CC BY-NC-ND 4.0 · Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 2018; 37(S 01): S1-S332
DOI: 10.1055/s-0038-1672977
E-Poster – Pediatrics
Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Relato de caso: hemorragia núcleo-capsular em paciente pediátrico por encefalite herpética decorrente de gengivoestomatite

João Pedro Zanatta
1   Universidade de Passo Fundo
2   Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz
,
Bárbara Biffi Gabardo
1   Universidade de Passo Fundo
2   Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz
,
Laisa Zanella
1   Universidade de Passo Fundo
2   Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz
,
Antônio Carlos de Andrade Soares
1   Universidade de Passo Fundo
2   Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz
› Author Affiliations
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Publication History

Publication Date:
06 September 2018 (online)

 

Apresentação do caso: Um menino de 1 ano e 2 meses, foi levado a atendimento por quadro de IVAS, iniciado há 2 meses. Apresentava-se hipoativo, com estridor laríngeo e hiperemia de orofaringe com lesões aftosas, características de Gengivoestomatite Herpética, com sorologia para Herpes Vírus Simples (HSV) positiva. No mesmo dia, apresentou hipoxemia grave e foi encaminhado para UTI por SDRA. Apresentou episódio de Convulsão Tônico-Clônica Generalizada. Na TC de crânio, foi achado hematoma núcleo-capsular à direita com edema vasogênico e áreas de hipodensidades subcorticais difusas, compatíveis com encefalite. O Hematoma foi drenado através de cirurgia minimamente invasiva. No pós-operatório, paciente evoluiu com hemiparesia à esquerda, dificuldade de deglutição, melhora hemodinâmica e ventilatória.

Discussão: A gengivoestomatite herpética é o achado mais comum do HSV, caracterizada por lesões ulceradas distribuídas por toda a mucosa oral, causada pelo HVS-1, com pico de incidência de 6 meses a 5 anos de idade. A Meningoencefalite herpética é a complicação mais fatal do HVS. Em geral a encefalite herpética (EH) é causada pelo HVS-1 e a meningite herpética pelo HVS-2. Há 3 vias de propagação viral ao parênquima cerebral: entrada de vírus SNC via epitélio olfatório; reativação de HSV latente em gânglios com disseminação via trigeminal e raízes nervosas autônomas; e propagação hematológica, principalmente em recém-nascidos ou imunocomprometidos. A EH produz necrose hemorrágica focal de estruturas do lobo temporal e frontal, incluindo áreas do sistema límbico. Fisiopatologicamente, está associada à morte celular necrótica, edema cerebral e apoptose de neurônios. Os sintomas da EH dependem da localização da lesão, sendo clássica a tríade de febre, cefaleia e consciência alterada, podendo ocorrer também convulsões e letargia. Hemorragia intracerebral causada por EH é um achado extremamente raro em crianças. O mecanismo da hemorragia não foi totalmente esclarecido, porém, é aceito a ruptura de pequenos vasos devido à uma lesão endotelial e a reação inflamatória.

Comentários finais: Hemorragias intracranianas decorrentes de encefalite herpética em pacientes pediátricos são eventos extremamente incomuns. Contudo, deve-se estar atento às infecções simples pelo HSV e considerar a possibilidade de evolução para um quadro neurológico grave.