Palavras-chave síndrome do túnel do carpo/cirurgia - inquéritos e questionários - nervo mediano
Introdução
Nos últimos anos, muitos estudos prospectivos e randomizados compararam os resultados
dos tratamentos cirúrgicos abertos e endoscópicos.[1 ] A principal desvantagem do tratamento endoscópico da síndrome do túnel do carpo
(STC) é o alto custo do equipamento e das lâminas.[2 ] O uso do retinaculótomo de Paine por abordagem palmar é uma alternativa eficaz e
de baixo custo.[3 ] A descompressão do nervo mediano com o retinaculótomo de Paine leva à remissão dos
sintomas por longo prazo, com baixo índice de dor pós-operatória.[3 ] Poucos estudos compararam os resultados da liberação do túnel do carpo por cirurgia
aberta com cirurgia por meio de retinaculótomo.[4 ] A incisão palmar ulnar para descompressão do túnel do carpo foi descrita por Tubiana.
Suas vantagens são evitar lesão do ramo cutâneo palmar e a formação de cicatrizes
sobre a topografia do nervo mediano e, consequentemente, evitar adesões no nervo mediano.[5 ]
A avaliação de pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico bilateral com técnicas
diferentes em cada mão tem a vantagem de utilizar o mesmo paciente como controle interno.[6 ]
[7 ]
[8 ]
O objetivo principal desta pesquisa foi fazer uma comparação intraindividual entre
os resultados da incisão ulnar aberta e do retináculo de Paine com incisão palmar
em pacientes com STC bilateral.
Material e Métodos
Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da instituição. É um estudo
longitudinal transversal. A coleta de dados ocorreu entre dezembro de 2017 e dezembro
de 2018.
O diagnóstico de STC idiopática bilateral foi feito quando o paciente apresentou,
em ambas as mãos, pelo menos três dos seis critérios diagnósticos recomendados pela
American Academy of Orthopedic Surgeons .[9 ] Os pacientes foram submetidos a estudo eletroneuromiográfico para confirmação do
diagnóstico de STC. Em caso de ausência de melhora dos sintomas com o tratamento não
cirúrgico, os pacientes eram submetidos à liberação do túnel do carpo. Não foram feitos
estudos eletrofisiológicos pós-operatórios; os desfechos dos pacientes foram avaliados
quanto à melhora clínica.
Na avaliação intraindividual, os pacientes foram submetidos e analisados quanto às
duas técnicas cirúrgicas—a testada (retináculo de Paine) de um lado e a padrão (aberta)
de outro. Por isso, o número de mãos operadas pelas duas diferentes técnicas cirúrgicas
foi o mesmo. Os pacientes foram informados sobre a participação no estudo. Após o
término das avaliações pré-operatórias, os pacientes foram questionados sobre qual
mão gostariam de operar primeiro. A mão mais sintomática foi a primeira a ser submetida
à cirurgia e, consequentemente, outra técnica cirúrgica foi utilizada na mão contralateral.
As duas técnicas cirúrgicas, as taxas de remissão dos sintomas e as complicações foram
explicadas aos pacientes que, portanto, seriam submetidos a procedimentos cirúrgicos
diferentes em cada mão. Com base nas informações, os pacientes escolheram qual técnica
cirúrgica utilizar na primeira cirurgia. Os procedimentos cirúrgicos para cada mão
ocorreram em diferentes momentos, logo não houve cirurgia bilateral simultânea. Os
critérios de exclusão incluíram liberação prévia do túnel do carpo, doenças inflamatórias
e recusa de participação na pesquisa.
Este delineamento experimental não permitiu o cegamento de pacientes ou avaliadores
quanto ao tipo de cirurgia realizada em cada mão. Na tentativa de evitar o viés de
preferência dos cirurgiões por uma das técnicas cirúrgicas, todas as avaliações foram
realizadas por um terapeuta de mão (L. M. M.).
Os pacientes foram avaliados por um dos autores (L. M. M.) no período pré-operatório
e 2 semanas, 1, 3 e 6 meses após a cirurgia em cada mão. A avaliação incluiu a escala
visual analógica (EVA) para dor, forças de preensão palmar e pinça dos dedos, escala
de gravidade dos sintomas (EGS) e escala do estado funcional (EEF) do questionário
Boston Carpal Tunnel Questionnaire ). Devido à bilateralidade, como em pesquisas anteriores, os pacientes preencheram
dois questionários, um para cada mão, e foram orientados a responder as questões sempre
em relação aos sintomas e incapacidades de cada lado.[10 ]
As cirurgias foram realizadas por residentes de ortopedia ou por residentes de cirurgia
da mão, sempre com supervisão direta de um cirurgião de mão experiente.
Incisão Palmar com Retinaculótomo de Paine
Uma incisão longitudinal reta, de 1,5 cm, foi realizada 0,5 cm proximal à prega palmar
medial, ao longo da borda radial do dedo anular ([Fig. 1 ]). O retinaculótomo de Paine ([Fig. 2 ]) foi colocado com sua base protegendo o nervo mediano e a lâmina em contato com
o ligamento transverso do carpo (LTC) para sua divisão. Em caso de liberação incompleta,
uma segunda passagem foi feita.
Fig. 1 Incisão longitudinal de 1,5 cm localizada ao longo da borda radial do dedo anelar
e a 0,5 cm proximal à prega palmar média.
Fig. 2 O retinaculótomo de Paine.
Cirurgia Aberta com Incisão Palmar Ulnar
Uma incisão longitudinal de aproximadamente 4 cm, começando na prega palmar do punho
e acompanhando a borda externa da eminência hipotênar, foi realizada ([Fig. 3 ]). O LTC foi dividido à altura de sua inserção no pisiforme. A fáscia ventral do
antebraço distal foi seccionada longitudinalmente com tesoura romba sob visualização
direta para evitar a descompressão incompleta.
Fig. 3 Incisão palmar e ulnar de aproximadamente 4 cm para realizar a descompressão aberta.
Métodos Estatísticos
O poder das amostras (poder e tamanho da amostra) foi calculado com base nas pontuações
das técnicas no momento pré-operatório ([Tabela S1–material complementar ], disponível apenas on-line). As possíveis diferenças entre as técnicas cirúrgicas
foram determinadas por análise de variância para medidas repetidas. O momento das
avaliações foi considerado um fator entre os grupos, uma vez que as variáveis foram
mensuradas em 5 pontos distintos (pré-operatório, 2 semanas, 1 mês, e 3 e 6 meses
após o procedimento). O objetivo do trabalho é comparar as duas técnicas em todos
os cinco períodos de coleta de dados quanto a EGS e EEF. Como os dados são pareados,
ou seja, o mesmo indivíduo é dado experimental e controle, utilizamos o teste de Wilcoxon.
Resultados
Dezoito pacientes foram diagnosticados com STC bilateral e, no total, 36 mãos foram
submetidas à cirurgia. Quanto à primeira cirurgia, 11 pacientes escolheram a mão esquerda,
enquanto 7 escolheram a mão direita. Como primeira cirurgia, nove pacientes foram
submetidos ao procedimento aberto com incisão palmar ulnar, enquanto nove foram submetidos
à cirurgia com retinaculótomo de Paine e incisão palmar ([Tabela 1 ]). O tempo médio entre o primeiro procedimento e o procedimento contralateral foi
de 10 a 11 meses.
Tabela 1
Pacientes
Sexo
Idade
Lado
Técnica cirúrgica
1
Feminino
60
Direito
Aberta
2
Feminino
50
Esquerdo
Retinaculótomo
3
Feminino
68
Esquerdo
Aberta
4
Masculino
82
Esquerdo
Retinaculótomo
5
Feminino
43
Direito
Aberta
6
Masculino
47
Esquerdo
Aberta
7
Feminino
43
Esquerdo
Retinaculótomo
8
Feminino
63
Direito
Aberta
9
Feminino
56
Esquerdo
Aberta
10
Feminino
60
Direito
Retinaculótomo
11
Feminino
36
Direito
Retinaculótomo
12
Feminino
62
Direito
Retinaculótomo
13
Feminino
52
Esquerdo
Retinaculótomo
14
Feminino
58
Esquerdo
Aberta
15
Feminino
40
Esquerdo
Retinaculótomo
16
Feminino
55
Esquerdo
Retinaculótomo
17
Masculino
56
Esquerdo
Aberta
18
Feminino
35
Direito
Aberta
A amostra teve poder de 0,671 (67,1%) com 95% de confiança estatística. Este é um
bom resultado tendo em vista o tamanho da amostra de 18 casos. A curva de poder foi
incluída como Gráfico 1.
Gráfico 1 Curva do poder da amostra.
Não houve diferenças estatisticamente significativas entre as duas técnicas cirúrgicas
em todos os momentos avaliados quanto a mensuração de força de preensão palmar, pinça
lateral, pinça polpa-polpa e trípode ([Tabela 2 ]).
Tabela 2
Preensão Palmar
Pinça Lateral
Pinça Polpa-Polpa
Pinça Trípode
Momento
Aberta
Retinaculótomo
Aberta
Retinaculótomo
Aberta
Retinaculótomo
Aberta
Retinaculótomo
Pré-operatório
19,42 (DP 7,93)
21,00 (DP 9,25)
4,47 (DP 1,93)
3,89 (DP 1,62)
6,53 (DP 2,35)
6,42 (DP 2,55)
5,61 (DP 2,40)
5,17 (DP 2,39)
2ª semana
8,67 (DP 6,02)[a ]
10,13 (DP 6,61)[a ]
3,11 (DP 1,53)[a ]
3,27 (DP 1,41)[a ]
3,73 (DP 1,74)[a ]
4,20 (DP 1,99)[a, ]
3,40 (DP 1,59)[a ]
3,87 (DP 1,55)[a ]
1° mês
14,29 (DP 6,88)[b ]
18,82 (DP 5,48)[b ]
3,65 (DP 1,68)[a ]
3,53 (DP 1,41)[a ]
5,29 (DP 2,40)[a ]
4,71 (DP 2,08)[a ]
4,18 (DP 1,81)[a ]
3,59 (DP 1,11)[a, ]
3° mês
16,62 (DP 6,93)[b ]
18,38 (DP 5,57)[b ]
4,14 (DP 1,83)[b ]
[c ]
4,38 (DP 1,72)[b ]
[c ]
5,74 (DP 2,44)[b ]
[c ]
6,06 (DP 1,77)[b ]
[c ]
4,68 (DP 2,16)[b ]
[c ]
4,79 (DP 1,60)[b ]
[c ]
6° mês
20,11 (DP 5,80)[b ]
19,66 (DP 5,55)[b ]
5,50 (DP 3,14)[a ]
[b ]
[c ]
[d ]
4,88 (DP 2,16)[a ]
[b ]
[c ]
[d ]
7,19 (DP 3,49)[a ]
[b ]
[c ]
[d ]
6,63 (DP 1,85)[a ]
[b ]
[c ]
[d ]
6,11 (DP 2,97)[b ]
[c ]
5,34 (DP 2,61)[b ]
[c ]
A comparação das pontuações de dor quanto a EVA revelou a ausência de diferenças estatisticamente
significativas entre as duas técnicas cirúrgicas em todos os tempos avaliados ([Tabela 3 ]).
Tabela 3
Momento
Aberta
Retinaculótomo
Pré-operatório
6,39 (DP 2,89)
7,72 (DP 2,78)
2ª semana
4,29 (DP 3,02)[a ]
3,43 (DP 3,01)[a ]
1° mês
3,69 (DP 3,30)[a ]
2,63 (DP 3,20)[a ]
3° mês
2,29 (DP 3,02)[a ]
[b ]
1,76 (DP 2,61)[a ]
[b ]
6° mês
1,94 (DP 2,86)[a ]
[b ]
1,44 (DP 2,71)[a ]
[b ]
Quanto à EGS, houve diferenças estatisticamente significativas entre as duas técnicas
cirúrgicas antes da cirurgia; as mãos submetidas à técnica de retináculo de Paine
com incisão palmar apresentaram pontuação média significativamente maior (p = 0,023). As pontuações também foram diferentes no período pós-operatório; as mãos
submetidas à cirurgia com retinaculótomo de Paine e incisão palmar apresentaram pontuações
significativamente menores aos 3 meses ([Tabela 4 ]). Em relação ao EEF, não houve diferenças estatisticamente significativas entre
as duas técnicas cirúrgicas antes da cirurgia. No entanto, o retinaculótomo de Paine
com incisão palmar produziu pontuações médias de funcionalidade significativamente
menores do que a técnica aberta em 2 semanas, 3 meses e 6 meses depois do procedimento
([Tabela 5 ]).
Tabela 4
Momento
Aberta
Retinaculótomo
Valores de p
Pré-operatório
37,11 (DP 8,38)
41,33 (DP 8,15)*
*estatisticamente diferente de aberto (p < 0,05)
2ª semana
22,57 (DP 9,61)
18,36 (DP 8,12)*
*estatisticamente diferente de aberto (p < 0,05)
1° mês
21,81 (DP 11,57)
16,38 (DP 4,99)
3° mês
18,47 (DP 8,49)
15,12(DP 7,51)*
*estatisticamente diferente de aberto (p < 0,05)
6° mês
18,13 (DP 10,93)
14,87 (DP 7,82)
Tabela 5
Momento
Aberta
Retinaculótomo
Valor de p
Pré-operatório
24,67 (DP 9,15)
26,00 (DP 7,21)
2ª semana
24,21 (DP 10,89)
18,71 (DP 7,94)*
*estatisticamente diferente de aberto (p < 0,05)
1° mês
19,31 (DP 7,98)
15,31 (DP 5,19)
3° mês
16,29 (DP 9,06)
13,24 (DP 7,67)*
*estatisticamente diferente de aberto (p < 0,05)
6° mês
13,87 (DP 7,46)
10,80 (DP 5,31)*
*estatisticamente diferente de aberto (p < 0,05)
A diferença mínima clinicamente importante (MCID) foi calculada como a diferença de
módulo entre as técnicas em cada momento, com análise descritiva e intervalo de confiança
de 95% ([Tabela 6 ]).
Tabela 6
EGS
EEF
Média
Desvio padrão
IC
Média
Desvio padrão
IC
Pré-operatório
0,565
0,434
0,200
0,542
0,452
0,209
2ª semana
0,842
0,851
0,431
1,108
1,252
0,633
1° mês
0,885
0,888
0,449
0,882
0,907
0,431
3° mês
0,422
0,415
0,197
0,559
0,500
0,238
6° mês
0,455
0,537
0,272
0,467
0,512
0,259
Discussão
Dormência e formigamento podem ser esporadicamente observados, sem necessariamente
indicar um diagnóstico de STC.[11 ] Autores relatam que, na presença de evidências clínicas de STC, o diagnóstico pode
ser realizado de forma precisa sem estudos eletrodiagnósticos,[12 ]
[13 ] e descrevem uma importância exagerada dos achados de exames complementares em detrimento
dos sintomas clínicos relatados pelos pacientes.[14 ]
[15 ] Algumas vezes, na prática clínica, os pacientes relatam sintomas mais intensos na
mão que apresenta compressão de menor gravidade nos estudos elétricos. Os achados
de Hangeman et al.[16 ] sugerem que os cirurgiões preferem oferecer descompressão de nervos periféricos
a pacientes com eletrofisiologia confirmação diagnóstica pela eletroneuromiografia.
Em nosso estudo, todos os pacientes foram submetidos a estudos elétricos para confirmação
do diagnóstico de STC.
Padua et al.,[17 ] ao acompanharem pacientes com STC unilateral, mostraram o desenvolvimento de sintomas
contralaterais na maioria dos casos e observaram uma correlação positiva significativa
entre a STC bilateral e duração dos sintomas, mas não com sua gravidade. Acreditamos
que o motivo da consulta dos pacientes foi a gravidade dos sintomas. Embora possa
ser considerado um viés de randomização, em nosso estudo, o paciente escolheu a mão
mais sintomática para ser submetida à primeira cirurgia. Não realizamos cirurgia em
ambas as mãos ao mesmo tempo. De modo geral, o paciente precisa de uma mão livre capaz
de realizar as atividades de vida diária, principalmente a higiene pessoal. Nos quadros
brandos, a melhora temporária dos sintomas contralaterais é comum após a cirurgia
unilateral. Apenas indicamos a cirurgia para a mão contralateral em caso de retorno
dos sintomas clínicos.
O tamanho da amostra do nosso estudo é menor do que a maioria dos ensaios clínicos
randomizados que avaliam a cirurgia unilateral, mas é semelhante àqueles que realizam
cirurgia bilateral com técnicas diferentes.[18 ] O principal motivo para o pequeno tamanho da amostra é a dificuldade de convencer
os pacientes a se submeterem a diferentes técnicas cirúrgicas em cada mão.
Os pacientes com STC têm mais conflito de decisão do que cirurgiões de mão. Um dos
fatores associados ao maior conflito de decisão em pacientes com STC foi a menor confiança
em atingir seus objetivos. É possível ajudar os pacientes dando informações sobre
suas opções e auxiliá-los a entender seus valores e preferências.[16 ] Em nossa pesquisa, após informações detalhadas, os pacientes tomaram a decisão e
escolheram a primeira técnica cirúrgica
A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada
a ou semelhante àquela associada a um dano tecidual real ou possível; é genuinamente
pessoal e subjetiva e diferentes pessoas podem responder de forma diferente ao mesmo
estímulo.[19 ] Essa subjetividade também pode ser estendida à intensidade percebida dos sintomas.
Para reduzir essa subjetividade, utilizamos a comparação intraindividual. Em nosso
estudo, cada paciente foi submetido a tratamento cirúrgico bilateral do túnel do carpo
com técnica diferente em cada mão e foi avaliado nos períodos pré e pós-operatório.
Obviamente, tal comparação é limitada a pesquisas clínicas e de difícil aplicação.
Ao fazer uma comparação intraindividual entre as técnicas aberta e endoscópica, Fernandes
et al. avaliaram 15 pacientes (30 mãos) e não observaram diferenças entre os procedimentos
quanto aos resultados de EGS, EEF, EVA e força de preensão palmar e digital.[8 ]
Os resultados do tratamento cirúrgico do túnel do carpo são comumente avaliados pela
intensidade da dor, sensibilidade, força de preensão, pontuações EGS e EEF, taxas
de complicações e tempo necessário para retorno ao trabalho.[20 ]
[21 ]
Uma avaliação independente dos itens do BCTQ mostra que maiores pontuações na escala
de gravidade dos sintomas estão relacionadas a sintomas residuais e maiores pontuações
na escala de estado funcional estão relacionadas a dificuldades de função da mão;
portanto, quanto maior a pontuação, maior a gravidade dos sintomas e o grau de deficiência.[10 ]
A diferença mínima clinicamente importante (MCID) é a menor diferença na pontuação
de um instrumento de resultado que os pacientes percebem como importante. Kim et al.
observaram que, 3 meses após a cirurgia, uma diferença de 1,14 ponto em EGS e 0,74
ponto em EEF indicaram um limiar de satisfação clinicamente relevante.[22 ] Ozyürekoğlu et al.[23 ] calcularam que a MCID na pontuação de EGS após a injeção de corticosteroide no túnel
do carpo foi de 1,04. Em pacientes não diabéticos, Ozer et al.[24 ] obtiveram MCID de 0,8 e 1,6 pontos em 3 e 6 meses, respectivamente, em relação a
EGS e MCID de 1,25 pontos em 3 meses e 1,45 pontos em 6 meses em relação a EEF. De
Kleermaeker et al.[25 ] acreditam que não há consenso sobre a MCID no BCTQ e que a MCID deve ser calculada
individualmente a partir das pontuações de EGS e EEF, pois os pacientes que apresentam
mais sintomas exigem mais melhoras para notar uma diferença clinicamente importante.
Schrier et al.[26 ] estudaram a MCID em pacientes submetidos à liberação unilateral do túnel do carpo
e descobriram que a MCID relativa ideal para pacientes que receberam injeções foi
de fato menor do que a do grupo cirúrgico em 0,30, o que foi associado a uma sensibilidade
de 85% e uma especificidade de 77%. Em nosso estudo, calculamos a diferença em módulo;
as pontuações médias de EGS do grupo submetido ao procedimento com retinaculótomo
de Paine foram menores que 0,8 ponto na 2ª semana e no 1° mês após a cirurgia e as
pontuações médias de EEF desse grupo foram menores que 1,2 pontos na 2ª semana.
Muitas vezes, em estudos cirúrgicos, a intervenção realizada por um cirurgião não
é necessariamente idêntica à realizada por outro cirurgião. Ou seja, por mais reprodutível
que seja, a técnica não é idêntica. As técnicas cirúrgicas dependem de uma curva de
aprendizado que pode variar para cada procedimento e cada profissional. Essa é uma
das razões pelas quais os resultados de uma mesma técnica cirúrgica podem não ser
exatamente iguais quando realizados por diferentes cirurgiões. Isso não implica em
falhas metodológicas ou efeito do acaso, mas sim o fato de que as intervenções não
são as mesmas.[27 ] Em nossa pesquisa, os procedimentos cirúrgicos foram realizados por residentes de
ortopedia ou por residentes de cirurgia da mão, sempre com supervisão direta de um
cirurgião de mão experiente.
A maioria dos pacientes tem bom resultado com a descompressão aberta do túnel do carpo,
mas há uma pequena incidência de resultados insatisfatórios, geralmente relacionados
à sensibilidade da cicatriz ou dor residual no punho.[28 ] O mecanismo dessa dor residual não é claro, mas pode ser decorrente de pequenos
neuromas formados pela incisão no espaço intertênar. Apesar da vantagem da incisão
ulnar evitar a incisão sobre o trajeto do nervo, ela é situada na região intertenar.
Acreditamos que há poucos estudos clínicos randomizados comparando a cirurgia aberta
com o retinaculótomo de Paine. Esse instrumento foi descrito para ser usado por meio
de uma incisão no punho para secção do ligamento do túnel do carpo (LTC) à medida
em que passa para a palma. Segundo Paine e Polyzoids,[29 ] 90% dos pacientes obtiveram resultados muito satisfatórios. O motivo mais comum
de insucesso foi a divisão incompleta da porção distal do LTC. Pignataro et al.[30 ] estudaram o uso do retinaculótomo de Paine por incisão palmar em cadáveres e obtiveram
a descompressão do túnel em todas as mãos sem lesão vascular ou nervosa.
Estudos anteriores com o retinaculótomo de Paine demonstraram excelentes resultados
clínicos[3 ]
[20 ] que foram mantidos por pelo menos 86 meses após a cirurgia.[3 ]
Conclusão
Considerando a subjetividade das pontuações do BCTQ, as mãos submetidas à cirurgia
com retináculo de Paine e incisão palmar apresentaram pontuações significativamente
menores na EGS 3 meses após o procedimento e pontuações menores na EEF em 2 semanas,
e aos 3 e 6 meses após a cirurgia. Em um estudo diferença de módulo, o grupo operado
com retinaculótomo de Paine apresentou pontuações médias de EGS na 2ª semana e no
1° mês e de EEF na 2ª semana inferiores a 0,8 e 1,2 pontos, respectivamente, em comparação
ao grupo submetido à cirurgia aberta.