Palavras-chave artroscopia - manguito rotador - tratamento
Introdução
A lesão parcial do manguito rotador é uma importante causa de disfunção e dor no ombro.[1 ] Sua incidência ainda não é consenso na literatura apesar de existirem estudos[2 ]
[3 ]
[4 ] que evidenciam valores de 14,5[4 ] a 32%.[3 ] Fukuda ainda descreve que aproximadamente 1/3 (27%) dessas lesões acometem a porção
articular.[4 ]
Ellman foi o primeiro a propor, baseado em achados artroscópicos, um sistema de classificação
da lesão parcial em relação a sua localização (A: articular; B: bursal; C: intratendínea)
e sua extensão (grau 1: < 3 mm; grau 2: 3–6 mm; grau 3: > 6 mm).[5 ]
Quanto à fisiopatologia das lesões parciais da porção articular do manguito rotador
(LPPAMR), acredita-se que podem ocorrer tanto com mecanismos intrínsecos (área de
hipovascularização e alterações metabólicas relativas à idade), quanto extrínsecos
(impacto interno póstero superior, eventos traumáticos agudos e microtraumas de repetição),
ou até mesmo, uma combinação deles.[6 ]
[7 ]
O tratamento inicial da LPPAMR é realizado com medidas conservadoras, como fisioterapia
e mudança dos hábitos para evitar a progressão da lesão,[8 ] e o tratamento cirúrgico está indicado na falha deste ou nos casos em que a lesão
acometa mais de 50% da espessura do tendão, devido um risco de até 40% na sua progressão.[1 ]
[9 ]
Diferentes técnicas cirúrgicas artroscópicas têm sido descritas para abordagem desse
tipo de lesão, como um simples desbridamento artroscópico do tendão,[2 ]
[6 ]
[10 ]
[11 ]
[12 ] ou reparo deste. Como reparo, utiliza-se técnica de reparo transtendão (RTT), descrita
inicialmente por Snyder,[13 ] ou ainda o reparo após completar a lesão (RPCL).[8 ]
[11 ]
[14 ]
[15 ]
[16 ]
[17 ]
[18 ]
[19 ] Existem trabalhos com avaliações a curto prazo comparando qual técnica cirúrgica
seria a melhor clinicamente para o tratamento das LPPAMR[8 ]
[16 ]
[17 ]
[18 ]
[20 ]
[21 ]
[22 ] e todos chegaram à conclusão de que não há diferença estatística entre eles. Alguns
poucos trabalhos[1 ]
[23 ]
[24 ]
[25 ] realizam esta comparação a longo e médio prazo. O objetivo deste trabalho é reavaliar
os pacientes operados por ambas as técnicas supracitadas, cujos resultados foram publicados
anteriormente,[21 ] agora com seguimento no médio prazo e com análise da força atual, a fim de avaliar
se houve mudança nos resultados.
Materiais e Métodos
De outubro de 1999 a dezembro de 2016, 39 pacientes foram submetidos a tratamento
cirúrgico artroscópico com diagnóstico de LPPAMR pelo Grupo de Ombro da nossa instituição.
Todos os casos operados foram classificados como Ellman 3 (lesão parcial superior
a 50% da espessura tendinosa). Em nenhum dos casos foi realizado apenas o debridamento
cirúrgico, e o reparo da lesão foi realizado em todos os casos. Foram utilizadas duas
técnicas de reparo artroscópico, a transtendão (RTT) em 19 pacientes (grupo I), e
o reparo após completada a lesão (RPCL) em 20 pacientes (grupo II). A escolha da técnica
cirúrgica ficou a cargo do cirurgião, e a avaliação foi retrospectiva. Foram avaliados
e comparados clinicamente em estudo prévio[21 ] após seguimento mínimo de 2 anos.
Para este estudo foi realizado contato com 18 pacientes (94,7% do grupo inicial) operados
pela técnica RTT (denominado grupo III) e 16 pacientes (80% do grupo inicial) pela
técnica RPCL (denominado grupo IV).
O grupo III teve média de seguimento de 105,6 meses (8,8 anos; variação: 6–15 anos),
e 12 pacientes eram do sexo masculino (66,7%) e 6 do sexo feminino. A média de idade
foi 52,2 (variação: 38–74) anos. O lado dominante (LD) foi acometido em 72,2% dos
casos, e 15 pacientes (83,3%) praticavam esporte. Em 9 casos havia histórico de trauma
(nestes não fora realizada acromioplastia) e em 6 casos havia diagnóstico de lesões
do lábrum superior, de anterior para posterior (superior labral anterior to posterior , SLAP, na sigla em inglês): foram realizadas tenotomia e tenodese em 5 casos e, em
1 caso, debridamento.
O grupo IV teve média de seguimento de 91,2 meses (7,6 anos; variação: 6–14 anos),
e 9 pacientes eram do sexo masculino (56,2%) e 7 do sexo feminino. A média de idade
foi 55,3 (variação: 32–78) anos. O LD foi acometido em 75% dos casos e 11 pacientes
(68,8%) praticavam esporte. Em dois casos havia histórico de trauma (nestes não fora
realizada acromioplastia) e em quatro casos havia diagnóstico de SLAP (foram realizadas
tenotomia e tenodese em dois casos e em dois casos, debridamento).
Após a coleta dos dados dos grupos III e IV, foram calculadas as pontuações na Escala
Modificada de Avaliação do Ombro da University of California, Los Angeles (UCLA)[26 ] e na escala de Constant-Murley,[27 ] e a força do ombro operado de todos os pacientes. Para a mensuração da força de
contração isométrica, foi utilizado o dinamômetro digital KERN CH50 K 50 (Kern & Sohn
GmbH, Balingen, Alemanha) ([Fig. 1 ]), calibrado de acordo com os padrões primários da Rede Brasileira de Calibração
(RBC) do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), conforme
preconiza a escala de Constant-Murley ([Fig. 2 ]).
Fig. 1 Foto de frente do dinamômetro digital KERN CH50 K 50, devidamente calibrado, utilizado
para mensuração de força isométrica do ombro.
Fig. 2 Paciente realizando teste de força isométrica do ombro direito, utilizando o dinamômetro
digital KERN CH50 K 50, devidamente calibrado.
Foram utilizados os testes de Anderson-Darling, Ryan-Joiner e Kolmogorov-Smirnov para
testar a normalidade das distribuições. Nos casos de distribuição normal, utilizou-se
o teste t de Student no cálculo dos intervalos de confiança para média ou o teste F de Fisher
para comparação das variâncias. Caso contrário, foram calculados os intervalos de
confiança de Wilcoxon e para análise das médias, o teste de Mann-Whitney. Foram então
analisadas as médias das variáveis força (kg), a pontuação atual de UCLA e a pontuação
de Constant-Murley em função do sexo, idade e dominância, e foram comparados os resultados
dos grupos III e IV. O teste de Wilcoxon foi utilizado para avaliar, no intervalo
de ambas as avaliações, se houve alteração na média da pontuação na escala da UCLA
entre os grupos I e III e os grupos II e IV.
As análises foram realizadas utilizando o programa estatístico Minitab Statistical
Software, versão 21 (Minitab, LLC, State College, PA, EUA), e todas as hipóteses com
níveis descritivos (valor de p ) inferiores a 0,05 foram rejeitadas.
Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa de nossa instituição e
aprovado conforme CAAE: 79428617.2.0000.5479.
Resultados
Com relação ao grupo III, a pontuação média da UCLA foi 33,8, sendo 12 resultados
excelentes (66,7%), 6 resultados bons (33,3%) e nenhum resultado insatisfatório. Não
houve diferença estatística entre a média da UCLA atual em função do sexo (p = 0,277), do acometimento ou não do LD (p = 0,755), ou da idade (p = 0,755). Em relação à pontuação na escala de Constant-Murley, a média foi 91,9,
sendo 13 resultados excelentes (72,2%), 4 resultados bons (22,2%) e 1 resultado satisfatório
(pontuação 72; caso 11), que perdeu pontos nos quesitos mobilidade e força e que apresentou
31 pontos na escala da UCLA atual, perdendo pontos na análise da função ([Tabela 1 ]). Não houve diferença estatística entre a pontuação média de Constant-Murley em
função do sexo (p = 0,962), do acometimento ou não do LD (p = 0,254), ou da idade (p = 0,404). Em relação à força média, houve diferença estatística em relação ao acometimento
do LD (p = 0,023); portanto, pode-se dizer que o LD apresentou força média maior (11 kg) em
comparação com o lado não dominante (LND; 7,8 kg).
Tabela 1
NP
Caso
Sexo
Idade (anos)
Dom
Δtt (anos)
UCLA
Força (kg)
Força arredondada (L)
Escala de Constant-Murley
1
1
F
53
6
35
11
24
97
2
2
M
74
6
35
9
20
91
3
3
F
52
+
6
33
12
25
97
4
4
F
43
+
6
35
10
22
93
5
5
M
54
+
6
35
12
25
99
6
7
M
53
+
6
35
10
22
91
7
8
M
43
+
12
31
10
22
90
8
9
M
38
+
6
35
10
22
93
9
10
M
47
+
12
34
12
25
90
10
11
F
59
12
31
4
9
72
11
12
M
44
+
15
35
12
25
96
12
13
F
58
+
6
33
11
24
99
13
14
M
56
+
13
32
9
20
90
14
15
M
62
8
34
6
13
84
15
16
M
62
+
12
34
11
24
93
16
17
F
56
8
33
9
20
91
17
18
M
47
+
8
34
12
25
95
18
19
M
38
+
10
35
12
25
94
Com relação ao grupo IV, a média na UCLA foi de 32,9, sendo 6 resultados excelentes
(37,5%), 9 resultados bons (56,2%) e 1 resultado insatisfatório (6,3%). No momento
da segunda avaliação, um caso que havia resultado excelente na primeira avaliação[21 ] (caso 8), com pontuação de 35 na UCLA, teve sua pontuação diminuída para 27, principalmente
devido a dor e diminuição de função e força após queda ao solo e trauma havia 8 meses.
Devido à pandemia de doença do coronavírus 2019 (coronavirus disease 2019 , COVID 19, em inglês), o paciente não quis procurar assistência médica ([Tabela 2 ]). Não houve diferença estatística com relação á média atual na UCLA em função do
sexo (p = 0,298), do acometimento ou não do LD (p = 0,781), ou da idade (p = 1,000). Em relação à escala de Constant-Murley, a média foi 86,8, sendo 6 resultados
excelentes (37,5%), 8 resultados bons (50%), 1 resultado satisfatório (6,25%) e 1
resultado regular (6,25%). O resultado satisfatório na escala de Constant-Murley (caso
9) perdeu pontos no quesito força (9 pontos), apesar de manter-se com pontuação satisfatória
na UCLA (33 pontos). O caso pontuado como regular (caso 8) foi o mesmo que apresentou
pontuação baixa na UCLA devido à queda sofrida havia 8 meses. Houve diferença estatística
entre a média na escala de Constant-Murley em função do sexo, da força e da idade,
sendo que, proporcionalmente, os homens (p = 0,012) com idade inferior a 60 anos (p = 0,043) obtiveram, de forma estatisticamente significativa (p = 0,003), uma pontuação maior (média de 91,6), principalmente devido à maior força
(média: 10,4 kg). Em relação à força média, não houve diferença estatística em relação
à idade (p = 0,059), apesar de o valor de p ter ficado muito próximo do nível de significância, o que mostra uma tendência dos
pacientes idosos (acima de 60 anos) a ter menor força média (5,5 kg) em relação aos
mais jovens (9,3 kg). Em relação à força média e ao lado ser ou não o dominante, não
houve diferença estatística (p = 0,129), sendo a média da força de 8,25 kg no LD contra 6,75 kg no LND.
Tabela 2
NP
Caso
Sexo
Idade (anos)
Dom
Δtt (anos)
UCLA
Força (kg)
Força arredondada (L)
Escala de Constant-Murley
Comp.
1
1
M
62
+
6
35
12
25
98
2
4
F
71
+
6
33
4
9
82
3
5
M
78
6
34
7
15
82
4
6
F
60
8
33
4
9
82
5
7
M
42
+
11
34
10
22
91
6
8
F
76
+
8
27
2
4
65
T
7
9
F
63
+
6
33
4
9
78
8
11
M
42
+
6
33
12
25
94
9
12
F
32
+
14
33
10
22
93
10
14
M
46
+
6
33
10
22
88
11
15
F
54
11
32
4
9
82
12
16
M
42
+
9
32
9
20
87
13
17
M
53
+
6
31
10
22
88
14
18
M
54
+
6
34
10
22
95
15
19
M
59
6
35
12
25
98
16
20
F
51
+
6
35
6
13
86
Ao compararmos os grupos III e IV, não notamos diferença estatística em relação a
sexo (p = 0,533), idade (p = 0,488), e dominância (p = 0,693), sendo ambos os grupos estatisticamente semelhantes. Comparando a pontuação
média na UCLA entre eles, não houve diferença estatística (p = 0,113), com resultado final total médio de 33,8 para o grupo III (31–35) e de 32,9
para o grupo IV (27–35). Comparando a pontuação média de Constant-Murley entre os
grupos, não houve diferença estatística (p = 0,075), com resultado final médio de 91,9 para o grupo III (variação: 72–99) e
de 86,8 para o grupo IV (variação: 65–98) ([Tabela 3 ]).
Tabela 3
Grupo III
Grupo IV
Valor de p
UCLA
33,8
32,9
0,113
Escala de Constant-Murley
91,9
86,8
0,075
Ao compararmos a força média do LD entre os grupos III e IV, houve diferença estatística,
sendo que o grupo III apresentou força média maior (11 kg) do que o grupo IV (8,25 kg),
com p = 0,042.
Ao avaliarmos os pacientes submetidos à técnica de RTT, os grupos I[21 ] e III, comparou-se a média anterior na UCLA com a média atual, e não houve diferença
estatística (p = 0,374) ([Tabela 4 ]).
Tabela 4
NP
Caso
UCLA 1[21 ]
UCLA 2 (2ª avaliação)
Valor de p
1
1
35
35
2
2
35
35
3
3
35
33
4
4
35
35
5
5
35
35
6
7
35
35
7
8
32
31
8
9
35
35
9
10
32
34
10
11
31
31
11
12
34
35
12
13
32
33
13
14
31
32
14
15
23
34
15
16
34
34
16
17
33
33
17
18
33
34
18
19
33
35
Média
32,9
33,8
0,374
Ao avaliarmos os pacientes submetidos à técnica de RPCL, os grupos II[21 ] e IV, comparou-se a média anterior na UCLA com a média atual, e não houve diferença
estatística (p = 0,859) ([Tabela 5 ]).
Tabela 5
NP
Caso
UCLA[21 ]
UCLA (2a avaliação)
Valor de p
1
1
32
35
2
4
33
33
3
5
34
34
4
6
34
33
5
7
32
34
6
8
35
27
7
9
32
33
8
11
33
33
9
12
34
33
10
14
32
33
11
15
33
32
12
16
32
32
13
17
33
31
14
18
32
34
15
19
33
35
16
20
35
35
Média
33,1
32,9
0,859
Discussão
Sobre a técnica RPCL, Shin (2012) afirma que a desinserção de toda a margem lateral
do manguito rotador, ao transformar a lesão parcial em completa, pode levar ao risco
do reparo não anatômico, o que altera a biomecânica e, portanto, provoca uma degeneração
precoce do tendão, o que pode aumentar os índices de rerrotura.[16 ] Ono et al.[20 ] evidenciam que o índice de rotura pós-reparo varia em média de 1,8 a 6,1% de acordo
com a técnica utilizada, sendo as técnicas RTT e RPCL, respectivamente; porém, os
resultados finais foram bons/excelentes independentemente da técnica e após 40,5 meses
de seguimento. Neste estudo, temos um possível caso de rerrotura pós-traumática (caso
8, grupo IV), evento este não relacionado com o procedimento realizado, mas que não
pôde ser confirmado porque a paciente não quis procurar assistência médica. Além desse
caso, não desconfiamos clinicamente de nenhum caso de rerrotura, uma vez que, de acordo
com a escala da UCLA, todos os casos se enquadram entre bons e excelentes.
A literatura nos mostra a relação entre os resultados obtidos de acordo com as escalas
estudadas e o tempo de evolução pós-operatória. Poucos trabalhos têm seguimento pós-operatório
extenso, mais longo do que 2 anos.[1 ]
[23 ]
[24 ]
[25 ] Stuart et al.[1 ] avaliaram os pacientes com LPPAMR em 2 momentos pós-operatórios (1 e 12 anos), e
perceberam que, após a melhora estatisticamente significativa na primeira avaliação,
não houve alteração entre as avaliações. Vap et al.[23 ] evidenciaram que, aos 5 anos de pós-operatório da LPPAMR, os resultados funcionais
e de satisfação dos pacientes foram excelentes, o que corrobora a ideia de que estes
resultados se mantêm elevados no médio prazo. Rossi et al.[24 ] identificaram resultados excelentes em mais de 80% de seus pacientes com LPPAMR
após um seguimento pós-operatório mínimo de 8 anos. Da mesma forma, Dey Hazra et al.[25 ] realizaram 3 reavaliações pós-operatórias dos seus pacientes com LPPAMR (2, 5 e
10 anos), e também perceberam que, após a melhora registrada na primeira avaliação,
o resultado se manteve, sem diferença estatística. Neste trabalho, ocorreu a mesma
coisa do que nesses estudo citados anteriormente. Sella et al.[21 ] observaram maioria de resultados bons e excelentes após 2 anos de pós-operatório
e, na segunda avaliação, após um seguimento pós-operatório mínimo de 6 anos, não houve
modificação estatística dos parâmetros de avaliação.
Clinicamente, ao realizarmos esta avaliação atual em nossos pacientes, percebemos
o aumento significativo (p = 0,042) da força média dos pacientes do grupo III (LD: 11 kg; LND: 7,8 kg) em relação
ao grupo IV (LD: 8,25 kg; LND: 6,75 kg), embora não tenha havido diferença estatística
entre as pontuações na escala de Constant-Murley.[27 ] Na nossa opinião, é bastante provável que esses valores maiores se devam ao fato
de que se mantém parte do tendão nativo à sua inserção original na técnica de RTT.
Nenhum dos artigos que fez a comparação clínica entre os métodos relatou que houve
diferença estatística entre as forças finais encontradas, pois não consideraram a
variável força, apesar de todos terem utilizado a escala de Constant-Murley em suas
avaliações.[8 ]
[11 ]
[16 ]
[17 ]
[18 ]
[20 ]
[22 ] Subentende-se que a variável força melhore independentemente do método cirúrgico
escolhido, pois a maioria dos estudos afirmam que há melhora na pontuação na escala.
Isso se confirma quando analisamos separadamente aqueles estudos que utilizaram apenas
uma técnica cirúrgica e que avaliaram de alguma forma a força final de seus pacientes.
Castagna et al.,[28 ] em uma avaliação clínica somente de pacientes submetidos à RTT, descreveram que
utilizaram um sistema de teste muscular chamado Lafayette; porém, nos resultados,
não especificaram valores, apenas relataram um aumento significativo na pontuação
na escala de Constant-Murley, e que todos os parâmetros desta escala melhoraram. Fama
et al.,[19 ] por exemplo, obtiveram aumento significativo da força final ao utilizar a RPCL.
Eles citam valores médios de força pré-operatórios de 4,4 kg e pós-operatórios de
9,9 kg, mas não especificam se o ombro em questão era o do LD ou o do LND.[19 ]
Entendemos que o acompanhamento dos pacientes por tempo de seguimento maior sempre
nos ajuda a entender melhor a evolução no longo prazo. Em comparação com nosso trabalho
anterior,[21 ] quase que dobramos o tempo de seguimento, mas principalmente aumentamos o tempo
mínimo de seguimento para 6 anos. Dos poucos trabalhos com seguimento de longo prazo,
apresentamos seguimento mínimo maior do que o de Vap et al.[23 ] Este é o primeiro trabalho publicado até o momento, em língua inglesa, em que se
faz uma comparação clínica das técnicas utilizadas discorrendo especificamente sobre
a variável força, que inclusive foi estatisticamente significante a favor dos pacientes
submetidos a técnica de RTT. Consideramos isto um ponto forte e um fator de importância
para a divulgação entre os especialistas.
Como definição de conduta, nosso grupo opta por realizar o reparo das LPPAMR pela
técnica de RTT quando se trata de pacientes jovens cuja lesão tenha origem traumática,
e naqueles que praticam esportes que requerem força do membro superior, visto ser
esta a única variável que obtém melhora estatisticamente significativa. Já nos pacientes
idosos cuja lesão tem origem degenerativa e que não necessitam de ganho de força substancial
para a prática esportiva, a técnica de RPCL é a escolhida, pela facilidade e tempo
cirúrgico diminuído, pois sabemos que esta técnica resultará em melhora significativa
da dor e função do ombro.
Conclusão
Concluímos que o tratamento artroscópico das LPPAMR, tanto pela técnica de RTT quanto
pela técnica de RPCL, atingiu uma pontuação média satisfatória na escala da UCLA,
sem diferença estatística. Obtivemos também pontuações médias satisfatórias na escala
de Constant-Murley para ambas as técnicas, sem diferença estatística entre elas. Tampouco
houve diferença estatística entre a primeira e a segunda avaliações considerando a
mesma técnica utilizada.
Após 6 anos, os pacientes tratados pela técnica de RTT atingiram estatisticamente
força média maior no LD em comparação com o LND e maior do que os pacientes tratados
pela técnica de RPCL.