Open Access
CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2023; 58(06): e924-e931
DOI: 10.1055/s-0043-1776986
Artigo Original
Joelho/Quadril

Prevalência de dor neuropática em pacientes com osteoartrite

Article in several languages: português | English
1   Especialista em Medicina Física e Reabilitação, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
2   Grupo de Investigação em Reabilitação, Universidad del Valle, GIRUV, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
,
Iveth Urbano
1   Especialista em Medicina Física e Reabilitação, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
2   Grupo de Investigação em Reabilitação, Universidad del Valle, GIRUV, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
,
María Ana Tovar-Sanchez
1   Especialista em Medicina Física e Reabilitação, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
2   Grupo de Investigação em Reabilitação, Universidad del Valle, GIRUV, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
,
Catalina Baena
1   Especialista em Medicina Física e Reabilitação, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
2   Grupo de Investigação em Reabilitação, Universidad del Valle, GIRUV, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
,
Sara G. Pacichana-Quinayaz
3   Fundacíon SCISCO, Somos Ciencia al Servicio de la Comunidad, Cali, Colômbia
,
Francisco J. Bonilla-Escobar
3   Fundacíon SCISCO, Somos Ciencia al Servicio de la Comunidad, Cali, Colômbia
4   Departamento de Oftalmologia, Institute for Clinical Research Education (ICRE), School of Medicine, University of Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos.
5   Service of Ophthalmology, Universidad del Valle, Cali, Colômbia
› Author Affiliations

Suporte Financeiro Este estudo não recebeu financiamento.
 

Resumo

Objetivo O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de dor neuropática e caracterizar a qualidade de vida de pacientes com osteoartrite que consultaram um ambulatório de dor no sudoeste da Colômbia.

Métodos Este foi um estudo transversal realizado por meio de entrevista telefônica. Foram incluídos participantes ≥18 anos de idade com diagnóstico de osteoartrite. O questionário Leeds Assessment of Neuropathic Symptoms and Signs (LANSS) foi utilizado para avaliação dos sintomas e sinais de dor neuropática e o Short Form-8 analisou a qualidade de vida.

Resultados A taxa de resposta foi de 54,1% (46/85). A razão homem:mulher foi de 5:1, com média de idade de 72 ± 10 anos. A maioria dos participantes (91,3%) apresentava dor intensa. A prevalência de dor neuropática foi de 28,3% (intervalo de confiança [IC] de 95% = 15,99-43,46) e a prevalência de dor neuropática entre mulheres foi de 84,6% (IC 95% = 54,55-98,01). Disestesias e dor paroxística foram relatadas por 92,3% dos indivíduos com dor neuropática. Em relação à qualidade de vida, as limitações na prática de atividade física foram as mais significativas e relatadas por 63% dos indivíduos.

Conclusão A dor neuropática foi prevalente e tinha impacto negativo na função física. Isso destaca a necessidade de estratégias terapêuticas direcionadas a vias específicas da dor neuropática em pacientes com osteoartrite.


Introdução

A osteoartrite (OA) é a forma mais comum de artrite, pois afeta 3,3% a 3,6% da população global.[1] Entre os adultos mais velhos, a OA é uma das principais causas de mortes e incapacidades em todo o mundo, gerando altas despesas médicas nas populações de meia-idade e idosas.[2] Nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido, na França e na Austrália, os custos da OA representam entre 1% e 2,5% do produto interno bruto.[3] Os sintomas comuns da OA são dores, rigidez e inchaço nas articulações. Dentre as características histológicas, estão inflamação, danos na cartilagem e formação de osteófitos decorrentes de tentativas de reparo.[4] Aproximadamente 80% das pessoas com mais de 65 anos apresentam evidência radiográfica de OA, em especial nas articulações do quadril e do joelho.[5]

A associação entre doença articular e neuropatia periférica está bem estabelecida há muitos anos.[6] Embora historicamente a dor associada à OA tenha sido considerada exclusivamente nociceptiva, há evidências recentes crescentes que apoiam a ideia da coexistência de um componente neuropático.[7] [8] A International Association for the Study of Pain (IASP) afirma que a definição de dor neuropática (DN) deve incluir uma lesão central ou periférica do sistema somatossensorial.[9] O mecanismo exato da neuropatia periférica relacionada à OA ainda é, em grande parte, desconhecido.[10]

A prevalência de DN na população geral é estimada entre 6,9% e 10%.[11] Em indivíduos com OA de joelho ou quadril, a prevalência de DN é em torno de 23%.[8] A DN tem implicações significativas na qualidade de vida (QV), incluindo distúrbios de sono, ansiedade e depressão.[12] A significativa morbidade e mortalidade da AO indica a necessidade de pesquisas que abordem a relação entre DN e OA.

Assim, combinado com a escassez de evidências sobre OA em países de baixa e média renda, o objetivo principal deste estudo foi determinar a prevalência de DN em pacientes com OA que consultaram o ambulatório de dor em um centro de referência no sudoeste da Colômbia. O objetivo secundário foi explorar a qualidade de vida desses pacientes.


Métodos

Delineamento Experimental

Este foi um estudo transversal realizado por meio de entrevista telefônica. A pesquisa utilizou as versões em espanhol do questionário Leeds Assessment of Neuropathic Symptoms and Signs (LANSS)[13] [14] e o questionário Short Form-8 (SF-8)™.[15] O estudo foi aprovado pelos comitês de ética da Universidad del Valle and the Hospital Universitario del Valle E.S.E (code 016-017).


Cenário

Os participantes do estudo foram recrutados no ambulatório de dor do Hospital Universitário de Valle (HUV), um centro terciário no sudoeste da Colômbia que possui cerca de 500 leitos e é o principal centro de referência, cobrindo uma rede de cerca de 22.195 km2.


População do Estudo

A população do estudo foi identificada por meio de busca no cadastro de pacientes que consultaram o ambulatório de dor do Departamento de Medicina Física e Reabilitação do HUV. Os prontuários eletrônicos foram revisados e os pacientes foram submetidos à triagem de forma retrospectiva para OA de acordo com a classificação Internacional de Doenças versão 10 (CID-10) com códigos M15 a M19.[16] O estudo incluiu participantes ≥18 anos de idade e com diagnóstico positivo de OA primária ou secundária.

Os indivíduos foram contatados entre março e abril de 2018. O consentimento informado verbal foi obtido de todos os participantes antes da entrevista. Foram excluídos indivíduos com estado mental ou cognitivo alterado, deficiência auditiva, diagnóstico prévio de DN por outras causas, fibromialgia, tratamento por mais de oito semanas com antineurálgicos em doses terapêuticas,[17] câncer ativo e doenças autoimunes.


Variáveis

Características sociodemográficas e clínicas, incluindo idade, sexo, maior escolaridade, situação profissional e localização da pior dor, foram coletadas. As características da dor e a QV foram coletadas por meio do LANSS e do SF-8.[15]

O LANSS tem duas seções. A primeira seção tem quatro questões que exploram os sintomas essenciais da DN agrupados em disestesias (alfinetes e agulhas, socos), alterações autonômicas (aparência manchada ou avermelhada da pele), dor provocada (pele anormalmente sensível ao toque) e dor paroxística (presença de choques elétricos, pulos ou choques). A segunda seção é uma autoavaliação física à procura da presença de sinais positivos de DN, alodinia, e um sinal negativo, a hipoestesia. Uma pontuação maior ou igual a 12 é indicativa de DN.[14]

O questionário SF-8[15] é uma versão abreviada do SF-36 e contém oito subescalas. O SF-8 avalia os aspectos físicos e mentais da qualidade de vida ao pedir que os participantes relatem o impacto de uma doença em vários aspectos da sua vida nas últimas quatro semanas e foi validado em espanhol.[15]


Coleta de Dados

As entrevistas por telefone foram realizadas durante um período de cinco semanas. Antes de iniciar e para evitar ligações não solicitadas, os pacientes foram questionados sobre seu estado de saúde e a data da última e da próxima consulta, atividade regular no ambulatório. Dois dos pesquisadores principais treinados na aplicação da pesquisa fizeram as ligações. As respostas foram registradas em questionários impressos e as informações foram posteriormente inseridas em um banco de dados Excel para análise.

Caso o paciente não conseguisse realizar o exame físico ou responder o questionário de forma independente, como pacientes idosos com dificuldade de compreensão das questões, um familiar podia auxiliá-lo.


Análise de Dados

A análise dos dados foi realizada no programa Stata 16 (Stata Corp.®, TX, EUA). Inicialmente, foi realizada uma análise exploratória dos dados para identificar dados faltantes, erros de digitação e valores inconsistentes. Depois, esses dados foram corrigidos com base em prontuários ou registros em papel.

Foi realizada análise descritiva univariada para cálculo de medidas de tendência central (média, mediana) e dispersão (desvio-padrão, percentis, valores máximos e mínimos) de variáveis contínuas. As variáveis categóricas foram descritas como frequências relativas e porcentagens. A análise bivariada comparou dois grupos, ou seja, pacientes com DN e sem DN, com base em variáveis sociodemográficas e clínicas. Testes de hipóteses bicaudais foram realizados conforme o tipo de variável em comparação; variáveis categóricas foram analisadas pelo teste de qui-quadrado ou exato de Fisher e variáveis contínuas foram analisadas pelo teste t ou o teste de Wilcoxon, como apropriado. A normalidade foi avaliada pelo teste de Shapiro-Wilk e a igualdade das variâncias foi analisada pelo teste da razão de variâncias. A significância foi estabelecida em um valor de p <0,05.



Resultados

Um total de 126 pacientes com diagnóstico de OA foram selecionados no registro. Destes, 41 foram excluídos. Foram listados 85 pacientes para entrevista telefônica; os investigadores fizeram em média cinco tentativas de ligação para cada um dos participantes. Foram descartados 39 pacientes: 32 porque o número de telefone era inválido, inativo ou não houve resposta; cinco faleceram; e dois não consentiram em participar da pesquisa. Assim, foram entrevistados 46 pacientes com diagnóstico de OA (taxa de resposta de 54,12%) ([Fig.1]).

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Fig. 1 Diagrama de seleção de pacientes.

As características sociodemográficas e clínicas dos participantes estão resumidas na [Tabela 1.] A maioria dos participantes era do sexo feminino (82,6%) e a média de idade foi de 72 ± 10 anos. Não houve diferenças significativas de idade por sexo (p = 0,35) ou presença de DN (p = 0,71).

Tabela 1

Característica

Todos (n = 46)

Dor neuropática

Valor de p

Não (n = 31)

Sim (n = 15)

Idade, média ± DP

72 ± 10 anos

72,68 ± 10,52

71,47 ± 10,24

0,71[+]

Sexo: Feminino, n (%)

38 (82,6)

26 (83,87)

12 (80)

1,0

Educação, n (%)

0,14

 < Primária

25 (54,35)

18 (58,06)

7 (46,67)

 Primária

13 (28,26)

6 (19,35)

7 (46,67)

 > Primária

8 (17,39)

7 (22,58)

1 (6,67)

Estado civil, n (%)

0,92

 Casado(a)

19 (41,30)

12 (38,71)

7 (46,67)

 Solteiro(a)/Divorciado(a)

17 (36,96)

12 (38,71)

5 (33,33)

 Viúvo(a)

10 (21,74)

7 (22,58)

3 (20)

Situação de emprego: Aposentado(a), n (%)

39 (84,78)

27 (87,10)

12 (80)

0,67

Cidade de moradia: Cali, n (%)

30 (65,22)

21 (67,74)

9 (60)

0,61

Dor grave: Sim, n (%)

42 (91,3)

27 (87,1)

15 (100)

0,29

Escala Visual Análoga de dor, mediana ± IIQ

9 (8-10)

9 (8-10)

10 (8-10)

0,36*

Em relação à intensidade da dor medida pela Escala Visual Análoga (EVA), 91,3% (n = 42/46) apresentaram dor intensa, correspondendo a uma pontuação entre 7 e 10. Dentre os pacientes com pontuação LANSS ≥12, 46,1% avaliaram a intensidade da dor como 10. Os pacientes perceberam a pior dor nos quadris (38,5%) e no joelho (30,8%) ([Fig. 2]).

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Fig. 2 Percepções dos pacientes acerca da pior dor em cada área corporal.

De modo geral, a prevalência de DN foi de 28,3% (n = 13, IC 95% = 16-43,5). Dentre as mulheres, a prevalência foi de 84,6% (n = 11, IC 95% = 54,5-98). Na análise segregada das variáveis do questionário LANSS, a dor paroxística foi o sintoma mais prevalente ([Tabela 2]). Nos participantes com DN, os dois tipos de dor mais frequentes foram a disestesia e a dor paroxística ([Fig. 3]).

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Fig. 3 Frequência de sinais e sintomas em pacientes com dor neuropática.
Tabela 2.

Item do questionário

Frequência (n = 46)

Porcentagem (%)

Sintomas Essenciais

 Disestesias

24

52,17

 Alterações autonômicas

6

13,04

 Dor provocada

23

50

 Dor paroxística

27

58,7

Autoavaliação física

 Alodinina

14

30,43

 Hipoestesia

19

41,3

Em relação à avaliação da QV ([Tabela 3]), a Saúde Física foi mais afetada pelas subescalas Saúde Geral, Aspectos Físicos e Dor Corporal. Dentre os participantes, 60,9% consideraram sua saúde geral como “regular”, 63% relataram limitações “significativas” ou “completas” nas funções físicas e mais de metade (60,8%) relatou limitações “graves” ou “muito graves” nas subescalas de Dor Corporal. A Saúde Mental foi afetada pelas subescalas Funcionamento Social e Saúde Mental e de alguma forma preservada na subescala Papel Emocional, onde a maioria dos participantes relatou problemas emocionais “nulos” ou “leves” (52,1%).

Tabela 3

Subescala

Item

n

%

Saúde geral

Excelente

1

2,17

Muito boa

4

8,7

Boa

4

8,7

Regular

28

60,87

Ruim

5

10,87

Muito ruim

4

8,7

Limitação das atividades físicas (papel - físico)

Nenhuma

3

6,52

Muito pequena

3

6,52

Regular

11

23,91

Significativa

17

36,96

Impossibilidade de fazer atividades físicas

12

26,09

Dificuldade no trabalho diário (funcionamento físico)

Nenhuma

9

19,57

Muito pequena

6

13,04

Regular

9

19,57

Significativa

14

30,43

Impossibilidade de trabalho diário

8

17,39

Dor corporal

Nula

2

4,35

Muito branda

2

4,35

Branda

2

4,35

Moderada

12

26,09

Grave

19

41,3

Muito grave

9

19,56

Vitalidade

Bem alta

3

6,52

Alta

6

13,04

Regular

16

34,78

Baixa

14

30,43

Nenhuma

7

15,22

Limitação das atividades sociais usuais

(funcionamento social)

Nenhuma

13

28,26

Muito pequena

4

8,7

Regular

6

13,04

Significativa

16

34,78

Impossibilidade de fazer atividades sociais

7

15,22

Problemas emocionais (papel - emocional)

Nenhum

13

28,26

Brandos

11

23,91

Moderados

6

13,04

Significativos

10

21,74

Extremos

6

13,04

Limitação das atividades diárias por problemas pessoais ou emocionais (saúde mental)

Nenhuma

5

10,87

Muito pequena

7

15,22

Regular

14

30,43

Significativa

14

30,43

Impossibilidade de fazer atividades diárias

6

13,04


Discussão

Em nosso estudo, a prevalência global de DN foi de 28,3%, o que pode ser contrastado com outro estudo em que a prevalência de DN foi de 37%; no entanto, esse estudo investigou exclusivamente indivíduos com dor no joelho.[18] Uma revisão sistemática estimou a prevalência de DN entre indivíduos com OA em 23%; no entanto, a revisão incluiu OA de joelho ou quadril.8 Faltam pesquisas que investiguem a presença de DN especificamente entre indivíduos com OA e, em todo o mundo, existem poucos estudos que caracterizem a prevalência de DN naqueles com dor crônica de diferentes etiologias .

Nosso estudo constatou que a DN foi mais prevalente entre as mulheres, o que está de acordo com relatos anteriores.[11] [19] [20] [21] A razão para essa diferença entre os sexos não está clara. Contudo, pode estar relacionada a deficiências hormonais que se desenvolvem em mulheres perto da menopausa, tornando-as suscetíveis à OA e, portanto, à DN.[19]

A maioria dos participantes (91,3%) relatou dor intensa. Observamos que o quadril e o joelho foram relatados como áreas de pior dor em pacientes com OA. A DN entre aqueles com dor no quadril foi super-representada, uma vez que a prevalência foi de 38,5%, enquanto a prevalência de DN em outras áreas de dor na OA foi de 28,3%. Nossos achados mostram uma alta frequência de dor no quadril, contrastando relatos da América Latina, que estimam a prevalência de OA de joelho em 31,2%, e apenas 1,3% dos pacientes tinham OA de quadril.22 As altas taxas de OA de quadril em nosso estudo podem ter ocorrido porque a maioria dos participantes eram do sexo feminino (82,6%) e já tinham passado pela menopausa, já que foi constatado que alterações hormonais podem ser um fator de risco para OA de quadril.20,21

Na avaliação de QV, metade dos participantes relataram limitações “significativas” ou “completas” na subescala de funcionamento social. Como a idade média dos pacientes era de 72 anos, essas limitações no funcionamento social podem ser atribuídas a fatores como o estreitamento das redes sociais e as mudanças nos papéis sociais que podem ocorrer com o aumento da idade.23 Ao mesmo tempo, a maioria dos participantes relatou problemas emocionais “leves” ou “nulos” (52,1%), o que pode refletir o aumento da estabilidade emocional que também pode surgir com o aumento da idade.23 No entanto, 43% relataram limitações “significativas” ou “completas” em suas atividades diárias por motivos pessoais ou emocionais (saúde mental). Como tanto o funcionamento social quanto o físico diário contribuem para um envelhecimento saudável,24 há necessidade de investigar mais a fundo o efeito da OA e da DN nos fatores sociais e emocionais dos idosos.

Como já mencionado, a dor da OA pode ser nociceptiva e neuropática.[10] Três fatores importantes foram identificados na origem da dor da OA. O primeiro é o aumento local de citocinas e interleucinas no líquido sinovial da articulação. Em segundo lugar, fatores gerais, como alterações biomecânicas e bioquímicas decorrentes de obesidade ou diabetes. Terceiro, alterações neuroplásticas, como sensibilização periférica devido ao crescimento excessivo de fibras nervosas na cartilagem articular que normalmente não é revertido;[25] esse mecanismo pode ser o mais significativo no que diz respeito ao aparecimento de DN na OA, pois a definição de DN deve incluir uma alteração estrutural do sistema somatossensorial.[8] [9] [10]

Hoje, na Colômbia, o tratamento predominante da OA é o paracetamol e agentes anti-inflamatórios não esteroidais.[22] No entanto, como nosso estudo enfatiza a prevalência de DN em indivíduos com OA, nossos resultados também destacam a necessidade de intervenções mais direcionadas à abordagem da OA e da DN. Opções farmacológicas, como a duloxetina, já aprovada para OA de joelho como dor crônica em outras diretrizes5 e o bloqueio do receptor do ácido lisofosfatídico lipídico (LPA),26 proposto como método farmacológico para inibir danos aos nervos articulares, devem ser o foco de mais estudos em OA e DN.27 Além disso, as abordagens não farmacológicas incluem o tratamento adaptado aos processos cognitivos envolvidos na fenomenologia da dor, como a sensação de catástrofe relacionada à dor, que tem se mostrado eficaz no manejo multidisciplinar da dor.[28]

Limitações

O questionário LANSS validado para aplicação telefônica apresenta sensibilidade e especificidade de 52% e 78%, respectivamente. Estes valores são relativamente baixos; no entanto, este é o único questionário relevante validado em espanhol para uso telefônico. Mais pesquisas são necessárias para validação e avaliação da confiabilidade de ferramentas semelhantes.

Outra limitação é o pequeno tamanho da amostra que fornece informações relevantes sobre a taxa de resposta dos participantes inscritos neste tipo de pesquisa. Até onde sabemos, estas informações não foram descritas na Colômbia. Tentamos localizar os participantes com vários telefonemas para incluir o maior número possível de indivíduos. O poder que atingimos com base no tamanho da amostra (n = 46), uma proporção nula de 37%,19 um alfa de 5%, e a prevalência que descrevemos de 28,3%, foi de apenas 21%. Como este é o primeiro estudo que descreve OA e DN na Colômbia e na América Latina, as informações podem ser úteis para futuros pesquisadores usarem um método diferente de coleta de dados e calcularem um tamanho de amostra com base em nossos resultados.


Pontos Fortes

Até onde temos conhecimento, este é o primeiro estudo na América Latina a avaliar tanto OA quanto DN. Há necessidade de pesquisas sobre esse assunto em todo o mundo. Utilizamos uma ferramenta validada para avaliação da variável desfecho (DN). As entrevistas foram realizadas por médicos residentes, o que proporcionou uma coleta de dados de alta qualidade devido aos desafios de uma pesquisa que inclui o autoexame.



Conclusão

Em nosso estudo, constatamos que a prevalência de DN em pacientes com OA foi próxima de 30%. Sabe-se cada vez mais que a dor associada à OA não é puramente somática. Evidências recentes mostram a existência de alterações do sistema somatossensorial na articulação artrítica. Devido à prevalência de DN nos participantes do nosso estudo, há necessidade de mais pesquisas que investiguem os mecanismos fisiológicos da DN em pacientes com OA. A compreensão das diferenças nos mecanismos da dor permite estratégias direcionadas para vias específicas da dor e permite aos profissionais de saúde prever e compreender melhor a resposta terapêutica do paciente. Portanto, mais estudos interdisciplinares são necessários para caracterização da DN em indivíduos com OA.



Conflito de Interesses

Os autores declaram não haver conflitos de interesses.

Agradecimentos

Os autores agradecem Sohaib Haseeb, Annora Kumar e Dino Ventolini Zuluaga por suas contribuições na edição deste documento.

Acknowledgments

The authors thank Sohaib Haseeb, Annora Kumar and Dino Ventolini Zuluaga for their contributions in editing this document.

Estudo desenvolvido no Departamento de Medicina Física e Reabilitação, Universidad del Valle, Cali, Colombia.



Endereço para correspondência

María Eugenia Zuluaga Ruiz
Physical Medicine and Rehabilitation Specialist, Univalle: Universidad del Valle
Cali, Valle
Colombia   

Publication History

Received: 26 December 2022

Accepted: 07 February 2023

Article published online:
08 December 2023

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Fig. 1 Diagrama de seleção de pacientes.
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Fig. 2 Percepções dos pacientes acerca da pior dor em cada área corporal.
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Fig. 3 Frequência de sinais e sintomas em pacientes com dor neuropática.
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Fig. 1 Patient selection diagram
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Fig. 2 Perceptions of patients who perceived the worst pain by body area
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Fig. 3 Frequency of signs and symptoms in patients with neuropathic pain