Palavras-chave
artroscopia - enxertos - osso escafoide - parafusos ósseos - pseudartrose - punho
Introdução
A falha de consolidação é uma das principais complicações no tratamento da fratura
do escafoide, e pode evoluir para um padrão degenerativo chamado de punho SNAC (scaphoid nonunion advanced collapse), que gera dor, rigidez e perda de força. Para prevenir esse grave problema, as pseudartroses
do escafoide (PAE) devem ser tratadas de forma cirúrgica, sendo que o procedimento
clássico se baseia no desbridamento do foco da lesão, colocação de enxerto ósseo e
fixação interna rígida.[1]
[2]
[3]
[4]
[5]
[6]
A escolha do tipo de enxerto ósseo usado no tratamento das PAE varia conforme a vascularização
e a deformidade do escafoide, podendos ser esponjoso para lesões com pouca deformidade,
córtico-esponjoso para lesões instáveis e com deformidade em corcova (humpback deformity) e vascularizado quando o pólo proximal do escafoide está necrótico.[2]
[3]
[6]
[7] Essas técnicas permitem corrigir a deformidade e restaurar a anatomia e o alinhamento
do carpo, porém a maioria necessita de abordagem ampla, produzindo danos à cápsula
e ligamentos, podendo causar fibrose, rigidez e perda da propriocepção.[8]
Recentemente alguns autores mostraram as vantagens do uso da artroscopia e de procedimentos
minimante invasivos no tratamento de fraturas e PAE. Destaca-se a menor morbidade,
gerando rápida recuperação, além de permitir o tratamento de lesões associadas durante
o mesmo procedimento. Além disso, preserva-se a propriocepção do punho ao minimizar
o dano à cápsula e ligamentos e não causa maior prejuízo à já frágil vascularização
do escafoide.[9]
[10]
[11]
[12]
[13]
[14]
[15]
A artroscopia foi inicialmente indicada para as PAE estáveis, levando em conta a dificuldade
da correção da deformidade em flexão do escafoide sem o uso de enxerto estruturado
córtico-esponjoso.[14] No entanto, Cohen et al.[3], utilizando apenas enxerto esponjoso (não estruturado) em PAE com colapso, tiveram
100% de consolidação e ótimos resultados clínicos com dois anos de evolução. Com isso,
alguns autores começaram a utilizar a artroscopia no tratamento de todos os padrões
de PAE, inclusive nas instáveis e com colapso em flexão.[14]
[16]
[17] Artigos recentes mostram inclusive bons resultados no tratamento da PAE sem o uso
de enxerto ósseo, apostando no potencial biológico regenerativo do punho e na estabilidade
óssea.[18]
Descreveremos aqui a técnica e os resultados de uma série de 23 pacientes com PAE
tratados com o uso da artroscopia, enxerto esponjoso e fixação interna percutânea,
preferencialmente com parafuso de compressão sem cabeça, incluindo lesões instáveis
e com colapso carpal.
Material e método
Este trabalho foi submetido e aceito pelo comitê de ética do nosso hospital, sendo
aprovados os TCLE aplicados.
Vinte e três pacientes (18 homens e cinco mulheres) foram operados com esta técnica.
A média de idade foi de 33,4 (16-55) anos e o tempo médio entre a fratura e a cirurgia
foi de 26 meses (12-60). Quanto ao tipo da fratura inicial, uma era A2, sete B1, nove
B2 e seis B3, pela classificação de Herbert e Fisher.[19]
[20] Entre os casos incluídos 5 (21,7%) apresentavam união fibrosa e 11 (47,8%) apresentavam
humpback deformity. Em três pacientes foi observada durante a artroscopia uma lesão parcial do ligamento
escafo-semilunar e dois apresentavam lesão da FCT, tendo sido tratadas no mesmo procedimento.
Apresentamos um estudo retrospectivo de uma série de pacientes com diagnóstico de
PAE tratados com reconstrução assistida por artroscopia, operados no período entre
janeiro de 2016 e outubro de 2020. Os critérios de inclusão foram ausência de consolidação
após fratura do escafoide com pelo menos seis meses de evolução após o trauma inicial.
Excluíram-se os pacientes com alterações degenerativas graves na articulação radiocarpal
e mediocarpal (RC) (SNAC tipo II e III). A avaliação da vascularização do pólo proximal
foi realizada através de Ressonância Magnética. Entretanto, alteração vascular do
escafoide não foi critério de exclusão, tampouco cirurgia prévia no local.
Após anamnese e exame físico sugestivas da lesão, todos pacientes tiveram o diagnóstico
confirmado com radiografias bilaterais do punho, apresentando características clássicas
de PAE, com falha de consolidação associada à esclerose nos bordos ósseos e alterações
císticas. Antes da cirurgia todos os pacientes realizaram radiografia bilateral dos
punhos e tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) do punho afetado.
Utilizamos a classificação de Herbert e Fischer no pré-operatório para definir o tipo
de fratura de escafoide.[19]
[20] ([Tabela 1]). O grau de deslocamento e instabilidade da lesão, definidos através dos ângulos
escafolunar (EL) e radiolunar (RL), foram obtidos através de ferramentas de medição
do sistema PACS® (Terch Heim, Seul, República da Coréia).[4]
Tabela 1
Classificação da fratura do escafoide por Herbert e Fisher
|
|
Tipo
|
Coluna1
|
Subtipo
|
Localização e/ou lesão
|
A
|
Fratura aguda e estável
|
|
A1
|
Tuberosidade
|
|
|
|
A2
|
Não deslocada do colo
|
B
|
Aguda, instável
|
|
B1
|
Oblíqua
|
|
|
|
B2
|
Deslocada ou móvel, do colo
|
|
|
|
B3
|
Pólo proximal
|
|
|
|
B4
|
Fratura-luxação
|
|
|
|
B5
|
Cominuta
|
C
|
Retardo de consolidação
|
|
C
|
|
D
|
Pseudartrose estabelecida
|
D1
|
Fibrosa
|
|
|
|
D2
|
Esclerótica
|
|
Retirado de Herbert e Fisher (17)
|
|
|
|
Seguindo esses critérios foram encontrados 27 pacientes submetidos ao tratamento de
PAE com artroscopia. Por falta de acompanhamento adequado, quatro pacientes foram
excluídos, sendo analisados 23 pacientes, que tiveram avaliação completa e acompanhamento
pós-operatório mínimo de 12 meses. Nos resultados foram analisados o aspecto clínico,
o tempo de consolidação e o tempo de retorno às atividades físicas e laborais, assim
como possíveis complicações decorrentes da cirurgia. Todas as cirurgias foram realizadas
conforme a técnica aqui descrita.
No pós-operatório, realizou-se estudo radiológico do punho em projeções próprias para
o escafoide a cada duas semanas até a consolidação, incluindo laterais, póstero-anteriores
e oblíqua com 45° de pronação do antebraço. Em caso de dúvida na consolidação do escafoide
foram realizadas TC a cada 30 dias.
A amplitude de movimento foi avaliada com um goniômetro padrão e uma avaliação funcional
foi realizada com o questionário DASH.[21] Essas avaliações foram realizadas no pré-operatório e ao final do seguimento. A
consolidação óssea foi determinada clinicamente pela ausência de dor a palpação do
escafoide na tabaqueira anatômica e através dos exames com a presença de ponte óssea
entre as duas extremidades da PAE em todas as projeções radiográficas ou em pelo menos
em dois cortes da TC.[17]
[22]
Técnica cirúrgica
Para acesso ao foco da PAE, utiliza-se o portal MC ulnar para visão (óptica) e o portal
MC radial como portal de trabalho (probe, shaver, curetas, osteótomos). O foco da PAE é inicialmente explorado e aberto com o uso
de um descolador de periósteo (Freer de 3mm), sendo após desbridado com shaver de partes moles e ósseo. Por último, o tecido fibroso e ósseo desvitalizado é removido
com o auxílio de curetas curvas e osteótomos delicados. Utilizamos na maior parte
do procedimento a técnica artroscópica seca, sendo o soro utilizado apenas para a
limpeza articular e retirada de fragmentos dos tecidos ressecados.
Após a limpeza do foco da PAE, o próximo passo é a correção da deformidade em DISI
da fileira proximal do carpo, obtida com a fixação do semilunar reduzido com fio de
K 1,5mm.
Depois, deve-se colocar o enxerto ósseo esponjoso no foco da PAE. Utilizamos uma seringa
de insulina com a sua ponta cortada de forma oblíqua para facilitar a entrada e o
posicionamento do enxerto. O portal MC radial deve ser alargado em poucos milímetros
para permitir a entrada de seringa. Após a colocação do enxerto no foco da pseudartrose,
esse deve ser impactado com o dorso de uma cureta ou com o descolador de periósteo.
Nas PAE do terço médio ou distal, quando se realiza a estiloidectomia do rádio pelo
portal RC 1/2, esse portal também pode ser utilizado para limpeza do foco da pseudartrose
e colocação do enxerto, proporcionando um acesso direto a porção radial e volar do
escafoide.
A última etapa do procedimento é a redução do pólo distal e a fixação do escafoide,
preferencialmente com o parafuso de compressão sem cabeça. Dependendo do tipo e local
da lesão a fixação pode ser feita com fios de Kirschner, parafusos de mini-fragmentos
ou associando métodos. Para isso o punho é removido da torre de tração e colocado
com a palma para cima sobre a mesa de apoio. Para a redução do pólo distal, o punho
deve ser posicionado em máxima extensão, manobra que também gera melhora do alinhamento
e ganho de comprimento do escafoide. Utilizamos de rotina a técnica de fixação percutânea
retrógrada para as PAE dos terços médio e distal. Nela, utiliza-se inicialmente um fio guia que deve entrar justo ao trapézio, e após
conferir que o fio está fixando os dois fragmentos do escafoide e está central em
seu eixo longitudinal, ele deverá servir de guia para a colocação do parafuso de compressão
sem cabeça (Herbert canulado ou similar) ([Fig. 1]). Para as PAE do terço proximal utilizamos a fixação anterógrada, que deve ser realizada
com o punho em flexão e com a entrada do fio guia pelo dorso da articulação RC, para
que o parafuso se localize de forma central no eixo longitudinal do escafoide. O ponto
correto de entrada do fio guia e posteriormente do parafuso pode ser encontrado com
auxílio da artroscopia. Sob visualização direta, coloca-se um abocath na parte proximal e ulnar do escafoide, ao lado da inserção do ligamento escafo-semilunar,
assim, com o abocath fixo no escafoide proximal, passa-se o FK guia por dentro dele ([Figs. 2], [3], [4], [5] e [6]).
Fig. 1 Paciente com pseudartrose de escafoide tratado com o uso da artroscopia, enxerto
esponjoso e fixação interna percutânea, utilizando torre de tração específica e malha
chinesa colocadas no segundo e quarto dedos (A). Utilizamos os portais rádio-cárpicos
ulnar para visualização e o radial para instrumentação (probe)(B). Após a fixação
se consegue visualizar a correta posição do parafuso de compressão sem cabeça (C).
Fig. 2 Técnica de tratamento da pseudartrose do escafoide com auxílio da artroscopia. Após
a limpeza dos bordos da pseudartrose, o pólo proximal do escafoide é reduzido com
a fixação do semilunar ao rádio em posição neutra (A). O enxerto ósseo é colocado
no espaço criado (B) e o punho é reduzido em máxima extensão (C) para que o pólo distal
do escafoide se reduza (1) e o escafoide ganhe comprimento. O escafoide é então fixo
com um fio de Kirschener de 1,2mm (2) e ambos os fragmentos do escafoide são fixados
com um parafuso canulado sem cabeça (D).
Fig. 3 Inicialmente se utiliza o portal MC ulnar para visão (óptica) e o portal MC radial
como local de trabalho (probe, shaver, curetas, osteótomos) (A). Após, nas pseudartroses do escafoide do terço médio ou
distal, quando se realiza a estiloidectomia do rádio pelo portal RC 1/2, esse portal
também pode ser utilizado para limpeza do foco da pseudartrose e colocação do enxerto,
proporcionando um acesso direto a porção radial e volar do escafoide (B).
Fig. 4 Principais passos do tratamento da pseudartrose do escafoide com uso de artroscopia.
Inicialmente se faz a limpeza do foco da lesão com o uso de shaver (detalhe superior). Após se coloca o enxerto ósseo e realiza-se a sua impacção (detalhe
médio e inferior).
Fig. 5 Limpeza do defeito ósseo do escafoide com auxílio de uma cureta (A e B), enxerto
ósseo colocado em uma seringa de insulina (C e D) e o aspecto final após a impacção
do enxerto no interior do defeito ósseo (E).
Fig. 6 Etapas da redução do escafoide e restauração do alinhamento do carpo com fio de Kirschner
através do rádio fixando o semilunar em posição neutra (A e B). Após, colocação do
fio de Kirschner guia (C e D) e fixação percutânea com o parafuso de compressão sem
cabeça de forma retrógrada (E, F, G e H).
Realizamos esse procedimento habitualmente em regime ambulatorial. Após a cirurgia,
o paciente é imobilizado com uma tala gessada de punho (antebráquio-palmar), deixando
os dedos e o polegar completamente livres, por duas semanas. Mantemos o FK fixando
o rádio ao semilunar por quatro semanas, sendo após esse período retirada a tala e
o paciente encaminhado para terapia. As lesões consolidam em um período médio de sete
semanas ([Fig. 7]), sendo que até a consolidação, o paciente é orientado a usar uma órtese removível
no punho em atividades que exijam força.
Fig. 7 Consolidação da pseudartrose com cinco semanas de evolução. Observado pelas radiografias
(A, B e C) e tomografia computadorizada (D e E).
Resultados
A consolidação foi obtida em 22 pacientes (95,6%) em uma média de 7,5 semanas (4 a
12). Quanto às complicações, um paciente não consolidou e outro apresentou queimadura
cutânea por hiperaquecimento do motor do shaver, resolvendo com curativos seriados. Em nenhum paciente houve lesões neuro-tendinosas
ou houve a necessidade de reverter o procedimento em uma técnica aberta.
O seguimento médio foi de 24,2 meses (12-60) meses. O grau de mobilidade, dor, avaliação
funcional (questionário DASH) e medidas radiográficas melhoraram com relação ao pré-operatório,
sendo mostrados nas [Tabelas 2] e [3]. A amplitude média de movimento de flexão melhorou de 73,6° (60-80°) para 79,5°
(60-90°), extensão de 68,6° (50-80°) a 71,9° (45-85°), desvio ulnar 20,6°(15-30°)
a 26,9° (20-35°) e desvio radial 17.3° (15-25°) em 20,4° (10-25°). Dor (EVA 0-10)
melhorou de 7,3 (4-9) para 0,7 (0-6), e a escala funcional DASH melhorou de 49 (32-75)
para 6 (2-12). O ângulo escafolunar melhorou de 69,1°(55-85°) para 48,4° (40-55°)
e o ângulo rádio-lunar melhorou de 30°(10-40°) para 2,6° (0-8°) ([Fig. 8]).
Tabela 2
Paciente
|
Gênero
|
Idade
|
Lado
|
Dominância
|
Tempo de pseudartrose (meses)
|
Class. de Herbert
|
SLA
|
RLA
|
Dor
|
Flex.
|
Ext.
|
RD
|
UD
|
DASH
|
1
|
M
|
28
|
D
|
D
|
12
|
B1
|
60
|
20
|
8
|
75
|
70
|
20
|
30
|
60
|
2
|
M
|
16
|
D
|
D
|
12
|
A2
|
65
|
25
|
4
|
80
|
75
|
25
|
25
|
32
|
3
|
F
|
55
|
D
|
D
|
36
|
B1
|
60
|
20
|
7
|
65
|
70
|
15
|
20
|
46
|
4
|
M
|
51
|
E
|
D
|
48
|
B2
|
80
|
40
|
8
|
65
|
60
|
15
|
15
|
50
|
5
|
M
|
20
|
D
|
E
|
18
|
B3
|
55
|
10
|
9
|
70
|
65
|
20
|
15
|
38
|
6
|
M
|
34
|
E
|
E
|
24
|
B2
|
80
|
20
|
8
|
70
|
60
|
20
|
20
|
72
|
7
|
M
|
29
|
D
|
D
|
16
|
B1
|
70
|
20
|
7
|
80
|
70
|
20
|
25
|
63
|
8
|
M
|
37
|
D
|
D
|
36
|
B2
|
75
|
30
|
9
|
75
|
75
|
15
|
20
|
57
|
9
|
F
|
42
|
D
|
D
|
20
|
B2
|
75
|
25
|
9
|
60
|
65
|
15
|
20
|
75
|
10
|
F
|
24
|
D
|
D
|
24
|
B2
|
85
|
15
|
8
|
75
|
70
|
20
|
15
|
46
|
11
|
M
|
25
|
E
|
D
|
12
|
B3
|
70
|
25
|
7
|
70
|
60
|
15
|
20
|
52
|
12
|
M
|
28
|
D
|
D
|
20
|
B3
|
60
|
10
|
6
|
80
|
70
|
20
|
30
|
36
|
13
|
M
|
45
|
E
|
D
|
36
|
B2
|
70
|
20
|
7
|
80
|
75
|
15
|
20
|
39
|
14
|
M
|
32
|
D
|
D
|
12
|
B1
|
75
|
30
|
8
|
70
|
75
|
15
|
20
|
52
|
15
|
M
|
17
|
D
|
D
|
18
|
B1
|
60
|
15
|
6
|
80
|
70
|
20
|
20
|
41
|
16
|
M
|
47
|
D
|
D
|
48
|
B2
|
70
|
20
|
9
|
75
|
70
|
15
|
20
|
64
|
17
|
M
|
49
|
E
|
E
|
42
|
B3
|
60
|
15
|
8
|
70
|
65
|
15
|
20
|
48
|
18
|
M
|
38
|
D
|
D
|
18
|
B1
|
65
|
25
|
7
|
80
|
70
|
20
|
25
|
37
|
19
|
M
|
37
|
D
|
D
|
24
|
B3
|
70
|
20
|
7
|
70
|
60
|
15
|
20
|
61
|
20
|
M
|
31
|
D
|
E
|
20
|
B3
|
60
|
10
|
5
|
80
|
75
|
15
|
20
|
42
|
21
|
F
|
21
|
D
|
D
|
60
|
B1
|
80
|
20
|
8
|
70
|
70
|
15
|
20
|
50
|
22
|
M
|
36
|
D
|
E
|
18
|
B2
|
75
|
10
|
8
|
75
|
75
|
20
|
15
|
42
|
23
|
F
|
28
|
D
|
D
|
24
|
B2
|
70
|
15
|
7
|
80
|
80
|
15
|
20
|
46
|
Tabela 3
Paciente
|
Gênero
|
Idade
|
Dor
|
SLA
|
RLA
|
Flex.
|
Ext.
|
RD
|
UD
|
Enxerto
|
Parafuso
|
Consol. (semanas)
|
DASH
|
Retorno ao trabalho (semanas)
|
1
|
M
|
28
|
1
|
50
|
0
|
80
|
70
|
20
|
35
|
IL
|
Her.
|
8
|
8
|
6
|
2
|
M
|
16
|
0
|
45
|
5
|
80
|
75
|
25
|
25
|
IL
|
Her.
|
6
|
5
|
4
|
3
|
F
|
55
|
1
|
50
|
5
|
70
|
70
|
15
|
20
|
IL
|
Her.
|
8
|
6
|
8
|
4
|
M
|
51
|
2
|
50
|
0
|
75
|
70
|
15
|
15
|
IL
|
Her.
|
10
|
7
|
12
|
5
|
M
|
20
|
1
|
45
|
5
|
80
|
65
|
20
|
25
|
IL
|
Her.
|
8
|
3
|
10
|
6
|
M
|
34
|
0
|
50
|
0
|
70
|
60
|
25
|
30
|
IL
|
Her.
|
10
|
12
|
8
|
7
|
M
|
29
|
0
|
45
|
5
|
85
|
75
|
20
|
30
|
IL
|
Her.
|
7
|
11
|
12
|
8
|
M
|
37
|
0
|
50
|
0
|
80
|
80
|
25
|
30
|
Rad.
|
ACCU
|
10
|
2
|
12
|
9
|
F
|
42
|
2
|
50
|
3
|
70
|
65
|
20
|
25
|
IL
|
Her.
|
8
|
9
|
10
|
10
|
F
|
24
|
1
|
55
|
5
|
80
|
75
|
25
|
20
|
IL
|
Her.
|
12
|
6
|
4
|
11
|
M
|
25
|
0
|
45
|
0
|
85
|
80
|
20
|
35
|
IL
|
Her.
|
10
|
4
|
4
|
12
|
M
|
28
|
0
|
45
|
0
|
90
|
80
|
25
|
30
|
Rad.
|
Normal
|
12
|
2
|
6
|
13
|
M
|
45
|
0
|
50
|
5
|
90
|
85
|
20
|
30
|
IL
|
Her.
|
8
|
8
|
8
|
14
|
M
|
32
|
1
|
55
|
0
|
75
|
75
|
20
|
35
|
IL
|
Her.
|
10
|
6
|
4
|
15
|
M
|
17
|
0
|
40
|
0
|
90
|
80
|
25
|
30
|
IL
|
Her.
|
8
|
2
|
10
|
16
|
M
|
47
|
2
|
55
|
5
|
75
|
65
|
10
|
20
|
Rad.
|
Her. + K-WIRE
|
16
|
7
|
12
|
17
|
M
|
49
|
1
|
50
|
0
|
65
|
70
|
15
|
25
|
IL
|
Her.
|
12
|
10
|
16
|
18
|
M
|
38
|
0
|
45
|
5
|
80
|
80
|
20
|
30
|
IL
|
Her.
|
8
|
4
|
12
|
19
|
M
|
37
|
1
|
50
|
5
|
75
|
60
|
20
|
25
|
IL
|
Her.
|
10
|
11
|
4
|
20
|
M
|
31
|
0
|
45
|
0
|
90
|
75
|
20
|
30
|
Rad.
|
Mini
|
12
|
8
|
10
|
21
|
F
|
21
|
2
|
50
|
5
|
80
|
70
|
20
|
25
|
IL
|
Her.
|
10
|
6
|
12
|
22
|
M
|
36
|
2
|
50
|
0
|
80
|
70
|
25
|
25
|
Rad.
|
Her.
|
12
|
3
|
8
|
23
|
F
|
28
|
1
|
45
|
0
|
90
|
85
|
20
|
30
|
Rad.
|
ACCU
|
8
|
2
|
6
|
Fig. 8 Paciente com oito semanas de pós-operatório, visão da face dorsal e volar do punho
com as incisões dos portais da artroscopia e da fixação percutânea do escafoide (A
e B). Recuperação completa da mobilidade, tanto da prono-supinação (C e D), quanto
da extensão e flexão (E e F).
Discussão
Outros estudos já mostraram bons resultados utilizando métodos minimamente invasivos
no tratamento das fraturas e PAE. Eles estão associados à menor morbidade, apresentando
rápida recuperação e permitindo o tratamento de lesões associadas durante o mesmo
procedimento.[6]
[9]
[14]
[17]
[23]
Quando não tratada, a PAE gera instabilidade que progride para um processo degenerativo
precoce, com colapso do carpo, padrão conhecido com punho SNAC.[1]
[5] Assim, o objetivo do tratamento cirúrgico da PAE é obter a consolidação óssea associada
à restauração da anatomia óssea e do alinhamento do carpo. Para isso tem sido descritas
técnicas com diferentes conceitos, umas que priorizam a estabilidade óssea mecânica,
inclusive com utilização de placas e parafusos, e outras que tem como objetivo a manutenção
e o estímulo à biologia vascular, estimulando a consolidação precoce.[7]
[14]
[16]
[18]
[24]
A artroscopia foi inicialmente indicada para as PAE estáveis e fibrosas, porém, com
a evolução da técnica e a comprovação que não há necessidade de enxerto estrutural
para a correção da deformidade em flexão do escafoide, seu uso foi expandido para
as PAE instáveis e com colapso em flexão. Nas PAE crônicas e instáveis, as técnicas
com uso de enxertos ósseos córtico-esponjosos (vascularizados ou não) são as que oferecem
maior garantia de obter-se a consolidação óssea e restaurar o alinhamento e a anatomia
do carpo. Porém, por serem técnicas abertas, geram agressão aos tecidos locais e às
estruturas neuro-vasculares, podendo também lesar os ligamentos estabilizadores extrínsecos
do carpo, além do risco de rigidez, infecção, protrusão do enxerto e demora em obter
consolidação completa, tempo que varia na literatura entre 12 a 19 semanas.[2]
[3]
[6]
Tentando diminuir o trauma aos tecidos locais e melhorar o potencial de consolidação,
alguns artigos descrevem bons resultados com o uso de enxerto ósseo esponjoso em PAE
instáveis. Park et al.[22] trataram 61 pacientes com PAE, sendo 52% estáveis e 48% instáveis, com uso de enxerto
ósseo esponjoso e fixação com fios de Kirschner. Eles obtiveram consolidação em 88,2%
das lesões estáveis e 83,9% das instáveis, sem diferenças estatísticas significativas
entre os grupos.
Não existe regra quanto do tipo de enxerto ósseo a ser usado. Preferimos o uso enxerto
do ilíaco em pacientes com grave deformidade e reabsorção óssea. Já em PAE estáveis
e com pouca deformidade utilizamos o enxerto ósseo esponjoso retirado da metáfise
distal do rádio. O tempo curto em obter a consolidação, média de 7,5 semanas, é inferior
aos apresentados em séries usando a técnica aberta, tanto em enxertos vascularizados
como não vascularizados, permitindo pouco tempo de imobilização e retorno precoce
às atividades.
Algumas séries mostram resultados semelhantes ao nosso com o uso de artroscopia e
fixação percutânea com parafuso, sem usar enxerto ósseo.[9]
[13]
[14]
[23]
[25] Slade et al.[13] publicaram uma série de 15 pacientes com PAE estáveis obtendo consolidação em todos,
em um tempo médio de 14 semanas. Já Chu e Shih[26] trataram 15 pacientes PAE estáveis com artroscopia associada a fixação percutânea
de parafuso combinada e uso de matriz óssea desmineralizada. Mostraram 93% de consolidação
em 15 semanas de média. Na série de Wong e Ho com 68 pacientes com PAE tratados com
a técnica artroscópica e parafusos houve 91,2% de consolidação, em um período médio
de 12 semanas, sem apresentar nenhuma complicação decorrente do método.[10] Kim et al.[17] avaliaram 36 pacientes com artroscopia e enxerto ósseo esponjoso para PAE instáveis
obtendo consolidação em 86% dos pacientes em uma média de 11 semanas.
Com a técnica artroscópica com uso de enxerto ósseo esponjoso é mais difícil restaurar
a anatomia do escafoide e o alinhamento normal do carpo. Porém, outras técnicas também
mostram dificuldade semelhante. Jiranek et al.[27] em uma série de pacientes tratados por PAE com enxerto ósseo cortico-esponjoso trapezoidal
obtiveram uma deformidade de 45° ou mais em mais no ângulo intra-escafoide em mais
da metade dos casos e não encontrou relação do alinhamento com o resultado clínico
final. Também da série Kim et al.,[17] os parâmetros radiológicos do escafoide e do alinhamento do carpo não se correlacionaram
função clínica final do paciente. Assim como esses autores, pensamos que os efeitos
positivos da técnica artroscópica e fixação percutânea superam uma possível dificuldade
de correção completa da deformidade, sendo que isso não altera a função final do punho.[28]
A artroscopia de punho é uma alternativa válida em o tratamento de lesões do escafoide
do carpo. Apresenta bons resultados clínicos e de consolidação, mesmo em lesões com
deformidade e instabilidade carpal, com um mais curto de recuperação. Provavelmente
é limitado para restaurar alinhamento normal do carpo, mas é benéfico e melhora tempo
de recuperação para essas lesões.
Conclusão
Os resultados apresentados demonstram baixa morbidade e recuperação rápida com esta
técnica. No entanto, para confirmar essas afirmações e resultados, necessitamos de
séries maiores, com acompanhamento mais longo e com pacientes randomizados em grupos,
comparando diferentes técnicas.