Palavras-chave tecido adiposo - cirurgia bariátrica - coxoplastia medial - cirurgia plástica - cirurgia
pós-bariátrica - gordura subcutânea - retalhos cirúrgicos - coxa - coxoplastia - perda
de peso
Descritores medicina bariátrica - procedimentos de cirurgia plástica - redução de peso - gordura
subcutânea - perna (membro)
Introdução
Com o aumento da incidência global de obesidade, um grande número de pacientes é submetido
à cirurgia bariátrica que leva ao excesso de pele e tecidos moles e diminuição do
tônus da pele.[1 ] O excesso de gordura e o acúmulo de pele muitas vezes levam a desconforto social,
lesões locais na pele devido ao atrito entre as coxas, dificuldades de locomoção e
incômodos na vida sexual e autoestima dos pacientes.[1 ]
A coxoplastia foi descrita pela primeira vez por Lewis[2 ] em 1957 mas, em 1988, Lockwood et all[3 ] revolucionaram a coxoplastia ao ancorar o retalho de pele na fáscia de Colles,[4 ]
[5 ]
[6 ] o que permitiu uma maior estabilidade da cirurgia e resultou em menos complicações.[7 ] Le Louarn (2004) acrescentou a importância da lipoaspiração radical antes da ressecção
por avulsão para minimizar complicações linfáticas e reduzir edema e seroma.[8 ]
Diversas técnicas de ressecção do tecido adiposo subcutâneo da coxa descritas até
agora envolvem técnicas de cicatriz em forma de J e T. Na verdade, a ressecção longitudinal
está cada vez mais sendo usada para obter tração da pele em ambas as direções longitudinal
e transversal.[9 ]
[10 ]
[11 ] No entanto, ainda produzem cicatrizes transversais anteriores na raiz da coxa e
virilha, ([Fig. 1 ]) que podem ser evidentes e estigmatizantes, principalmente na vida íntima. Assim,
apesar dos avanços alcançados com as técnicas atuais de coxoplastia, dois pontos permanecem
sem solução: cicatriz anterior aparente na raiz da coxa e virilha, e deiscência de
sutura frequente nos ângulos das cicatrizes.[12 ]
Fig. 1 Cicatrizes anteriores produzidas em técnicas de coxoplastia
Objetivo
O presente estudo tem como objetivo descrever uma nova técnica de coxoplastia com
ressecção de pele em forma de S colocada na região póstero-medial da coxa com o objetivo
de tentar melhorar ainda mais os resultados estéticos da coxoplastia, por não produzir
cicatriz anterior na virilha e não produzir cicatriz com ângulos, com intuito de reduz
a deiscência cicatricial.
Paciente e métodos
Critério de inclusão: pacientes maiores de 18 anos, submetidas a coxoplastia pós-bariátrica
com perda ponderal maior ou igual a 30 kg e IMC abaixo de 30. As pacientes não apresentavam
comorbidades nem fatores de risco. Elas leram e assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido (TCLE) autorizando a cirurgia e a publicação dos dados para fins
científicos.
Foi realizado a prevenção de trombose venosa profunda com Enoxiparina 40mg por 5 dias.
A coxoplastia com ressecções cutâneas em S foi realizada em pacientes do sexo feminino,
uma de 44 anos, 77,5 kg, IMC 29,17, com perda ponderal de 30 kg. A outra de 39 anos,
70,60 kg, IMC 26,57, com perda ponderal de 30 kg, previamente submetidas à cirurgia
bariátrica.
Utilizando um teste de pinça de manobra bi-digital, com invaginação dos tecidos, uma
marcação S médio-posterior foi realizada na coxa com as pacientes em posição ortostática
e conferidas em decúbito ventral. Essa marcação em S, a ser ressecada, foi definida
com a parte transversal superior do S posicionada no sulco subglúteo, enquanto as
incisões longitudinais e transversais da ressecção cutânea em S foram distribuídas
por toda a coxa. ([Fig. 2 ]).
Fig. 2 Marcação da ressecção de pele em preto e lipoaspiração em azul
A cirurgia foi realizada com as pacientes em decúbito ventral.
Após a anestesia peridural, foi realizada lipoaspiração superficial e profunda das
coxas com vibrolipoaspirador, de forma radical nas áreas que serão ressecadas.
As ressecções de pele foram realizadas por avulsão sem descolamento para preservação
da circulação linfática. Com a ressecção por avulsão, a incidência de seroma, linfedema
e hematoma tende a ser reduzida, pois preserva a circulação local.[11 ]
[12 ] ([Fig. 3 ]).
Fig. 3 Ressecção de pele por avulção
Resultados
As cirurgias das duas pacientes demoraram 4 horas cada uma delas. As pacientes tiveram
alta hospitalar no mesmo dia, deambulando normalmente. Os pontos foram retirados após
duas semanas e elas foram acompanhadas no pós-operatório por seis meses. Elas seguiram
os cuidados de não agachar por duas semanas e voltar às atividades físicas após um
mês.
A técnica cirúrgica de coxoplastia posterior medial em S produziu considerável redução
do excesso de pele, melhorando o contorno das coxas das pacientes. A ressecção médio-posterior
em S evoluiu sem complicações incluindo deiscência de sutura. Além disso, a cicatriz
resultante foi posicionada no sulco subglúteo, na região posterior do corpo e na região
medial da coxa, formando uma cicatriz em forma de S médio-posterior, deixando a região
anterior e a virilha sem cicatrizes. O melhor ocultamento da cicatriz e ausência de
cicatriz anterior são a grande conquista dessa nova técnica, que pode favorecer uma
potencial melhora na satisfação pessoal das pacientes e aumento do número de tratamento
por uma provável maior aceitação das pacientes. ([Figs. 4 ] e [5 ]).
Fig. 4 Pré e pós-operatório de seis meses de coxoplastia em S posterior
Fig. 5 Pré e pós-operatório de seis meses de coxoplastia em S posterior
Discussão
Apesar dos avanços na coxoplastia, as cicatrizes anteriores visíveis e o alto índice
de deiscência da ferida permanecem sem solução.[12 ] A nova coxoplastia usando a ressecção de pele em forma de S aqui descrita remove
grandes extensões de pele em excesso nos sentidos longitudinal e transversal, sem
cicatrizes anteriores na virilha. Nos dois casos descritos pelos autores, não houve
deiscência da ferida, provavelmente por fazer os ângulos em S, evitando retalhos com
ângulos agudos mais propensos a isquemia e deiscência de sutura nesses ângulos.
Contraturas de cicatrização inelástica ocorrem frequentemente no componente longitudinal
das cicatrizes "L" e "T" usadas em outras coxoplastias, muitas vezes levando a fibrose
em uma dimensão linear e cicatrizes perceptíveis que podem restringir o movimento
local (contratura). Ademais, são mais propensas a isquemia, maior carga de tensão,
deiscência de sutura e necrose da pele. Essas consequências indesejáveis são menos
prováveis de ocorrer quando uma ressecção de pele em forma de S é usada, pois ela
não cria ângulos retos ou agudos. Além disso, a ressecção da pele com uma incisão
em “S” na superfície cilíndrica da coxa remove simultaneamente os excessos de pele
longitudinal e transversal ao longo da coxa em múltiplos vetores,[13 ] sem a necessidade de um vetor específico separado em linha reta, passo muitas vezes
necessário para o “T” e incisões em "L". ([Fig. 6 ]).
Fig. 6 Tração em múltiplos vetores
A técnica proposta resolve o desconforto e as deficiências estéticas causadas pelas
cicatrizes oriundas das coxoplastias convencionais. Como as cicatrizes decorrentes
da nova técnica são posteriores e posicionadas nos sulcos sub-glúteos, ficam perfeitamente
ocultas mesmo quando as coxas são abduzidas. Além disso, a técnica apresenta aparente
menor risco de deiscência e retração da pele, pois as cicatrizes em “S” não apresentam
ângulos. Ademais, a técnica tem o mesmo, ou até maior, potencial para remoção de grandes
quantidades de pele transversal e longitudinalmente. Por fim, permite uma melhor distribuição
da tração da raiz da coxa até os joelhos. ([Figs. 7 ] e ).
Fig. 7 Cicatriz médio posterior em S proposta pela técnica
Conclusão
A técnica de coxoplastia aqui apresentada descreve um procedimento inovador e inédito
com ressecção em S, sem angulações nas suturas e melhor distribuição da tensão cicatricial.
Isso resulta em melhor ocultação das cicatrizes, que são colocadas no sulco subglúteo
e medial da coxa. Além disso, a nova técnica tem o potencial de reduzir a chance de
deiscência da ferida e permite a ressecção de pele extensa nas direções transversal
e longitudinal, em múltiplos vetores.[13 ]
Esse relato de casos é o passo inicial para que nossos estudos possam comprovar cientificamente
as virtudes apontadas por essa nova abordagem cirúrgica.
Bibliographical Record Alexandre Melo dos Santos, Gustavo Moreira Souza. Coxoplastia médio-posterior em S:
uma nova técnica com melhor ocultação da cicatriz. Revista Brasileira de Cirurgia
Plástica (RBCP) – Brazilian Journal of Plastic Surgery 2024; 39: s00451801846. DOI: 10.1055/s-0045-1801846