Palavras-chave
estudos retrospectivos - fixação interna de fraturas - fraturas do rádio - placas
ósseas
Introdução
As fraturas do rádio distal (FRDs) são comuns e geralmente causadas por traumas de
alta energia, como quedas acidentais ou acidentes de trânsito.[1] Lesões de alta energia podem provocar FRDs cominutivas intra-articulares, que tendem
a incluir fragmentos livres de fraturas luxadas dorsais ou volares. Como essas fraturas
estão descritas na classificação de fraturas intra-articulares, requerem redução anatômica
e fixação rígida de acordo com os princípios da Associação para o Estudo da Fixação
Interna (Arbeitsgemeinschaft für Osteosynthesefragen, AO, em alemão).[2]
Com o desenvolvimento da tecnologia de placa bloqueada volar de ângulo fixo, essas
fraturas são normalmente fixadas somente por meio de incisão volar.[3] Com essa abordagem, fragmentos livres podem ser facilmente visualizados e reduzidos.
Por outro lado, o controle direto dos fragmentos dorsais não é possível. Suponhamos
que a fixação de um fragmento dorsal pela abordagem volar não tenha estabilidade suficiente;
a fratura pode sofrer luxação, o que leva à consolidação viciosa ou não consolidação,
bem como artrite pós-traumática e piora da função do punho.[4]
[5] Se os fragmentos dorsais livres forem grandes o suficiente, são fixados com os parafusos
nos orifícios distais da placa volar. No entanto, nem sempre é possível avaliar se
esses parafusos fixam bem os fragmentos dorsais por meio de fluoroscopia no centro
cirúrgico.
A técnica da placa dorsal também foi descrita como método de fixação de fragmentos
intra-articulares dorsais instáveis. No entanto, foram observadas complicações graves
na placa dorsal, incluindo irritação e ruptura do tendão.[6] Uma abordagem palmar e dorsal combinada é eficaz para a redução e fixação, mas afeta
negativamente o rádio distal e a vascularização cutânea, ao causar mais trauma em
tecidos moles.[7]
O objetivo principal deste estudo foi avaliar a eficácia da placa volar para a fixação
de fraturas da borda dorsal do rádio distal em termos da promoção da redução e estabilização
dos fragmentos da borda cubital (BC) e do tubérculo de Lister (TL).
Materiais e Métodos
Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética institucional (sob o número E1-23-3412).Trata-se
de um estudo de coorte retrospectivo de FRDs com fragmentos dorsais. Os pacientes
com FRD operados entre maio de 2019 e outubro de 2021 foram identificados nos prontuários
hospitalares. Pacientes com FRDs sem fragmentos dorsais, fraturas dos tipos 23A ou
B da AO, aqueles atendidos 5 semanas depois do evento, com fraturas da faceta semilunar
volar, operados com placas dorsais, e aqueles com fragmentos somente na BC ou no TL
foram excluídos. Em nossa clínica, como as FRDs eram de tipo C da AO, radiografias
e tomografias computadorizadas (TCs) de rotina foram realizadas no pós-operatório,
com ênfase especial no monitoramento de complicações em longo prazo, e alguns casos
foram submetidos a intervenções. Também foram excluídos pacientes perdidos durante
o acompanhamento e aqueles sem radiografias ou TCs, além daqueles com razão de fragmentos
da BC inferior a 25%, menores de 18 anos, com doenças neuromusculares e com lesões
contralaterais nos membros superiores. Assim, este estudo incluiu 22 pacientes com
FRDs intra-articulares com fragmentos de BC e TL submetidos ao tratamento com placas
volares. O processo de inclusão e exclusão de pacientes está detalhado na [Fig. 1].
Fig. 1 Processo de inclusão e exclusão de pacientes.
Todas as cirurgias foram realizadas pelos dois cirurgiões ortopédicos especialistas
em mão (UB e EA), com experiência cirúrgica de níveis 3 a 4, conforme o estudo de
Tang e Giddins.[8] Usando uma abordagem volar e pronando o eixo do rádio, o grande fragmento dorsal
foi temporariamente fixado com um fio de Kirschner. Um parafuso foi então usado para
a fixação sobre a placa, garantindo que ela não penetrasse no córtex dorsal para evitar
a ruptura do tendão extensor. Além disso, foi tomado cuidado para garantir que a placa
não cruzasse a linha divisória, evitando a ruptura do tendão flexor. Caso a fixação
temporária garantisse a fixação do parafuso da placa, o fio de Kirschner era removido,
e se a fixação continuasse estável, a cirurgia era encerrada. O “truque” mais importante
no uso da placa volar para a fixação do fragmento dorsal da BC examinado é a fixação
das BCs volares e dorsais com uma pinça Weber larga, seguida de perfuração sob orientação
fluoroscópica ([Fig. 2]). A compreensão completa da anatomia da incisura radial é necessária para evitar
perfuração articular. Se o fragmento for muito pequeno para ser fixado com parafuso,
o polegar e o indicador da mão esquerda podem atuar como a pinça Weber durante a perfuração,
alinhando os fragmentos e permitindo a colocação cuidadosa do parafuso sobre a placa.
Durante a cirurgia, uma boa radiografia skyline à fluoroscopia não apenas revela a relação do parafuso mais cubital com o córtex
dorsal, como também permite a visualização de sua relação com a incisura radial. Usamos
essa projeção tangencial principalmente para visualizar a incisura radial à cirurgia
porque nunca penetramos o córtex dorsal. A realização desta técnica pode não ser simples
para um cirurgião com níveis 1 a 2 de experiência.
Fig. 2 O “truque” para usar a placa volar para a fixação do fragmento dorsal da borda cubital.
Fixação da placa com o polegar na placa e o indicador no dorso do punho (A). Fixação do fragmento da borda cubital dorsal com pinça Weber larga (B,C). Perfuração sob orientação fluoroscópica (D). Controle dos parafusos para a redução da incisura radial e a penetração indesejada
do parafuso da articulação radiocubital distal com visualização skyline à fluoroscopia (E).
Depois da identificação dos pacientes nos prontuários hospitalares, analisamos seus
estudos radiológicos pré e pós-operatórios, as radiografias diretas e as TCs. Como
parâmetros radiológicos, medimos a inclinação radial (IR), a altura radial (AR), a
variância cubital (VC) e a inclinação palmar (IP) em radiografias pré e pós-operatórias
do lado acometido. As radiografias pós-operatórias foram obtidas às 6 semanas, 3 meses,
6 meses e 1 ano, e, depois, 1 vez ao ano. Os valores do primeiro e do último raio-x
dos pacientes foram avaliados. Todas as medidas foram feitas pelo cirurgião sênior
(UB). Os critérios de Jupiter[9]
[10] foram utilizados para as variáveis radiológicas. Os critérios de não aceitação foram
IR < 10o, inclinação volar > 20o ou inclinação dorsal > 20 o, AR < 10 mm, VC > 2 mm e incongruência ou intervalo intra-articular > 2 mm.[9]
[10] As TCs foram usadas para avaliações distintas da largura e do comprimento dos fragmentos
dorsais da BC e do TL e o cálculo da área superficial. A área total do fragmento dorsal
é a soma dos fragmentos da BC e do TL. Além disso, a razão entre a profundidade do
fragmento da BC e a profundidade do rádio distal foi calculada ([Fig. 3]). Registramos se o fragmento foi fixado ou não com o parafuso da placa volar ([Fig. 4]). Também calculamos o percentual de área fixada, correspondente ao percentual da
área do fragmento dorsal fixado com parafuso.
Fig. 3 Ilustração dos fragmentos dorsais (A). Medida da razão de fragmentos da borda cubital (BC) (B). Abreviatura: TL: tubérculo de Lister.
Fig. 4 Neste exemplo, o fragmento dorsal foi fixado com parafuso (A). Neste outro exemplo, o fragmento dorsal não pôde ser fixado com parafuso. A união
foi obtida pelo lado radial (B).
Os pacientes passaram por uma consulta de acompanhamento para avaliação funcional,
que incluiu as pontuações na classificação de Gartland Werley (GW) e no questionário
Disabilities of the Arm, Shoulder and Hand (DASH), e as medida da força de preensão
com um dinamômetro e da amplitude de movimento (ADM) com um goniômetro. Um cirurgião
júnior calculou todas as pontuações, e um cirurgião sênior realizou as medições. Os
valores máximos normais de ADM foram de 70° de extensão, 75° de flexão, 20° de desvio
radial, 35° de desvio cubital, 70° de pronação e 85° de supinação.[11] Segundo Ryu et al.,[12] a maioria das tarefas funcionais pode ser realizada com 70% por cento da ADM máxima
do punho; logo, os valores mínimos aceitos foram de 49° de extensão, 52,5° de flexão,
14° de desvio radial, 24,5° de desvio cubital, 49° de pronação e 59,5° de supinação.
A força de preensão foi medida tanto no lado acometido quanto no lado saudável, e
a sua porcentagem no lado acometido em comparação ao lado saudável foi calculada para
análise posterior.
Realizamos análises descritivas e inferenciais. O teste de Shapiro-Wilk foi utilizado
para a avaliação da normalidade. Os testes do Qui-quadrado e exato de Fisher foram
usados para as variáveis categóricas. Usou-se um teste t para a análise dos dados paramétricos dos grupos. O teste U de Mann-Whitney foi realizado
para analisar os dados não paramétricos dos grupos. Um teste t pareado foi usado para comparar dois valores de grupos independentes. Valores de
p inferiores a 0,05 foram considerados significativos. A análise de correlação usou
o teste de Pearson se ambas as variáveis fossem paramétricas, e o teste de Spearman
caso alguma das variáveis não fosse paramétrica. O valor de rho ≥ 0,8 foi aceito como
indicativo e correlação forte, de acordo com Chan.[13]
Resultados
Os dados demográficos, as dimensões dos fragmentos, as pontuações funcionais e a ADM
estão resumidos na[ Tabela 1]. O período médio de acompanhamento foi de 24,1 ± 4,1 (mínimo: 17; máximo: 32) meses.
No último acompanhamento, os formulários de pesquisa foram preenchidos e as pontuações
funcionais foram calculadas. A média de força de preensão do lado operado foi de 35,0 ± 6,0 kg
e, do lado sadio, de 39,1 ± 4,6 kg, com diferença significativa (p = 0,0002). A porcentagem média do lado operado em relação ao lado sadio foi de 89,5 ± 9,8%.
A ADM mínima necessária foi alcançada em 90,9% para flexão, extensão, desvio radial
e desvio ulnar, enquanto todos os pacientes (100%) atingiram faixa normal para pronaç
ão e supinação.
Tabela 1
Idade (anos): média ± DP
|
39,7 ± 10,7
|
Gênero: n (%)
Feminino
Masculino
|
5 (22,7)
17 (77,3)
|
Lado: n (%)
Direito
Esquerdo
Dominância: n (%)
|
11 (50,0)
11 (50,0)
11 (50,0)
|
Tempo até a apresentação (dias): média ± DP
|
15,6 ± 11,3
|
Tempo de acompanhamento (meses): média ± DP
|
24,1 ± 4,1
|
Borda cubital
Largura (mm): média ± DP
Profundidade (mm): média ± DP
Área (cm2): média ± DP
Fixação com parafuso do fragmento:a n (%)
Razão de fragmentos da BC: média ± DP
Lacuna pré-operatória (mm): média ± DP
Lacuna pós-operatória (mm): média ± DP
|
13,4 ± 3,1
6,6 ± 1,4
0,9 ± 0,3
4 (18,2)
0,4 ± 0,1
2,0 ± 1,2
0,2 ± 0,6
|
Tubérculo de Lister
Largura (mm): média ± DP
Profundidade (mm): média ± DP
Área (cm2): média ± DP
Fixação com parafuso do fragmento:a n (%)
|
9,3 ± 3,00
7,3 ± 3,2
0,7 ± 0,5
7 (31,8)
|
Área total do fragmento (cm2): média ± DP
Área do fragmento fixado (%)
|
1,6 ± 0,7
44,5 ± 41,3
|
Pontuação na classificação de Gartland Werley: média ± DP
|
2,1 ± 2,0
|
Pontuação no DASH: média ± DP
|
4,3 ± 3,2
|
Força de apreensão (kg): média ± DP
Lado operado
Lado saudável (controle)
Operado/Controle (%)
|
35,0 ± 6,0
39,1 ± 4,6
89,5 ± 9,8
|
Amplitude de movimento: média ± DP/n (%)b
Extensão
Flexão
Desvio radial
Desvio cubital
Pronação
Supinação
|
69,6 ± 9,3/20 (90,9%)
70,5 ± 10,3/20 (90,9%)
21,1 ± 4,4/20 (90,9%)
28,5 ± 5,9/20 (90,9%)
73,4 ± 6,6/22 (100%)
78,5 ± 8,3/22 (100%)
|
A [Tabela 2] mostra a comparação dos parâmetros radiológicos nos períodos pré e pós-operatório.
A AR, a VC e a IP melhoraram significativamente após a cirurgia. Todos os fragmentos
dorsais apresentavam luxação e foram reduzidos com sucesso com a abordagem cirúrgica
volar pela técnica de Orbay. A fixação foi feita com o parafuso da placa volar em
quatro pacientes no fragmento da BC e em sete pacientes no fragmento do TL. Apesar
disso, houve uma luxação da BC de 2,4 mm em um paciente que não cumpriu os protocolos
de acompanhamento. Além disso, pelo menos 81,82% dos pacientes estavam dentro da normalidade
em relação a todos os parâmetros.
Tabela 2
Parâmetro
|
Pré-operatório: média ± DP
|
Pós-operatório: média ± DP
|
p
|
Diferença
(pós e pré): média ± DP
|
Amplitude normal pré-operatória: n (%)
|
Amplitude normal pós-operatória: n (%)
|
p
|
Inclinação radial
|
22,6 ± 5,1
|
23,2 ± 3,1
|
0,5151
|
0,6 ± 4,4
|
22 (100%)
|
22 (100%)
|
1,000
|
Altura radial
|
11,8 ± 3,6
|
13,1 ± 2,4
|
0,0016
|
1,3 ± 1,5
|
18 (81,8%)
|
20 (90,9%)
|
0,1573
|
Variância cubital
|
1,3 ± 1,6
|
0,1 ± 1,6
|
0,0124
|
-1,2 ± 2,0
|
10 (45,5%)
|
18 (81,8%)
|
0,0047
|
Inclinação palmar
|
-4,3 ± 15,8
|
3,8 ± 3,7
|
0,0457
|
9,1 ± 16,1
|
18 (81,8%)
|
22 (100%)
|
0,0455
|
Lacuna do fragmento
|
2,0 ± 1,2
|
0,2 ± 0,6
|
0,0000
|
1,8 ± 0,8
|
15 (68,2%)*
|
21 (95,5)*
|
0,0143
|
Por meio da análise de correlação, verificou-se o efeito da área do fragmento dorsal
nas pontuações funcionais (GW e DASH), no percentual de força de preensão e na ADM
(flexão, extensão, desvio radial, desvio cubital, pronação, supinação). Não houve
correlação forte com a área de fragmentos da BC, a área de fragmentos do TL, a área
total do fragmento dorsal ou a porcentagem de área fixada. Embora todas as proporções
da BC fossem superiores a 25%, apenas 4 fragmentos da BC puderam ser fixados por parafuso
com placa volar; além disso, a média da área dos fragmentos fixados foi significativamente
maior (0,8 ± 0,3 cm2
versus 1,2 ± 0,2 cm2; p = 0,0223). Não houve diferença significativa quanto à fixação do fragmento do TL
(0,6 ± 0,4 cm2
versus 1,0 ± 0,8 cm2; p = 0,1907).
Dos 22 pacientes do estudo, 8 apresentavam fraturas concomitantes no punho ou no antebraço,
e 4 deles tiveram complicações. Cinco pacientes tiveram uma fratura estiloide cubital,
um apresentou uma fratura na cabeça do rádio, um teve uma fratura do escafoide e um
apresentou luxação na articulação radiocubital distal (ARCD). O paciente de número
3, que tinha uma fratura estiloide cubital, apresentou luxação mínima do fragmento
da BC (de 2,4 mm após a cirurgia) que não foi fixada com parafuso. O paciente sofreu
consolidação tardia ([Fig. 5]). O paciente de número 5, que apresentava uma luxação da ARCD na forma de uma fratura
estiloide cubital que foi fixada com fios de banda de tensão, manteve a estabilidade
desta articulação; porém, um dos parafusos afetava os extensores do dedo indicador
dorsalmente ([Fig. 6]). A placa volar do paciente de número 7 foi removida devido à irritação e tenossinovite
dos flexores. Por último, o paciente de número 10 era fumante inveterado e apresentou
consolidação tardia.
Fig. 5 Radiografias pré-operatórias (A,B) e pós-operatórias (C,D) do paciente de número 3, que apresentava fratura estiloide cubital, luxação mínima
do fragmento da borda cubital (não fixado com parafuso), cominuição e consolidação
tardia. O objeto representado ao longo do estiloide radial é um corpo estranho presente
desde a infância.
Fig. 6 Radiografias pré-operatórias (AB), radiografias pós-operatórias (C,D) e tomografia computadorizada (E–H) do paciente de número 5, com luxação pré-operatória da articulação radiocubital
distal (ARCD) (fratura da base estiloide do cúbito fixada com fios de banda de tensão).
O paciente não apresentava subluxação da ARCD, mas tinha um parafuso que afetava dorsalmente
os extensores do dedo indicador.
Discussão
Apesar das inovações na cirurgia ortopédica, o tratamento das fraturas intra-articulares
do rádio distal que acompanham as fraturas da borda dorsal é desafiante. Em alguns
estudos[14]
[15]
[16]
[17] acerca do tratamento dessa fratura complexa com uma placa de bloqueio volar padrão,
os fragmentos de fratura livre dorsal não puderam ser fixados adequadamente, mas cicatrizaram
bem. Neste estudo, não houve ausência de consolidação dos fragmentos dorsais, mas
dois pacientes apresentaram consolidação tardia dos fragmentos dorsais, um processo
que demorou mais de três meses.
Todos os pacientes do estudo obtiveram excelente redução e estabilidade dos fragmentos
da BU e do TL por meio de placas bloqueadas volares de ângulo fixo. Embora tenhamos
antecipado bons desfechos funcionais, o sucesso jaz nos detalhes. A negligência de
fraturas da borda dorsal durante a cirurgia pode levar a problemas de longo prazo,
o que motivou a realização deste estudo. Portanto, continuamos vigilantes quanto às
complicações associadas a esses fragmentos e os elucidamos minuciosamente.
Vanhaecke e Fernandez[18] relataram que o sucesso do procedimento que usa a placa volar de ângulo fixo depende
da obtenção de fixação sólida e excelente apoio ósseo subcondral. Neste estudo, não
houve casos de falha de fixação em nenhum paciente tratado com placas volares de ângulo
fixo.
É difícil reduzir e fixar o bloco dorsal fraturado contra o osso volar com apenas
uma incisão volar, mas os cirurgiões ainda tentam resolver tudo do lado volar.[19] Para superar esse problema, alguns cirurgiões[20]
[21] tentaram reduzir o bloco fraturado e luxado por tração manual ou com o acréscimo
de uma mini-incisão dorsal. A tração não pode corrigir a inclinação dorsal da parte
distal fraturada porque os ligamentos radiocarpais volares intactos são mais curtos
e grossos do que os ligamentos radiocarpais dorsais. Assim, a tração longitudinal
às vezes pode prejudicar a redução dos fragmentos ósseos dorsais. Devido a esse viés
mecânico, não incluímos fraturas da faceta semilunar volar neste estudo. De acordo
com a técnica cirúrgica de Orbay, o tendão braquiorradial dos pacientes foi seccionado
a partir de sua inserção, o rádio proximal foi virado para baixo, e o bloco da fratura
dorsal e a superfície articular foram expostos por completo.[22] Se o bloco ósseo dorsal fosse grande o suficiente, o fragmento era fixado com um
único parafuso a partir dos orifícios da placa volar e perfurado apenas até a cortical
próxima, para evitar irritação do tendão extensor. Apesar de todos os esforços para
reduzir e fixar os fragmentos dorsais com a abordagem volar, não sabemos como esses
fragmentos se consolidaram até o momento. Neste estudo, a luxação inicial e a cominuição
do fragmento da BC não afetaram o processo de consolidação. Se apenas o córtex volar
fosse reduzido sem abordar os fragmentos dorsais, o resultado poderia não ter sido
tão favorável. Isto se deve à necessidade de manipular e reduzir indiretamente os
fragmentos dorsais da face volar.
As pontuações na GW e no DASH estão entre as medidas de desfecho mais empregadas na
literatura.[23] A pontuação no DASH destaca-se como a preferida para a avaliação de pacientes com
acometimento de múltiplas articulações dos membros superiores, o que enfatiza a sua
funcionalidade abrangente.[24] Por outro lado, a pontuação na GW é a melhor para a avaliação após a cirurgia do
punho, mas ainda precisa ser validada.[23]
[25] A classificação de GW utiliza um sistema de pontos de demérito que requer uma avaliação
objetiva da função do punho. Baseia-se no conceito de que um mínimo de 45° de dorsiflexão,
30° de flexão palmar, 15° de desvio cubital e radial e 50° de pronação e supinação
são normais.[23] neste estudo, as pontuações na GW e no DASH apresentaram correlação (rho = 0,7774;
p = 0,000). A GW também foi associada à força de preensão (rho = - 0,8058; p = 0,000), mas não o DASH (rho = -0,3559).
Knirk e Jupiter5 demonstraram que a congruência articular correta determina significativamente os
desfechos de FRDs articulares complexas. Apesar disso, a perda da redução da faceta
semilunar volar foi sempre relatada. Infelizmente, o impacto das fraturas com luxação
da borda dorsal tem atraído pouca atenção.[26]
[27] Algumas publicações[15]
[28]
[29] mostram que as margens dorsais luxadas não têm efeito adverso nos desfechos radiográficos
e clínicos. Neste estudo, os fragmentos da borda dorsal não tiveram um efeito negativo
nas medidas de desfechos.
Os fragmentos intra-articulares do rádio distal são classificados como faceta volar
semilunar, coluna radial, fragmentos dorsocubitais (BC) e borda dorsal (TL).[30] A luxação do fragmento dorsocubital é o tipo mais comum de FRD.[31] Os fragmentos dorsocubitais luxados também podem afetar a cinemática da ARCD; por
isso, estes pacientes tendem a perder a capacidade de supinação.[32] Neste estudo, a redução intermediária da coluna no pós-operatório também foi adequada,
mas houve perda de rotação em um caso, apesar da congruência da ARCD. Neste estudo,
observamos que o bloco ósseo dorsal que contém o TL estava cicatrizado devido à sua
localização central. Este é o primeiro relato na literatura das propriedades da área
superficial deste bloco ósseo dorsal e seu processo de consolidação.
Lee et al.[33] estudaram 48 pacientes com FRDs instáveis, fragmentos dorsocubitais com luxação
de mais de 2 mm e mais de 1/4 da superfície articular. Estes autores relataram que
o esforço para a fixação do fragmento dorsocubital nos orifícios da placa volar não
afetou os desfechos. Considerando a área superficial e o volume deste fragmento, poderíamos
fixar com firmeza somente quatro fragmentos do lado volar. Além disso, Kim e Cho[17] observaram que, nos casos em que o fragmento dorsal é delgado, a ausência de fixação
não parece comprometer a estabilidade ou o desfecho clínico. Da mesma forma, em nossos
casos, a fixaç ão dos fragmentos dorsais com parafusos volares também não afetou os
resultados.
Embora a relação mecânica entre a incongruência da superfície articular e a osteoartrite
pós-traumática ainda não seja compreendida por completo, acredita-se que a osteoartrite
seja causada por alterações no estresse radiocárpico.[34] Bradway et al.[35] relataram que uma incongruência > 2 mm na superfície articular radial é essencial
para o desenvolvimento da artrite pós-traumática. Além disso, foi relatado[36] que a função da articulação do carpo após o acometimento da ARCD é importante no
prognóstico e influencia a dor, a instabilidade articular e a rotação do antebraço.
Portanto, a redução e a fixação da incisura radial devem ser tão cruciais quanto às
da superfície articular radiocarpal no tratamento da FRD. Neste estudo, nenhum paciente
apresentou artrite pós-traumática da ARCD, mas o período de acompanhamento foi insuficiente
para tal avaliação.
Axelrod et al.[37] introduziram uma abordagem limitada na tentativa de redução com uma pequena incisão
longitudinal de aproximadamente 2 cm na face dorsal do rádio distal. Assim, a redução
da incisura radial com a incisão posterior também é facilitada. Nos casos em que o
fragmento cubital dorsal não pode ser reduzido volarmente, uma mini-incisão dorsal
pode ser utilizada. Essas placas dorsais devem ser monitoradas com cuidado e, caso
provoquem sinovite, devem ser removidas o mais rápido possível, antes que ocorra a
ruptura do tendão.
Este estudo tem várias limitações que merecem consideração. Em primeiro lugar, deve-se
notar que se trata de um estudo retrospectivo centrado em um grupo de pacientes relativamente
homogêneo. Lamentavelmente, não houve pacientes com fragmentos isolados de BC ou TL,
o que limitou o escopo para uma análise abrangente dessas condições específicas. A
ausência de pacientes com luxação pós-operatória impediu nossa capacidade de comentar
as ramificações funcionais de uma fratura luxada da borda dorsal. Além disso, nenhum
paciente foi tratado com placas dorsais ou duplas por meio de incisões dorsais, o
que impossibilitou uma avaliação de sua eficácia e valor. Em segundo lugar, a maioria
dos participantes do estudo era jovem, com média de idade de 39,7 ± 10,7 anos. Consequentemente,
a generalização dos nossos resultados para pacientes idosos com osteoporose pode ser
limitada.
Conclusão
O tratamento de fraturas intra-articulares complexas do rádio distal com fixação usando
placa de ângulo fixo e abordagem volar apresenta bons desfechos funcionais iniciais.
A consolidação do fragmento cubital dorsal em direção ao fragmento cubital volar é
proporcional à lacuna entre esses fragmentos. Parafusos cubitais distais inseridos
através da placa volar nem sempre ajudam na consolidação dos fragmentos cubitais dorsais
sem intercorrências. Embora os fragmentos do TL possam cicatrizar sem problemas em
qualquer condição, há a possibilidade de problemas em longo prazo se o fragmento da
BC não estiver bem reduzido e estabilizado. Esta é a mensagem principal deste estudo.
Em caso de dúvida na fluoroscopia, mini-incisões dorsais podem ser úteis, porém, mais
estudos são necessários para avaliar sua eficácia. O tratamento de fraturas intra-articulares
do rádio distal com fragmentos dorsais com placas volares pode causar dor e limitação
da rotação do antebraço devido a uma osteoartrite de desenvolvimento lento; este fato
não deve ser subestimado.
Embora este estudo traga informações valiosas, as limitações devem ser consideradas
ao se interpretar e extrapolar os resultados. Mais pesquisas com grupos diversos de
pacientes e projetos prospectivos são necessárias para expandir a amplitude do conhecimento
neste campo.