Transecções subpiais múltiplas em displasia rolândica resultando em melhora cognitiva

Relatamos o caso de um paciente de 9 anos com Síndrome de West, composta por espasmos infantis, padrão de hipsiarritmia no eletroencefalograma interictal e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, diagnosticada aos 9 meses. Foi tratado até os 3 anos com ACTH, ácido valproico e prednisona; medicamentos que foram suspensos por cessação das crises. Aos 5 anos o paciente reiniciou com crises epilépticas desta vez caracterizadas por clonias em membro superior esquerdo. Necessitou de tratamento com múltiplas medicações para controle das crises; período no qual apresentou comprometimento cognitivo em múltiplos domínios em avaliações neuropsicológicas. Submetido a RNM de encéfalo que evidenciou leve barramento da interface córtico-subcortical dos giros pré e pós-centrais do hemisfério cerebral direito, achado que poderia estar relacionado a malformação do desenvolvimento cortical. Realizou videoeletroencefalograma durante a investigação pelo Programa de Cirurgia da Epilepsia que demostrou disfunção cortical focal no hemisfério direito com predomínio nas regiões centro-temporo-parietais à direita, onde também ocorriam descargas epileptiformes focais com frequente sincronia bilateral secundária, especialmente em sono envolvendo o hemisfério cerebral esquerdo. Optado pelo procedimento cirúrgico, realizamos uma craniotomia ampla fronto-parieto-temporal direita possibilitando registro eletrocorticográfico intraoperatório de área extensa no hemisfério cerebral direito; foram evidenciadas descargas epileptiformes mais intensas nos giros pré e pós-centrais, além de descargas frontais direitas. Realizada estimulação cortical para mapeamento da área motora, coincidente com zona epileptogênica; optado por realização de Transecções Subpiais Múltiplas nos giros pré e pós-centrais além de porção posterior de giros frontais; realizado novo registro eletrocorticográfico que demonstrou melhora evidente no traçado. O paciente apresentou melhora cognitiva como demostrado através de avaliação neuropsicológica. As Transecções Subpiais Múltiplas foram descritas pela primeira vez por Morrel, F. et al. no Jounal of Neurosurgery, em 1989, amplamente utilizada como alternativa terapêutica de lesões epileptogênicas localizadas em áreas eloquentes ou de córtex “irresecável”. No caso relatado, conseguimos demonstrar melhora cognitiva importante alcançada através da técnica descrita em área eloquente, mas também em giros frontais direitos, consideradas área cortical passível de ressecção,