP ou ORIF, inconsistências
em delineamentos experimentais, amostras e medidas de desfechos contribuíram para
a ausência de consenso na área. Portanto, uma revisão sistemática e metanálise para
sintetizar as evidências existentes, centrada especificamente nos critérios funcionais
de Flynn e no ângulo de Baumann, é crucial. Este estudo visa dar uma visão geral abrangente
da eficácia comparativa da CRPP e da ORIF no tratamento de fraturas supracondilares
do úmero em pacientes pediátricos. Ao consolidar os dados disponíveis, pretendemos
dar elementos para a tomada de decisão clínica e contribuir para a otimização do tratamento
desta doença ortopédica pediátrica prevalente e clinicamente significativa.
Materiais e Métodos
Registro do Estudo
Este estudo foi registrado no International Prospective Register of Systematic Reviews
(PROSPERO) em 14 de fevereiro de 2024 (número de registro: CRD42024506147; disponível
em: https://www.crd.york.ac.uk/prospero/display_record.php?RecordID=506147 )
Este estudo de revisão empregou uma abordagem metanalítica e aderiu às diretrizes
da declaração Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA),
que abrange as fases de preparação, execução e relato.
Estratégia de Busca
Realizamos uma busca bibliográfica abrangente em bancos de dados eletrônicos (PubMed/MEDLINE,
ProQuest e Cochrane Library) para identificar estudos de qualidade publicados entre
2013 e 2013. Os termos de busca foram combinados com o operador OR (“OU”) e vinculados
com o operador AND (“E”). A busca inicial incluiu termos como supracondylar humerus fractures (“fraturas supracondilares do úmero”), CRPP e ORIF . A busca subsequente incluiu termos como pediatric (“pediátrico”), operative (“operatório”), Flynn's criteria (“critérios de Flynn”) e Baumann angle (“ângulo de Baumann”). Também expandimos a pesquisa ao revisar referências, revisões
e metanálises, e, então, fizemos uma busca no Google Acadêmico para explorar as citações.
Em seguida, dois dos autores (MAM e FF) também examinaram as listas de referências
dos artigos elegíveis para o possível acréscimo de artigos. Após a remoção de duplicatas,
os títulos e resumos dos estudos foram avaliados em relação aos critérios de inclusão/exclusão
predeterminados. As discrepâncias foram resolvidas por meio de discussão com um terceiro
revisor (NGGNU).
Critérios de Seleção
O estudo se centrou em crianças com fraturas supracondilares confirmadas radiograficamente
que foram submetidas a ORIF ou CRPP. Os critérios de inclusão foram estudos clínicos
conduzidos entre 2013 e 2023 que compararam ORIF e CRPP em crianças menores de 18
anos com fraturas supracondilares do úmero. Esses estudos tinham de incluir dados
originais sobre vários fatores, como tempo operatório, infecção, necrose avascular
e ausência de consolidação. Os critérios de exclusão foram casos de fraturas supracondilares
do úmero combinadas com outras fraturas, fraturas patológicas e relatos de casos,
estudos em cadáveres ou modelos e estudos biomecânicos. Um dos autores (FF) também
excluiu os estudos de revisão.
Avaliação do Risco de Viés
Dois dos autores (MAM e FF) seguiram métodos estabelecidos pela ferramenta Risk of
Bias in Non-Randomized Studies – of Interventions (ROBINS-I) para avaliar os riscos
de viés[12 ] devido a fatores de confusão, seleção de participantes ou animais usados no estudo,
classificação de intervenções, ausência de dados, medidas de desfecho e seleção dos
resultados relatados. A ferramenta também considera o manejo de dados de resultados
incompletos, o relato seletivo de desfechos e determina outros possíveis vieses.
Os riscos de viés de cada área examinada foram classificados pelos autores como “baixo”,
“alto” ou “pouco claro”, com base nas informações disponíveis. “Baixo” significa que
há uma chance mínima de que o viés possa afetar os resultados do estudo; “alto” sugere
uma chance significativa de o viés influenciar os achados; e “pouco claro” indica
a ausência de informações suficientes para decidir o nível de risco de viés.[13 ] Os autores usaram essa abordagem para avaliar de forma abrangente a qualidade dos
estudos revisados, o que aprimorou as análises e conclusões da pesquisa ao assegurar
a aplicação consistente e transparente da ferramenta ROBINS-I.
Extração de Dados
Dois dos autores (MAM e FF) extraíram meticulosamente dados pertinentes das versões
completas dos artigos incluídos. A extração de dados foi feita com uma abordagem sistemática.
Os dados pertinentes foram meticulosamente coletados, incluindo as características
principais da população, como distribuição etária, razão de sexo (masculino:feminino),
número total de indivíduos e duração do acompanhamento (em meses). Além disso, a classificação
de Gartland dos indivíduos submetidos a CRPP ou ORIF foi extraída para a avaliação
da gravidade da lesão e das abordagens terapêuticas.
Em relação às medidas de desfecho dos estudos, os autores extraíram dados relacionados
aos critérios de Flynn e avaliaram especificamente os desfechos satisfatórios da CRPP
e da ORIF. O ângulo de Baumann, um indicador crítico na avaliação da redução de fraturas,
também foi registrado em ambos os grupos de tratamento. Além disso, os valores de
p foram extraídos para quantificar a significância estatística das diferenças observadas
entre os desfechos de CRPP e ORIF. Esse meticuloso processo de extração de dados facilitou
uma análise abrangente dos achados e contribuiu para a robustez geral do estudo. Posteriormente,
os artigos selecionados foram analisados com o programa Review Manager (RevMan, The
Cochrane Collaboration, Londres, Reino Unido), versão 5.4.
Resultados
A busca bibliográfica inicial rendeu 52 estudos que poderiam ser adequados para avaliação.
Após uma revisão abrangente de títulos e resumos, 28 desses estudos foram excluídos.
Posteriormente, as versões em texto completo dos 24 estudos restantes foram obtidas,
e 18 artigos foram desqualificados. No final, 6 estudos[14 ]
[15 ]
[16 ]
[17 ]
[18 ]
[19 ] satisfizeram os critérios de inclusão desta revisão sistemática ([Fig. 1 ]).
Fig. 1 Fluxograma da declaração Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses
(PRISMA). Abreviaturas: CRPP, closed reduction and percutaneous pinning (redução fechada e fixação percutânea); ORIF, open reduction and internal fixation (redução aberta e fixação interna).
Os autores reuniram os dados dos estudos escolhidos para a comparação dos desfechos
funcionais de fraturas supracondilares no úmero de crianças após CRPP ou ORIF. Esses
estudos foram categorizados por seu nível de evidência ([Tabela 1 ]); a maioria[15 ]
[16 ]
[17 ]
[18 ]
[19 ] era estudos de coorte, e somente um estudo[14 ] era de caso-controle.
Tabela 1
Número
Estudo
Publicação
Delineamento experimental/nível de evidência
média de idade (anos)
Sexo (M:F)
Número de indivíduos
Média do tempo de acompanhamento (meses)
Classificação de Gartland
Critérios de Flynn (satisfatórios)
Média do ângulo de Baumann
CRPP
ORIF
CRPP
ORIF
CRPP
ORIF
CRPP
ORIF
CRPP
ORIF
Valor de p
CRPP
ORIF
1
Tomori et al., 2018[14 ]
Medicine (Baltimore)
Caso-controle/IV
5,4 ± 3,5
5,3 ± 2,1
10:11
6:7
CRRP: 21 ORIF: 13
7,9 ± 5,7
10,2 ± 5,3
II: 12 ; III: 9
II: 4 ; III: 9
20 (95,2%)
13 (100%)
0,83
74,9 ± 6,2
69,8 ± 3,7
2
Abousaleh et al., 2022[15 ]
Cureus
Coorte retrospectiva/III
5,21 ± 2,17
6,69 ± 4,08
14:14
1,9:1
CRRP: 28 ORIF: 32
3,64 ± 2,61
8,13 ± 11,16
−
−
26 (92,8%)
32 (100%)
0,214
68,02 ± 9,83
70,75 ± 7,17
3
Ayub et al., 2021[16 ]
Journal of Pakistan Orthopaedic Association
Coorte retrospectiva/III
6 ± 1,1
6,9 ± 3,83
21:9
18:12
CRRP: 30 ORIF: 30
12
12
III: 30
III: 30
30 (100%)
23 (76,6%)
<0,05
−
−
4
Dučić et al., 2016[17 ]
Serbian Archives of Medicine
Coorte/III
6,7 + 1,7
6,8 + 2
29:8
23:11
CRRP: 37 ORIF: 34
−
−
II: 13; IV: 24
II: 17; III: 17
37 (100%)
31 (91,1%)
0,02
−
−
5
Hossain et al., 2023[18 ]
Saudi Journal of Medical and Pharmaceutical Sciences
Coorte/III
6,5
5,9
29:14
26:11
CRRP: 43 ORIF:37
32,9 ± 12,5
29,5 ± 10,75
III: 43
III: 43
42 (97,6%)
36 (97,2%)
>0,05
−
−
6
Keskin e Sen, 2014[19 ]
Acta chirurgiae orthopaedicae et traumatologiae Cechoslovaca
Coorte/II
7,04
69: 31
CRRP: 50 ORIF:50
49,2 ± 20,5
14,12 ± 12,75
−
−
47 (94%)
45 (90%)
0,774
−
−
Os autores avaliaram o viés nos estudos escolhidos usando a ferramenta ROBINS-I. O
método para a geração de sequências aleatórias foi bem descrito e teve risco mínimo
de viés; a ocultação de alocação foi explicada por completo e teve baixo risco de
viés. O cegamento dos participantes e da equipe não foi possível devido à natureza
da intervenção, o que acarretou um maior risco de viés. No entanto, os avaliadores
dos desfechos desconheciam os tratamentos, o que resultou em baixo risco de viés.
Baixas taxas de abandono e relatos de desfechos pré-especificados sem sinais de seletividade
mantiveram o risco de viés baixo. Nenhuma outra fonte de viés foi encontrada, o que
gerou um baixo risco de viés em outras áreas. De modo geral, este estudo apresentou
risco de viés baixo, exceto pelo cegamento dos participantes e da equipe devido à
natureza da intervenção ([Tabela 2 ]).
Tabela 2
Estudo
Geração de sequência aleatória
Ocultação da alocação
Cegamento de participantes e equipe
Cegamento da avaliação de desfecho
Desfechos com dados incompletos
Relato seletivo de desfechos
Outras fontes de viés
Tomori et al., 2018[14 ]
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Abousaleh et al., 2022[15 ]
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Ayub et al., 2021[16 ]
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Dučić et al., 2016[17 ]
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Hossain et al., 2023[18 ]
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
Keskin e Sen, 2014[19 ]
Baixo
Baixo
Alto
Baixo
Baixo
Baixo
Baixo
A [Tabela 1 ] resume as principais características dos estudos selecionados com um total de 405
pacientes. Tomori et al.[14 ] (2018) dividiram 34 pacientes em grupos de CRPP e ORIF, com durações de acompanhamento
de cerca de 5,4 e 5,3 meses, respectivamente. As classificações de Gartland revelaram
diferenças entre os grupos. Abousaleh et al.[15 ] (2022) incluíram 60 pacientes nesses grupos; o grupo CRPP teve acompanhamento médio
menor, de 5,21 meses, e uma distribuição de gênero equilibrada. Ayub et al.[16 ] (2021) estudaram 60 pacientes durante 6 meses em cada grupo, e observaram diferenças
nas classificações de Gartland. Dučić et al.[17 ] (2016) incluíram 71 pacientes submetidos a CRPP ou ORIF com durações de acompanhamento
semelhantes e classificações de Gartland variadas. Hossain et al.[18 ] (2023) examinaram 80 pacientes com durações de acompanhamento variadas e foco em
fraturas do tipo III. Keskin e Sen.[19 ] (2014) estudaram 100 pacientes submetidos a CRPP e acompanhados por 7,04 meses,
mas não relataram detalhes de idade e gênero. Esses estudos coletivamente forneceram
informações relevantes sobre as abordagens terapêuticas e as características dos pacientes.
A [Tabela 1 ] resume os desfechos de várias fraturas supracondilares do úmero em pacientes pediátricos
nos estudos[14 ]
[15 ]
[16 ]
[17 ]
[18 ]
[19 ] usando os critérios de Flynn e as medidas do ângulo de Baumann. A tabela revela
que a CRPP e a ORIF geralmente apresentam altas taxas de resultados satisfatórios
com base nos critérios de Flynn. As medidas do ângulo de Baumann foram comparáveis
entre os dois métodos na maioria dos estudos, sem diferenças estatisticamente significativas.
Isso sugere a eficácia das duas abordagens em fraturas supracondilares do úmero em
pacientes pediátricos. No entanto, variações em fatores como idade, distribuição dos
pacientes por sexo, número de indivíduos e duração do acompanhamento entre os estudos
devem ser consideradas na interpretação dos resultados.
A análise em gráfico de floresta na [Fig. 2 ] dos critérios funcionais de Flynn sugere que não há diferença estatisticamente significativa
no desfecho funcional de CRPP e ORIF em fraturas supracondilares do úmero em crianças.
As estimativas de efeito agrupado, representadas pelo marcador em forma de diamante,
estão à esquerda da linha de efeito nulo, o que indica uma proporção ligeiramente
maior de desfechos satisfatórios no grupo CRPP. No entanto, o intervalo de confiança
do efeito agrupado inclui a linha de efeito nulo, o que indica que a diferença não
é estatisticamente significativa.
Fig. 2 Análise em gráfico de floresta dos critérios funcionais de Flynn. Abreviaturas: CRPP, closed reduction and percutaneous pinning (redução fechada e fixação percutânea); df, degrees of freedom (graus de liberdade); IC, intervalo de confiança; ORIF, open reduction and internal fixation (redução aberta e fixação interna).
Os critérios funcionais de Flynn foram usados como uma das medidas primárias de desfechos.
A análise da [Fig. 3 ] mostra que não houve diferença estatisticamente significativa quanto ao ângulo de
Baumann entre CRPP e ORIF (p > 0,05). Isso sugere que as duas abordagens terapêuticas são opções viáveis em fraturas
supracondilares do úmero em crianças, particularmente em casos de fraturas classificadas
como de tipo III de Gartland. O ângulo de Baumann também foi considerado uma medida
primária de desfecho. No entanto, a disponibilidade limitada de dados (apenas dois
estudos) sobre o ângulo de Baumann impediu uma comparação conclusiva. Portanto, tanto
CRPP quanto ORIF podem ser consideradas opções de tratamento viáveis para essas fraturas
em crianças.
Fig. 3 Análise em gráfico de floresta do ângulo de Baumann. Abreviaturas: CRPP, closed reduction and percutaneous pinning (redução fechada e fixação percutânea); DP, desvio padrão; df, degrees of freedom (graus de liberdade); IC, intervalo de confiança; IV, ponderação; ORIF, open reduction and internal fixation (redução aberta e fixação interna).
Discussão
As fraturas supracondilares do úmero representam um desafio substancial na ortopedia
pediátrica, pois exigem uma abordagem matizada para a obtenção dos desfechos ideais
para o paciente. A escolha entre CRPP e ORIF há muito é assunto de debate na área.
Nesta discussão, nos aprofundaremos em nossa análise, centrando-nos nos critérios
funcionais de Flynn e nas medidas do ângulo de Baumann ([Figs. 2 ]
[3 ]) fornecidos pelos estudos para maior compreensão da eficácia comparativa desses
tratamentos.[20 ]
[21 ]
Nossa análise não revelou diferença estatisticamente significativa entre CRPP e ORIF
quanto aos desfechos, segundo os critérios funcionais de Flynn, para fraturas supracondilares
do úmero em crianças (p > 0,05). Os achados sugerem que ambas as modalidades terapêuticas resultam em recuperação
funcional comparável, o que as torna opções viáveis, particularmente para o tratamento
de fraturas de tipo III de Gartland. A análise do gráfico de floresta reforça visualmente
esse achado, com a estimativa do efeito combinado favorecendo ligeiramente a CRPP,
mas dentro de um intervalo de confiança que abrange a linha de efeito nulo. A consistência
desses resultados em diversos estudos ressalta o equilíbrio clínico entre CRPP e ORIF
em relação aos desfechos funcionais. Zhu et al.[1 ] não relataram diferença estatística no resultado clínico entre CRPP e ORIF em fraturas
supracondilares (p > 0,05). Além disso, as [Figs. 2 ]
[3 ] esclarecem a demografia e as características dos pacientes de cada grupo terapêutico.
Esses dados ressaltam a diversidade do nosso conjunto de dados, com variações na idade
dos pacientes, na duração do acompanhamento e na distribuição das fraturas segundo
a classificação de Gartland. Apesar dessas variações, os estudos individuais consistentemente
não relatam disparidades significativas nos desfechos funcionais entre CRPP e ORIF,
e se alinham harmoniosamente aos resultados gerais da metanálise.
Embora o ângulo de Baumann seja um parâmetro radiológico importante para a avaliação
do alinhamento anatômico do cotovelo, os dados limitados sobre isso (somente dois
estudos[14 ]
[15 ]) disponíveis em nossa metanálise nos impedem de tirar conclusões definitivas sobre
a eficácia comparativa de CRPP e ORIF com base neste parâmetro. Reconhecer as restrições
impostas pelos dados limitados sobre o ângulo de Baumann é essencial, e enfatiza a
necessidade de pesquisas futuras com tamanhos maiores de amostra para abordar melhor
essa lacuna.
A ausência de diferenças significativas nos desfechos funcionais entre CRPP e ORIF
no tratamento de fraturas supracondilares do úmero em pacientes pediátricos pode ser
atribuída a diversos fatores essenciais, como a seleção cuidadosa dos pacientes, a
avaliação padronizada dos desfechos, a perícia cirúrgica, os cuidados pós-operatórios
e os avanços nas técnicas cirúrgicas.[22 ]
[23 ] Ao se centrar em um grupo relativamente homogêneo de pacientes com fraturas de tipo
III e empregar os critérios funcionais de Flynn como uma ferramenta de avaliação padronizada,
a maioria dos estudos selecionados em nossa análise minimizou possíveis variáveis
de confusão e vieses de medição. Além disso, a proficiência das equipes cirúrgicas
nas técnicas de CRPP e ORIF provavelmente contribuiu para desfechos positivos consistentes
em ambos os grupos de tratamento.[24 ]
[25 ] Avanços em instrumentos cirúrgicos, imagens e cuidados perioperatórios melhoraram
ainda mais os desfechos funcionais.
Além dos critérios funcionais de Flynn e do ângulo de Baumann, outros fatores devem
ser considerados nas decisões de tratamento de fraturas supracondilares do úmero em
pacientes pediátricos, como se pode ver nas [Figs. 2 ]
[3 ]. De modo notável, a duração das internações hospitalares e os desfechos estéticos
são aspectos que podem influenciar significativamente a experiência geral do paciente.
A CRPP, um procedimento minimamente invasivo, é geralmente associada a internações
hospitalares mais curtas do que o procedimento de ORIF, que é mais extenso. Ademais,
a exposição cirúrgica limitada e as incisões menores da CRPP podem contribuir para
desfechos estéticos superiores, uma consideração crucial na população de pacientes
pediátricos.[25 ]
[26 ]
[27 ]
Na prática clínica atual, esses achados capacitam os médicos a tomar decisões terapêuticas
com base nas características e preferências individuais do paciente. Crianças mais
novas com fraturas menos graves podem ser beneficiadas pela natureza minimamente invasiva
e da hospitalização mais curta da CRPP, ao passo a ORIF pode ser preferida nos casos
que exigem redução anatômica precisa ou fixação mais robusta. Essa abordagem centrada
no paciente reflete o cenário em evolução da prática ortopédica pediátrica, e garante
que o atendimento personalizado otimize os desfechos do paciente e seu bem-estar geral
ao mesmo tempo em que considera circunstâncias únicas.
Este estudo tem várias limitações. Em primeiro lugar, a baixa qualidade de viés, que
pode ter afetado a confiabilidade dos resultados. Além disso, o pequeno número de
estudos incluídos na meta-análise limita o poder estatístico para a detecção de diferenças
significativas e aumenta a probabilidade de viés de publicação. Este tamanho de amostra
restrito pode ter levado a uma superestimação ou subestimação dos tamanhos do efeito,
particularmente na presença de relatos seletivos ou efeitos de pequenos estudos. Mais
ensaios clínicos randomizados de alta qualidade e em larga escala são necessários
para validar esses achados e fornecer evidências mais definitivas sobre o assunto.
Conclusão
Tanto a CRPP quanto a ORIF são tratamentos viáveis em fraturas supracondilares do
úmero em pacientes pediátricos, particularmente as de tipo III de Gartland, mas mais
pesquisas são necessárias para abordar os dados sobre o ângulo de Baumann, padronizar
as avaliações de desfechos e orientar as decisões terapêuticas com base em desfechos
funcionais, radiológicos e cosméticos.
Bibliographical Record Febyan Febyan, Made Agus Maharjana, Nyoman Gede Grenata Nanda Ustriyana. Redução fechada
e fixação percutânea versus redução aberta e fixação interna em fraturas pediátricas supracondilares do úmero:
Uma revisão sistemática. Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2025; 60: s00451804496. DOI: 10.1055/s-0045-1804496