Lipoma gigante de cisterna quadrigeminal: relato de caso e revisão de literatura

Apresentação de caso: Paciente sexo feminino, 30 anos, com relato de cefaleia hemicraniana, associada a náuseas e vômitos, com presença de fonofobia e fotofobia, piorava com atividade física, não piora ao deitar, geralmente ocorre pela tarde, relato de aura visual de longa data. Há cerca de 2 meses evoluiu com mudança do padrão de cefaleia, agora em região occipital sem náuseas, vômitos ou aura. No entanto, em intensidade mais forte do que a anterior, sendo necessário uso de medicações venosas. Em investigação diagnóstica com neurologista-assistente foi solicitada ressonância magnética do crânio que evidenciou processo expanssivo extra-axial em região da cisterna quadrigeminal medindo 2,5 × 2,0 × 1,7 cm, com aspecto de gordura. Realizado espectroscopia da lesão que foi sugestiva de lipoma. Optado por tratamento conservador.

Discussão: Os lipomas intracranianos são eventos raros. Correspondem em cerca de 0,1% a 0,4% dos tumores intracranianos, com frequência de 8 em cada 10.000 biópsias. Sua patogênese possivelmente está associada com um mau desenvolvimento embrionário e com involução das meninges primitivas. Cerca de 50% das lesões estão em corpo caloso, cerca de 25% na placa quadrigêmia, no entanto são descritos em outras topografias: tuber cinério, fissura sylviana, ângulo pontocerebelar e plexo coroide. Podem estar associados a anomalias congênitas: trissomia do 21, síndrome de pai, encefaloce frontal, anomalias faciais, memingocele, espinha bífida e agenesia de corpo caloso. Teratoma, germinona, cisto demoide, cisto de pineal e pinealoma são descritos como possíveis diagnósticos diferenciais. A investigação diagnóstica deve ser feita por exames de imagem, por meio de tomografia e ressonância magnética do crânio, sendo que a espectroscopia das lesões pode ser importante. Foi realizada uma vasta revisão de literatura sobre o tema, por ser um evento raro, existem apenas relatos e séries de casos. Em relação ao tratamento, em grande parte dos casos, foi optado por conduta conservadora e seguimento da lesão com exames de imagem, no entanto, foi relatada a necessidade de derivação em um dos pacientes que desenvolveu hidrocefalia.

Comentários finais: Este é o maior lipoma de cisterna quadrigeminal descrito na literatura até hoje, tornando-se um importante objeto de discussão científica, levando o neurocirurgião a refletir e a ter cautela para indicar cirurgia em casos similares. Além de ser um importante diagnóstico diferencial de processos expansivos nessa topografia.