Apresentação do Caso D.P.M, do sexo feminino, de 54 anos, branca, ex-tabagista, relatou secreção amarelada
contínua associada a sangramento vermelho vivo nas fezes havia 4 anos. A paciente
foi investigada em serviço externo, com achados em biópsia de atividade inflamatória
inespecífica, e fora tratada havia dois anos com cauterização da lesão anal associada
a tratamentos tópicos, sem sucesso. Ela foi encaminhada para avaliação da coloproctologia
em serviço de referência. Ao exame proctológico, observou-se a região anterior perianal
com lesão cutânea semicircunferencial eritematosa, e a colonoscopia revelou lesão
elevada verrucosa e avermelhada. Foram realizadas biópsias com anatomopatológico (AP)
de carcinoma epidermoide (CEC) in situ (doença de Bowen) e condiloma acuminado. Foi proposto tratamento com ressecções escalonadas
da lesão. A primeira ressecção teve AP de neoplasia intraepitelial anal (NIA) III
e CEC in situ com margens comprometidas; na segunda abordagem dois meses depois, o AP diagnosticou
CEC bem diferenciado invasivo e com margens comprometidas. O estadiamento do CEC do
canal anal foi T2N0M0. A paciente foi submetida a tratamento adjuvante com QT/RDT
durante um mês, e obteve resposta completa depois de oito semanas. Ela permaneceu
em seguimento com a coloproctologia e oncologia clínica por 5 anos, sem evidência
de doença e assintomática, e recebeu alta para o seguimento em UBS pela oncologia.
Discussão A doença de Bowen é um CEC in situ cuja evolução para CEC invasivo varia entre 3% e 5% dos casos. É uma lesão pré-cancerosa
rara, de evolução lenta e progressiva, com morfologia que varia de placas eritematosas
a verrucosa. Em geral, é oligo ou assintomática; se sintomática, prurido e sangramento
são relatados. Sítios de exposição solar são comuns, sendo infrequente na região perianal.
A histopatologia é a modalidade diagnóstica padrão-ouro. O tratamento varia entre
modalidades tópicas (5-fluorouracil ou imiquimode), procedimentos destrutivos (crioterapia,
curetagem e cauterização), procedimentos com auxílio de luz (laserterapia, terapia
fotodinâmica), cirurgia (excisão e cirurgia micrográfica de Mohs), radioterapia, e
associações. A ressecção cirúrgica com margens é o mais efetivo, pois permite descartar
doença invasiva com segurança por meio do AP, e tem baixas taxas de recorrência.
Comentários Finais Apesar do retardo no diagnóstico, a conduta cirúrgica escalonada obteve resultado
satisfatório, e realizou-se diagnóstico de CEC invasivo com necessidade QT/RDT posterior.
Foram atingidos os dois objetivos do tratamento: cura sem recidiva e preservação do
órgão e da função.