CC BY-NC-ND 4.0 · Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 2018; 37(S 01): S1-S332
DOI: 10.1055/s-0038-1673033
E-Poster – Trauma
Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Neurocirurgia em cenário de guerra urbana, craniectomia descompressiva simultânea a cesárea de emergência em gestante vítima de lesão traumática cerebral por projétil de arma de fogo craniano: relato de caso

Ananias Matos Arrais Neto
1   Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI)
,
Renan Salomão Rodrigues
1   Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI)
,
Arthur C Dias Ferreira
1   Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI)
,
Rafael Baptista de Mello
1   Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI)
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Publication Date:
06 September 2018 (online)

 

Apresentação do caso: Primigesta na trigésima segunda semana com 33 anos de idade foi admitida no setor de emergência vítima de Trauma Crânio Encefálico por projetil de arma de fogo (PAF) com orifício de entrada em região frontal esquerda. Identificou-se rebaixamento do nível de consciência devido a choque hipovolêmico, com Escala de Coma de Glasgow 7, além de indícios de sofrimento fetal com batimentos cardíacos fetais de 90 por minuto. A tomografia computadorizada de crânio revelou PAF em região frontal parassagital esquerda, hematoma subdural agudo, afundamento de calota craniana, contusão cerebral e desvio de linha média. Realizou-se então craniectomia descompressiva frontoparietotemporal à esquerda seguida de hemostasia e reposição volêmica vigorosa com plasma e sangue; optou-se simultaneamente pela interrupção da gestação por cesariana com nascimento de feto vivo. O recém-nascido (RN) apresentou-se hipotônico, bradicárdico e não reativo com APGAR 1/3 havendo necessidade de intubação e transferência para centro de terapia intensiva (CTI) neonatal. A paciente foi encaminhada para o CTI sendo extubada 72 horas após apresentando hemiparesia braquiocrural à direita com grau 4 de força e bradipsiquismo. A mesma recebeu alta 11 dias após sua admissão com escala de glasgow de 15 e paresia leve do membro superior direito. O RN recebeu alta 24 dias após sua internação em regular estado geral com considerável melhora evolutiva e sem déficits aparentes.

Discussão: O manejo de gestantes com lesões traumáticas do encéfalo é desafiador. A assistência por uma equipe multidisciplinar é algo mandatório e os primeiros objetivos são a rápida e eficaz ressucitação e estabilização da mãe e a mais precoce possível avaliação do feto. Quanto à necessidade de interrupção da gestação é uma questão para a qual não há bases com nível de evidência na literatura e que depende da experiência da equipe o que certamente pode repercutir de forma importante no desfecho clínico do caso.

Comentários finais: Relatamos um caso raro de abordagem neurocirúrgica concomitante a obstétrica imediata e agressiva à gestante no terceiro trimestre com feto viável em um cenário de trauma e emergência cujas decisões rápidas e bem articuladas da equipe com diversas especialidades determinaram um excelente desfecho clínico tanto para a gestante quanto para o feto.