Palavras-chave dor - força muscular - osteoartrite de joelho - técnicas de exercício e de movimento
Introdução
O envelhecimento da população tem crescido em todo o mundo, e, com isso, os desafios
da saúde também aumentam, principalmente, no que diz respeito à grande quantidade
de doenças que acometem os idosos. Dentre elas, destaca-se a osteoartrose (OA).[1 ] Segundo dados de um estudo de Framingham, a OA é a segunda causa de afastamento
do trabalho e a principal causa de incapacidade nos idosos.[2 ]
A OA é descrita como uma doença articular degenerativa e progressiva, não-inflamatória,
que consiste na degradação da cartilagem articular e alterações no osso subcondral.[3 ] Essa afecção afeta o movimento sincrônico normal da articulação, podendo gerar dor,
rigidez, déficit de força muscular e instabilidade articular, sendo que essas condições
podem reduzir a mobilidade funcional do indivíduo, levando a perda de função.[4 ] Porém, acredita-se que a doença não resulta do processo de envelhecimento, mas de
mudanças bioquímicas e estresses biomecânicos que afetam a cartilagem articular.[5 ]
[6 ]
Devido a este fato, sabe-se que a OA de joelho atinge em maior parte o sexo feminino,
visto que, anatomicamente a cartilagem dessa região é menos espessa em indivíduos
do sexo feminino, apresentando menor área e menor volume, resultando em um aumento
da força de cisalhamento no local.[7 ]
Nguyen et al.[8 ] evidenciaram, em um estudo controlado randomizado, que a terapia de exercícios é
um tratamento eficaz na melhoria do desempenho físico de pacientes com OA de joelho
e comorbidades severas. Em consonância com esta informação, podemos destacar a atualização
das diretrizes de 2014 conduzida pela Sociedade Internacional de Osteoartrite (OARSI,
na sigla em inglês), que considera a reabilitação o principal tratamento para OA.
Através de um estudo de metanálise, concluíram que a terapia de exercícios associada
ao treinamento de força e à atividade aeróbica reduzia a dor e melhorava a função
física do indivíduo.[8 ]
[9 ]
Lange et al.[10 ] avaliaram em uma revisão sistemática a eficácia de um treinamento de resistência
para tratar a OA de joelho. Foi observada melhora geral dos sintomas e do desempenho
físico dos pacientes, e puderam verificar que mais da metade dos estudos incluídos
relataram sucesso na aplicação do treinamento de resistência como: a função física
e a força muscular, que melhoraram significativamente quando comparados aos grupos
que receberam apenas os cuidados habituais.[9 ]
[10 ]
Tanakar et al.,[11 ] em uma revisão sistemática com metanálise de ensaios clínicos randomizados, apontam
que exercícios aeróbicos associados a exercícios de fortalecimento sem descarga de
peso são mais eficazes no alívio da dor em atividades a curto prazo. No entanto, encontra-se
na literatura evidência de exercícios de equilíbrio, treinamentos de resistência e
exercícios aeróbicos associados à uma redução do quadro álgico, alívio da rigidez
e melhoria da função física em pacientes com OA de joelho.[12 ]
[13 ]
[14 ]
[15 ]
Diante dessas circunstâncias surge a necessidade de entender a eficácia do treinamento
de exercícios sobre os fatores impactantes da OA de joelho. Há muitas evidências[12 ]
[13 ]
[16 ]
[17 ] sobre os benefícios de alguns métodos de reabilitação da OA de joelho, porém o regime
ideal de tratamento específico para cada umas das condições ainda é uma dúvida. Dentre
esses métodos de reabilitação, encontra-se o treinamento físico, que consiste em um
método ou programas de exercício físico que podem ser usadas para promover, manter
ou restaurar o bem-estar físico e fisiológico de um indivíduo.[18 ]
Desta forma, o objetivo desse estudo é verificar estudos controlados e randomizados,
por meio de uma revisão sistemática dos efeitos de um programa de reabilitação, através
de um programa de treinamento físico, para o tratamento da dor e força muscular na
OA de joelho.
Métodos
Foram incluídos em nossa análise os mais relevantes estudos publicados originalmente
na língua inglesa nas bases de dados National Library of Medicine (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciência da Saúde (LILACS),
entre janeiro de 2008 e dezembro 2018. Com o objetivo de selecionar os estudos de
maior evidência científica, utilizamos para a revisão bibliográfica, somente ensaios
clínicos controlados e randomizados (ECCR). Para a busca dos artigos científicos,
empregamos as seguintes combinações de palavras-chave: “movement techniques exercise ”, knee osteoarthritis AND pain AND “muscle strength ”, AND proprioception training bem como suas variações consultadas no Medical Subject Headings (MeSH).
Os critérios de inclusão e exclusão aplicados estão expostos no [Quadro 1 ].
Quadro 1
Critérios de inclusão
Delineamento: ensaios clínicos controlados e randomizados
Intervenção: programas de exercícios para melhora da dor e força muscular em paciente
com osteoartrose de joelho
Somente em humanos
Idioma: língua inglesa
Estudos realizados nos últimos 10 anos.
Critérios de exclusão
Intervenção: pouco claras, mal descritas ou inadequadas.
Forma de publicação: somente resumos
Principais variáveis analisadas
Dor no joelho
Força muscular
Os estudos foram selecionados por dois revisores independentes, excluindo aqueles
que não estavam relacionados com o tema da revisão e os que pudessem apresentar algum
tipo de viés. Para verificar a validade de estudos randomizados elegíveis, pares de
revisores trabalhando independentemente e com confiabilidade adequada determinaram
a adequação da randomização em relação às condutas de exercícios adotados para os
grupos controle e intervenção.
Posteriormente, os resumos dos títulos selecionados foram analisados para identificar
aqueles que atendiam aos critérios de inclusão e exclusão. Foram excluídos artigos
que não possuíam nenhum dos desfechos do estudo, que não abordam a OA de joelho, que
não possuem um grupo específico ou não realizam nenhum tipo de exercício, e aqueles
que eram protocolos de estudo.
Os artigos relevantes foram para avaliação final por meio da pontuação atingida na
escala PEDro, com o objetivo de auxiliar os pesquisadores a identificarem rapidamente
quais dos estudos selecionados poderão ter validade interna e conter suficiente informação
estatística para que os seus resultados possam ser interpretados. Para elegibilidade
do estudo selecionado para esta revisão sistemática foi necessário pontuar, no mínimo,
oito na escala Physiotherapy Evidence Database (PEDro). Além desta escala, utilizamos
a escala proposta por Jadad et al.[19 ] Esta escala consiste em 5 critérios, e varia de 0 a 5 pontos, na qual o escore menor
que 3 indica que o estudo possui baixa qualidade metodológica e, dificilmente, seus
resultados poderão ser extrapolados para outros cenários.
Análise estatística
Para os dados encontrados referentes aos programas de exercício e ao sintoma de dor
no joelho, foi realizada a meta-análise com o programa Medcalc 15.8 (BVBA, Ostend,
Belgium). A estatística g de Hedges foi utilizada como uma formulação para a diferença
média padronizada sob o modelo de efeitos fixos. Em seguida, a estatística de heterogeneidade
é incorporada para calcular a diferença média padronizada resumida sob o modelo de
efeitos aleatórios utilizando a análise estatística de efeito aleatório e efeito fixo,
considerando a heterogeneidade dos estudos. O intervalo de confiança de 95% (IC 95%)
foi calculado para cada estudo individualmente e em seguida, para a combinação dos
estudos selecionados. Foram identificados a média e o desvio-padrão de cada estudo
e adotados somente os valores de p < 0,05 como significantes.
Resultados
Baseados nas palavras-chave descritas anteriormente, foram selecionados 986 artigos
nas bases de dados MedLine, Lilacs e ScieLo. Após a aplicação de todos os critérios
de inclusão e exclusão, restaram 35 artigos que foram lidos na íntegra e avaliados
utilizando a escala PEDro e a escala Jadad, sendo 7 desses os que foram considerados
relevantes para revisão sistemática, como é possível observar no fluxograma abaixo
([Figura 1 ]).
Fig. 1 Fluxograma.
As [Tabelas 1 ] e [2 ] apresentam a pontuação dos 7 estudos utilizados nesta revisão sistemática avaliados
pelas escalas PEDro e Jadad, sendo a pontuação mínima de 8 pontos em 11 e 3 pontos
em 5 respectivamente.
Tabela 1
Escala PEDro
Estudo
C1
C2
C3
C4
C5
C6
C7
C8
C9
C10
C11
Score
Boon-Whatt Lim et al., 2008 [33 ]
1
1
1
1
0
0
1
1
1
1
1
8/10
K.L. Bennell et al., 2010 [25 ]
1
1
1
1
0
0
1
1
1
1
1
8/10
G. Kelley Fitzgerald et al., 2011 [20 ]
1
1
1
1
1
0
1
0
1
1
1
8/10
Saccomanno MF et al., 2016 [21 ]
1
1
1
1
0
0
1
1
1
1
1
8/10
Palmer S et al., 2014[22 ]
1
1
1
1
1
0
1
0
1
1
1
8/10
Holsgaard-Larsen A et al., 2017[23 ]
1
1
1
1
0
0
1
1
1
1
1
8/10
Jorge RT et al., 2015[24 ]
1
1
1
1
0
0
1
1
1
1
1
8/10
Tabela 2
Itens
Boon-Whatt Lim et al., 2008 [32 ]
K.L. Bennell et al., 2010 [24 ]
G. Kelley Fitzgerald et al., 2011 [19 ]
Sacco manno MF et al., 2016 [20 ]
Palmer S et al., 2014[21 ]
Holsgaard-Larsen A et al., 2017[22 ]
Jorge RT et al., 2015[23 ]
O estudo foi descrito como randomizado?
1
1
1
1
1
1
1
A randomização foi descrita e é adequada?
1
1
1
1
1
1
1
Houve comparações e resultados?
1
1
1
1
1
1
1
As comparações e resultados foram descritos e são adequados?
1
1
1
1
1
1
1
Foram descritas perdas e exclusões?
1
1
1
1
1
1
1
TOTAL
5
5
5
5
5
5
5
Os estudos incluídos na análise continham um total de 934 participantes com idades
entre 40 e 73 anos, sendo que 34,90% desses eram do sexo masculino. Os estudos avaliaram
a eficácia de um conjunto de exercícios para tratamento da OA de joelho, sendo que
alguns compararam ainda os exercícios com outras técnicas de tratamento, que aconteceram
em um período médio de 12 semanas. As variáveis analisadas foram dor e força muscular,
sendo possível observar que a maioria dos conjuntos de exercícios oferecidos no tratamento
da OA tiveram resultado significativamente positivo em ambos os quesitos, mas principalmente
no manejo da dor, como mostra a [Tabela 3 ].
Tabela 3
Estudo
AMOSTRA
GI
GC
Duração
Variáveis analisadas
AMOSTRA
HOMENS
IDADE
GRUPOS
DOR
FM
Lim et al., 2008[33 ]
107
48
53–73 anos
GI: 54
GC: 53
Fortalecimento do quadríceps com caneleiras e Theraband
Nenhuma intervenção
12 semanas
Melhora significativa da dor no grupo com joelho mais alinhado
NA
K.L. Bennell et al., 2010[25 ]
102
51
62–73 anos
GI: 51
GC: 51
Fortalecimento de quadril (adução, rotação externa, extensão e isometria de quadriceps)
Nenhuma intervenção
12 semanas
GI melhorou a dor em relação ao GC
Aumento significativo na força do quadril e do quadríceps em relação ao grupo controle
G. Kelley Fitzgerald et al., 2011[20 ]
183
61
63–73 anos
GI:92
GC: 91
O grupo de agilidade e perturbação recebeu o mesmo programa de exercícios padrão com
a adição de técnicas de treinamento de agilidade e perturbação
Grupo de exercício padrão: um programa de exercícios que incluía alongamentos musculares,
fortalecimento e caminhar na esteira
4 anos e 2 meses
Ambos os grupos apresentaram modestas melhorias, mas não houve diferenças significativas
entre os grupos
NA
Saccomanno MF et al.,2016[21 ]
165
44
40–70 anos
GI-1: 53
GI-2:53
GC: 51
GI-1: administração de três injeções de ácido hialurônico (AH)GI- 2: injeções de AH + exercício
de joelho
Exercício de joelho
6 meses
No 1° mês, o grupo GI-2 apresentou pontuação significativamente melhor do que o GI-1.
GC e GI-2 apresentaram redução significativa no 1° mês e 6°mês
NA
Palmer S et al., 2014[22 ]
224
83
60–72 anos
GI:73
GC-1: 74
GC-2: 77
TENS ativo (modo contínuo – 110 Hz, 50 µs) + exercício joelho
GC-1: TENS fictício + exercício de joelho GC-2: exercício de joelho (30 minutos de
educação + 30 minutos de exercício)
6 semanas
Ao longo do tempo houve melhora significativa para cada escore dentro de cada grupo
NA
Holsgaard-Larsen A et al., 2017[23 ]
93
39
40–70 anos
GI: 47
GC: 46
Aquecimento (10 minutos), funcional, proprioceptivo, fortalecimento de resistência
e resfriamento
Informações sobre uso de analgésico e anti-inflamatório
8 semanas
Não houve diferença significativa entre os grupos
NA
Jorge RT et al., 2015[24 ]
60
NA
40–70 anos
GI: 29
GC:31
Aquecimento 5 minutos de bicicleta. Exercício resistido progressivo (extensão/flexão
de joelho e adução e abdução de quadril com pesos leves).
Nenhuma intervenção
13 semanas
No grupo GI a dor foi significativamente menor em 45 e 90 dias
Diferenças significativas para adutores de quadril entre os grupos, de T0 até o final
do estudo
Meta-análise
Apenas cinco dos sete estudos incluídos nesta revisão forneceram dados suficientes
para analisar a dor no joelho após o programa de exercícios. A meta-análise foi realizada
com base nos cinco artigos referidos, totalizando uma amostra com 520 voluntários.
Entre os resultados relacionados, cinco dos sete artigos utilizaram como método de
avaliação da dor o questionário Western Ontario and McMaster Universities Arthritis Index (WOMAC), e, dentre eles, dois demostraram que o exercício é efetivo quando comparado
com outras técnicas de tratamento da OA de joelho, como é possível observar na [Figura 2 ] e na [Tabela 4 ]. O gráfico em florest-plot evidencia a análise do efeito do programa de exercícios
sobre a dor na região do joelho. Os resultados da esquerda indicam os valores favoráveis
à influência do programa de exercícios para a diminuição do quadro álgico quando comparado
com o grupo controle, sendo o efeito combinado representado pelo losango, que evidenciou
uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,0031).
Fig. 2 Gráfico Forest Plot dos estudos incluídos na análise do efeito fixo e aleatório, diferença da média padronizada
adotando intervalo de confiança 95%.
Tabela 4
Estudo
N1
N2
TOTAL
SMD
95% IC
Lim et al., 2008
54
53
107
-0,165
-0,549 to 0,219
Bennell et al., 2010
51
51
102
-0,481
-0,880 to -0,0824
Jorge et al., 2015
29
31
60
-0,122
-1,788 to -0,655
Saccomanno et al., 2016
51
53
104
-0,126
-0,516 to 0,263
Palmer et al., 2014
73
74
147
0,000
-0,326 to 0,326
Total (Efeito fixo)
258
262
520
-0,275
-0,450 to -0,101
Total (Efeito randomizado)
258
262
520
-0,357
-0,712 to -0,00181
Nível de significância
P = 0,0031
Discussão
Este estudo teve como objetivo analisar a eficácia de um grupo de exercícios no tratamento
da OA de joelho, sendo a dor e a força muscular os principais desfechos abordados.
Nossos resultados demonstram que um programa de reabilitação que inclua o fortalecimento
de um determinado grupamento muscular tem efeitos positivos sobre a dor.
Os músculos quadríceps femoral, ísquio crural, psoas maior, glúteo máximo e médio,
gastrocnêmios, tensor da fáscia lata, adutor longo, adutor curto, grácil, adutor magno,
e sartório são os mais evidenciados nesta revisão sistemática.[20 ]
[21 ]
[22 ]
[23 ]
[24 ]
[25 ]
Dentre os músculos citados nos programas de reabilitação, o foco principal está no
quadríceps femoral. O fortalecimento deste é comumente indicado no tratamento e progressão
da OA, visto que esse possui efeito condroprotetor estático e dinâmico da articulação
do joelho, e sua fraqueza pode gerar sobrecarga articular causando dor e instabilidade.[26 ] Segundo O'Reilly et al.,[27 ] existe uma relação inversa entre a força muscular do quadríceps, em pacientes com
OA, e o relato de dor, ou seja, quanto maior a força muscular menor a dor.[27 ]
[28 ] Porém, o músculo em sua maior potência, pode aumentar a força de cisalhamento, ou
a força compressiva, dentro da articulação podendo aumentar a dor no joelho acometido
pela OA, com isso, quando a articulação está em um posição mais fletida o músculo
fica mais relaxado e essas forças diminuem sobre a articulação gerando um maior conforto
ao paciente, reduzindo assim, a ativação muscular.[29 ]
[30 ] Na literatura ainda há discussões quanto à relação entre quadríceps femoral e OA
de joelho, pois existem controvérsias se a fraqueza muscular contribui para a patologia
ou a patologia causa a fraqueza muscular.[31 ]
[32 ]
O desequilíbrio artrocinemático causado por fatores mecânicos pode também ter influência
na causa e na progressão da OA do joelho, pois o alinhamento desempenha um papel importante
que determina a distribuição da carga através dessa articulação, minimizando o efeito
do impacto, de modo que pode ser hipotetizado que o aumento da força muscular é uma
das principais causas de impacto, redução da dor e incapacidade. Surge então, a necessidade
de se entender sobre a influência do mau alinhamento articular para tratar a OA. O
estudo de Lim et al.,[33 ] mostrou que o fortalecimento do quadríceps em um grupo de pacientes com desalinhamento
grave no joelho originou a piora da dor em relação ao grupo controle, ao contrário
do grupo que apresentava um alinhamento melhor. Além disso, ele verifica que o fortalecimento
do quadríceps não melhora o alinhamento do joelho, mostrando que com um aumento de
3% na força do quadríceps o desalinhamento no joelho piora em 1 grau. Este achado
não necessariamente vai de encontro com os nossos resultados, porém ressalta a importância
de se observar o alinhamento articular antes de se iniciar um trabalho de fortalecimento,
para que de fato se tenha resultados positivos sobre os desfechos, principalmente
em relação à dor.[34 ]
A amplitude de movimento também é um quesito importante sobre a eficácia de um tratamento
articular, pois pacientes com OA crônica do joelho podem apresentar encurtamento quando
submetidos à imobilização ou inatividade devido à dor, resultando em contraturas de
cápsulas articulares e encurtamento adaptativo.[35 ] Partindo do pressuposto que músculos mais alongados possuem maior torque, os benefícios
dos programas de alongamento estão além do alinhamento e equilíbrio muscular. Com
isso a terapia de alongamento como um tratamento adjuvante se tornaria uma técnica
favorável de se incluir em um programa de exercícios para o tratamento de OA. Tanto
a facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) como o alongamento estático mostram
ótimos resultados, porém o estiramento do FNP foi mais efetivo que o exercício de
alongamento estático.[35 ]
[36 ] Apenas três dos artigos incluídos na presente revisão apresentam em seu programa
exercícios de alongamento/estiramento.[21 ]
[23 ]
[33 ]
A maioria dos estudos incluídos nessa revisão aborda além do fortalecimento a adição
de técnicas de equilíbrio e propriocepção. Porém, apenas o estudo de Fitzgerald et
al.[20 ] avaliou separadamente essas técnicas, não encontrando evidências significativas
de que esses exercícios melhoram a dor e força muscular em pacientes com OA, esse
achado não corrobora com o estudo de Diracoglu et al.,[37 ] que aplicou exercícios de cinestesia e equilíbrio em um grupo de mulheres com OA
de joelho em comparação com um grupo que recebeu apenas fortalecimento, obtendo resultado
positivo na força muscular , na qualidade de vida e a escala de função física do questionário
de WOMAC.
Para mensurar cada um desses desfechos que escolhemos, os artigos optaram em sua totalidade
por usar instrumentos de avaliação como o questionário WOMAC e a escala visual analógica
(EVA). O questionário WOMAC é um instrumento de fácil aplicação, com baixo custo e
específico para OA de joelho, composto por três domínios, dor, rigidez e funcionalidade.[38 ] Já a EVA é um instrumento numérico, de 0 a 10, com 10 cm de comprimento, onde a
sensação dolorosa é validada, quanto maior a numeração maior o nível da dor.[30 ]
Confrontando os pontos de cada instrumento de avaliação podemos observar que dentro
da necessidade de avaliar um quesito especifico, como no caso da OA, a escala EVA
e o questionário WOMAC se tornam muito subjetivos, porém este tem como finalidade
especificar a dor momentânea somente na OA de joelho, sendo o mais satisfatório nesse
tipo de avaliação.[30 ]
[38 ]
Com base no que há em comum nas evidências utilizadas, concluímos que, para que um
programa de reabilitação seja benéfico no tratamento da OA ele deve avaliar satisfatoriamente
o desalinhamento articular do joelho, e posteriormente desenvolver um plano de tratamento
adequado às necessidades de cada paciente. Baseado nessa avaliação, o terapeuta se
guiará para formular um programa de treinamento físico com enfoque no grupamento muscular
adequado.
O ideal, segundo os nossos resultados, seriam programas que possuíssem exercícios
com enfoque no fortalecimento isométrico e isotônico dos músculos quadríceps femoral
e ísquios crurais, sendo o isotônico de quadríceps mais importante, alongamento dinâmico
(PNF) dos músculos ísquios crurais e gastrocnêmios, além de exercícios de propriocepção
e equilíbrio.
Os estudos analisados apresentam algumas limitações, dentre elas a falta de descrição
detalhada das intervenções, assim como a falta de descrição da carga utilizada e a
evolução dos exercícios, principalmente em relação aos alongamentos musculares, prejudicando
na elaboração final de um programa de treinamento físico adequado. A duração da intervenção
possuiu uma grande variação não os permitindo alcançar um consenso sobre o tempo ideal
de tratamento da OA. Os benefícios a longo prazo de exercícios para terapia e possível
prevenção de OA ainda não são conhecidos, devido à escassez de estudos sobre esses
efeitos.
Outra limitação observada é a ausência de um instrumento padrão-ouro para a avaliação
da força muscular, como o uso de um dinamômetro, comprometendo a análise quantitativa
desta variável. A hipótese de que possa ser o pela disponibilidade reduzida e custo
elevado dos aparelhos para a avaliação.
Conclusão
Frente aos resultados encontrados nessa análise, inferimos que houve uma melhora da
dor em todos os artigos que realizaram fortalecimento muscular; porém, os protocolos
utilizados não foram devidamente descritos, dificultando um padrão para elaborar um
programa de exercícios físicos específicos para o tratamento da OA de joelho. Em adendo,
apenas dois artigos avaliaram a força muscular, provavelmente pela dificuldade de
medida/utilização do instrumento adequado.