Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 2015; 34(01): 091-092
DOI: 10.1055/s-0035-1547389
Case Report | Relato de Caso
Thieme Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Secção medular subtotal por ferimento de arma branca

Section Subtotal for Spinal Cord Injury White Gun
Pedro Manoel Gonzalez Cuellar
1   Professor Assistente da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Preceptor do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral da Universidade Federal do Tocantins, Hospital Geral de Palmas (UFT-HGP), Palmas, TO, Brasil
,
Wilson Elias Oliveira Junior
2   Médico Residente do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral (UFT-HGP), Palmas, TO, Brasil
,
Filipe Carneiro de Queiroz
3   Interno do Curso de Medicina da UFT, Palmas, TO, Brasil
,
Leonardo Nunes de Castro Oliveira
3   Interno do Curso de Medicina da UFT, Palmas, TO, Brasil
,
Pedro Henrique Lima Soares
3   Interno do Curso de Medicina da UFT, Palmas, TO, Brasil
› Author Affiliations
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Address for correspondence

Pedro Henrique Lima Soares, MD
Universidade Federal do Tocantins
Coordenação do Curso de Medicina. Av. NS 15, 109 Norte, Plano Diretor Norte, Palmas, Tocantins
Brazil, CEP 77001-090   
Hospital Geral de Palmas, Palmas, TO, Brasil

Publication History

09 October 2013

01 November 2014

Publication Date:
29 April 2015 (online)

 

Resumo

Lesão de medula espinhal por arma branca é incomum, sendo responsável por 12% dos traumas raquimedulares. Os autores descrevem um caso de secção de medula espinhal cervical subtotal por arma branca em um paciente de 18 anos.


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Abstract

A spinal cord injury by stab is uncommon, accounting for 12% of spinal cord trauma. The authors describe a case of cervical spinal cord section subtotal stab wound in a patient of 18 years.


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Introdução

O ferimento por arma branca (FAB) é um tipo de trauma comum no Brasil, principalmente no Norte e Nordeste. Os segmentos corporais mais acometidos são abdome, tórax e membros superiores. A secção da medula espinhal por FAB é pouco comum, porém acompanhada de grande risco de morte e prejuízo funcional a longo prazo para o paciente.[1]

Considerando a gravidade das lesões medulares causadas por FAB e a infrequência desse tipo de trauma, segue um relato de caso de secção medular cervical subtotal relacionado a esse tipo de acidente.


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Relato do Caso

Paciente masculino, 18 anos, pedreiro, procedente de Palmas/TO, admitido no Hospital Geral de Palmas consciente, orientado e verbalizando. Apresentou ferimento por arma branca em região cervical anterior e posterolateral esquerda ([Fig. 1]), evoluindo com paresia e parestesia da região inferior do tórax, abdome e membros inferiores. Levado ao centro cirúrgico, foi submetido a cervicotomia exploradora da região anterior e posterior, sendo observada na região anterior lesão transfixante das veias jugulares superficiais, e na posterior, lesão perfurante de aproximadamente 2 cm de comprimento, que penetrava planos profundos, apresentando saída de líquor e caracterizando lesão medular. A tomografia computadorizada demonstrou lesão medular grave no nível das vértebras cervicais C5-C6, detalhada pela ressonância magnética que evidenciou secção medular cervical subtotal neste nível ([Fig. 2]).

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Fig. 1 Pós-operatório imediato com vista posteroanterior, demonstrando a lesão de entrada do ferimento na região posterior.
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Fig. 2 Imagem de ressonância magnética, corte sagital em T2, evidenciando secção medular subtotal ao nível de C5-C6.

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Discussão

Considerando-se a epidemiologia dos FAB, neste contexto, faz-se necessária a atenção a outras regiões corporais nas quais é infrequente esse tipo de trauma, mas que pode ser associado a grande morbimortalidade. A lesão da medula espinhal relacionada a este tipo específico de ferimento é pouco comum, correspondendo a aproximadamente 12% dos traumas raquimedulares.[2] Nos ferimentos por arma branca da medula espinhal, as regiões mais acometidas em ordem decrescente são a coluna cervical, seguida pela torácica e lombar. O diagnóstico é dado pela história clínica associada ao exame neurológico do paciente.[3] Para isso, faz-se a avaliação dos dermátomos e miótomos através de testes de sensibilidade epicrítica, protoprática, propriocepção e função motora. Exames de imagem como a tomografia e a ressonância magnética confirmam a lesão e dão a localização exata da mesma. Não existe um tratamento eficaz comprovado para casos de secção medular, mas o mesmo deve ter uma abordagem multidisciplinar envolvendo o tratamento cirúrgico, manejo das intercorrências clínicas, fisioterapia, cuidados de enfermagem específicos e apoio psicológico.[4]

Apesar de infrequente o trauma medular por arma branca é potencialmente grave a curto e a longo prazo, além de demandar elevados custos diretos e indiretos ao Sistema Único de Saúde.[5] Existem poucos estudos na literatura nacional acerca desse assunto mostrando a necessidade de maior atenção a esse tema, possibilitando assim, a implementação de protocolos no manejo desses pacientes.


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Conflitos de Interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

  • Referências

  • 1 Brito LM, Chein MB, Marinho SC, Duarte TB. Avaliação epidemiológica dos pacientes vítimas de traumatismo raquimedular. Rev Col Bras Cir 2011; 38 (5) 304-309
  • 2 Citadini JM, Scholtão J, Souza RB, Garanhani MR. Perfil epidemiológico dos pacientes com lesão medular do ambulatório de fisioterapia neurológica do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná. Londrina: Universidade Estadual de Londrina; 2003. . Disponível em: http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/vol5n1/PERFIl.pdf
  • 3 Vasconcelos EC, Riberto M. Caracterização clínica e das situações de fratura da coluna vertebral no município de Ribeirão Preto, propostas para um programa de prevenção do trauma raquimedular. Coluna/Columna 2011; 10 (1) 40-43
  • 4 Custódio NR, Carneiro MR, Feres CC , et al. Lesão medular no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER-GO). Coluna/Columna 2009; 8 (3) 265-268
  • 5 Coura AS, França IS, Enders BC, Barbosa ML, Souza JR. Incapacidade funcional e associações com aspectos sociodemográficos em adultos com lesão medular. Rev Latino-Am Enfermagem 2012; 20 (1) 84-92

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Pedro Henrique Lima Soares, MD
Universidade Federal do Tocantins
Coordenação do Curso de Medicina. Av. NS 15, 109 Norte, Plano Diretor Norte, Palmas, Tocantins
Brazil, CEP 77001-090   
Hospital Geral de Palmas, Palmas, TO, Brasil

  • Referências

  • 1 Brito LM, Chein MB, Marinho SC, Duarte TB. Avaliação epidemiológica dos pacientes vítimas de traumatismo raquimedular. Rev Col Bras Cir 2011; 38 (5) 304-309
  • 2 Citadini JM, Scholtão J, Souza RB, Garanhani MR. Perfil epidemiológico dos pacientes com lesão medular do ambulatório de fisioterapia neurológica do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná. Londrina: Universidade Estadual de Londrina; 2003. . Disponível em: http://www.ccs.uel.br/espacoparasaude/vol5n1/PERFIl.pdf
  • 3 Vasconcelos EC, Riberto M. Caracterização clínica e das situações de fratura da coluna vertebral no município de Ribeirão Preto, propostas para um programa de prevenção do trauma raquimedular. Coluna/Columna 2011; 10 (1) 40-43
  • 4 Custódio NR, Carneiro MR, Feres CC , et al. Lesão medular no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER-GO). Coluna/Columna 2009; 8 (3) 265-268
  • 5 Coura AS, França IS, Enders BC, Barbosa ML, Souza JR. Incapacidade funcional e associações com aspectos sociodemográficos em adultos com lesão medular. Rev Latino-Am Enfermagem 2012; 20 (1) 84-92

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Fig. 1 Pós-operatório imediato com vista posteroanterior, demonstrando a lesão de entrada do ferimento na região posterior.
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Fig. 2 Imagem de ressonância magnética, corte sagital em T2, evidenciando secção medular subtotal ao nível de C5-C6.