Avaliação da pressão intracraniana por telemetria: relato de caso e revisão da literatura

Apresentamos um caso de paciente do sexo feminino, 45 anos, previamente hipertensa, que apresentou quadro de perda visual progressiva com dois anos de evolução, sendo investigada pela oftalmologia. Queixava-se de cefaleia na ocasião. Ao exame: acuidade visual 20–20 a direita, percepção de movimentos a esquerda, proptose do olho esquerdo. Exame de neuroimagem evidenciou meningioma de nervo óptico e de seio sagital superior. Mesmo com os achados acima descritos e diante da história de perda visual progressiva, que poderia ser aribuída ao tumor, a presença de papiledema bilateral sem atrofia de nervo optico associada à sela túrcica vazia na ressonância magnética do encéfalo, nos fez aventar hipótese de síndrome de hipertensão intracraniana. Punção liquórica lombar resultou em pressão de abertura de 38 mmHg, sem alterações quimiocitológicas. Diante disso, optamos pela realização de procedimento para implante de dispositivo para monitoração continua da PIC por telemetria. Os resultados, apesar das limitações técnicas que serão discutidas, foram sugestivos de elevação crônica da PIC, com presença de ondas B de Lundberg de alta amplitude. Realizada derivação ventrículo peritoneal, paciente evoluiu com melhora da acuidade visual. A monitoração da pressão intracraniana é importante no tratamento de varias afecções neurológicas. A monitoração telemétrica do PIC é útil em pacientes com distúrbios dinâmicos complexos do LCR que, de outra forma, necessitariam de monitoramento repetitivo da pressão invasiva. Parece ser um método viável para orientar o ajuste de configurações de válvulas programáveis e para identificar pacientes com problemas de shunt crônicos ou repetidos, além de pacientes com diagnósticos não conclusivos. Acreditamos que o uso de telemetria é uma ferramenta útil nos casos cujos diagnósticos não foram esclarecidos, como este em questão em que a incerteza diagnóstica postergou a adequada conduta terapêutica. No exemplo apresentado, conseguimos mostrar como o tratamento correto contribuiu para a melhora satisfatória da paciente.