A.O.S., 39 anos, autônomo, pardo, sem comorbidades, sorologias negativas. Chegou ao
serviço por suspeita de abcesso retrofaringeo. Ex-presidiário, após liberdade foi
ao dentista retirar um dos dentes. O procedimento foi demorado e necessitou de antibioticoterapia
após. Iniciou há 4 meses com cervicalgia e paresia progressiva de membros superiores.
Chega com força grau 3 em membros superiores, mãos atrofiadas e fletidas. RM de coluna
cervical: “Volumosa formação expansiva infiltrando os corpos vertebrais e elementos
posteriores de C2 e C3 com volumoso componente de partes moles adjacentes, estendendo-se
para a região anterior da coluna cervical, determinando estreitamento da hipofaringe.
Com extensão parcial para o canal medular, determina moderada estenose e infiltra
os forames neurais de C2–C3, bilateralmente. A lesão mede cerca de 8,7 × 6,1 × 5,8 cm,
com hipossinal nas sequências ponderadas em T1 e hipersinal em T2, com contornos de
realce heterogêneo após o uso de gadolínio. Observa-se área de elevação de sinal na
medula ao nível de C2, por mielopatia devido à compressão da lesão”. Realizada biópsia
por acesso transoral evidenciando culturas negativas. Anatomopatológico evidenciando
cordoma. Paciente necessitou da realização de traqueostomia e gastrostomia devido
à importante obstrução de via aérea superior por volumoso tumor. Os cordomas são tumores
ósseos malignos raros, de crescimento lento, recidivantes e localmente agressivos,
originados de resquícios da notocorda embrionária. Respondem por 1 a 4% dos tumores
ósseos malignos e ocorrem no esqueleto axial, afetando as regiões sacrais (50%), base
do crânio (35%) e outras regiões da espinha (15%). Raramente é visto na espinha cervical,
respondendo por 6% de todos os cordomas. Possui maior incidência entre os 50–60 anos
de vida e uma taxa de sobrevida em 5 anos de 67,6%. Com início indolente, os pacientes
se manifestam com pouca sintomatologia até estágios avançados. Cordomas da espinha
móvel e sacral podem se apresentar com dor profunda localizada ou radiculopatias relacionadas
ao nível espinhal. Essas manifestações inespecíficas atrasam o diagnóstico para estágios
avançados, em que a função vesical e intestinal já está comprometida. Na radiografia
as lesões líticas são superestimadas, enquanto a TC e RM não se estendem abaixo do
nível de S2, dificultando o diagnóstico. A cirurgia é o principal de tratamento, podendo
se associar à radiação. A ressecção máxima possível na primeira cirurgia melhora o
prognóstico.