Introdução A proctocolectomia total com anastomose anal da bolsa ileal em J é o tratamento cirúrgico
mais comum na retocolite ulcerativa (RCU) refratária a medicação. Entre 10% e 15%
dos pacientes com RCU serão submetidos a tratamento cirúrgico durante o curso da doença,
mesmo com os avanços atuais na terapia da doença. A inflamação da bolsa ileal é a
condição pós-operatória mais comum, com taxas de até 45% em 5 anos, e, destes, 20%
podem evoluir para inflamação crônica da bolsa, com um risco associado de até 10%
de perda da bolsa ileal. Estudos envolvendo pacientes com diagnóstico de RCU submetidos
a proctocolectomia total com bolsa ileal na população brasileira são escassos. Assim,
o objetivo deste artigo é descrever os achados endoscópicos da bolsa ileal em uma
população específica em um centro de referência brasileiro.
Métodos Foi realizado um estudo retrospectivo descritivo, unicêntrico, por meio da revisão
de prontuários de todos os pacientes com diagnóstico de RCU portadores de bolsa ileal
em J que foram submetidos a endoscopia de bolsa ileal (EBI) ambulatorial, de 1o de junho de 2021 a 1o junho de 2022, em um centro de referência de doença inflamatória intestinal no Brasil.
Resultados No período analisado, foram realizadas 17 EBIs. Destes pacientes, 82% eram do sexo
feminino, com média de idade de 50 (variação: 23 a 67) anos, sendo a maioria da etnia
branca (59%), seguida da parda (23%) e da preta (18%). Apenas um paciente apresentava
manifestação extraintestinal (colangite esclerosante primária). Dos 17 pacientes 3
faziam uso de mesalazina, 2, de adalimumabe, 1, de ciprofloxacino, e 4 pacientes não
estavam fazendo uso de nenhuma medicação. Ao todo, 6 (35%) pacientes não apresentaram
alteração à EBI e 3 (18%) apresentaram estenose da anastomose ileoanal não transponível
ao endoscópio, o que impedia a avaliação da bolsa ileal em J. No total, 8 (47%) pacientes
apresentavam bolsite, caracterizada por úlceras na bolsa ileal, associada a hiperemia
e friabilidade da mucosa. Dos oito pacientes com bolsite, apenas dois apresentavam
úlceras do tipo aftoide no íleo neoterminal, proximais à bolsa ileal em J. Não houve
nenhum relato de complicações durante os procedimentos.
Conclusão A EBI é método seguro e eficaz na avaliação da bolsa ileal em J. O sexo feminino
apresentou prevalência superior a 80%, o que pode sugerir um fator de risco na evolução
para proctocolectomia total em pacientes com RCU. A bolsite é uma alteração comum
em pacientes com diagnóstico prévio de RCU.