Apresentação do Caso Uma paciente do sexo feminino, de 54 anos, foi submetida a laparotomia por infiltrado
inflamatório difuso a esclarecer, tendo o procedimento abortado devido a “pelve congelada”.
Ela evoluiu com queixa de pneumatúria, e foi diagnosticada fístula retovesical (FRV),
além de lesão infiltrativa uteroanexial com extensões para o reto, a bexiga e o sigmoide
na ressonância magnética. A hipótese diagnóstica inicial foi diverticulite aguda complicada
com FRV. Uma nova laparotomia verificou a existência de aderências entre o intestino
delgado, o cólon sigmoide, o apêndice cecal, o útero e a bexiga, com intenso processo
inflamatório. Realizou-se retossigmoidectomia convencional, com anastomose colorretal
primária, e interrogou-se a possibilidade de correlação com endometriose. O estudo
anatomopatológico da massa pélvica evidenciou calcificações símiles das vistas em
salpingite por Enterobius vermicularis, além de formação granulomatosa de significado indeterminado. A amostra para BAAR
e fungos no trajeto da fístula foi negativa. A paciente evoluiu sem intercorrências
no pós-operatório, com alta hospitalar e acompanhamento ambulatorial.
discussão As FRVs são incomuns e representam 20% de todas as fístulas enterovesicais (FEVs).
Podem cursar com fecalúria e pneumatúria em 40% a 70% dos pacientes, e infecção crônica
do trato urinário. A principal etiologia é a diverticulite (65% a 79% dos casos),
seguida por câncer colorretal, doença de Crohn e iatrogenias por radioterapia ou cirurgias.
Endometriose, salpingite e outras doenças inflamatórias pélvicas – dado o seu processo
inflamatório típico – podem estar relacionadas à adesão de estruturas abdominopélvicas
e possível fistulização entre elas. Desse modo, um possível abscesso oriundo de uma
salpingite ocasionada por E. vermicularis pode estar relacionado à formação da FRV na paciente. A tomografia computadorizada
contrastada vem sendo empregada como método de avaliação inicial dada a sua alta sensibilidade
(de 90% a 100%) e capacidade de avaliar estruturas adjacentes. O achado característico
é o conteúdo aéreo e contraste dentro da bexiga. A abordagem cirúrgica geralmente
adotada consiste na dissecção das aderências, ressecção do segmento do cólon acometido,
anastomose primária e síntese da bexiga.
Considerações Finais As FEVs são uma complicação incomum de processos benignos e malignos. Sua recorrência
pós-operatória é incomum em pacientes com fístulas benignas e não induzidas por radiação.
O tratamento deve ser individualizado.