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DOI: 10.1055/s-0038-1672642
Efeito de melhora cognitiva e comportamental em estimulação do nervo vago para epilepsia refratária secundária a lisencefalia: relato de caso
Publication History
Publication Date:
06 September 2018 (online)
Apresentação de caso: Paciente do sexo feminino, 19 anos, diagnosticada com epilepsia desde os 6 meses de idade, apresenta 25 crises convulsivas por mês, apesar do uso de combinação de drogas antiepilépticas. Realizada avaliação neurocognitiva, foi indicada presença de grave atraso no desenvolvimento psicomotor e cognitivo. Foi feito também diagnóstico de lisencefalia, através de ressonância magnética e eletroencefalografia. A intervenção para reduzir as convulsões consistiu em estimulação do nervo vago (ENV). Após 30 dias, familiares relataram melhora cognitiva e comportamental significativa, com redução da agressividade e impulsividade e melhora da capacidade psicomotora e do autocuidado. Este fato foi comprovado, por questionário validado, nos retornos ao consultório 60 e 90 dias após a intervenção, quando também foi constatada redução significativa nas convulsões, de 25 para 5 crises por mês, registradas por diários de convulsão. Família relata melhora cognitiva antes da melhora nas convulsões.
Discussão: A epilepsia afeta cerca de 1% da população mundial, tendo como principal tratamento as drogas antiepilépticas. Cerca de um terço desses pacientes apresenta epilepsia refratária, que tem como causa mais comum malformações do sistema nervoso central, como a lisencefalia, rara condição caracterizada por mal desenvolvimento dos sulcos e giros cerebrais. Nesses casos, deve ser utilizada combinação de medicamentos, nem sempre eficaz, ou opções não farmacológicas, que incluem a ENV. A maioria dos estudos de ENV em crianças e adultos apontam para melhora da qualidade de vida, que se acentua com o tempo. Apesar de este efeito ser maior quando há redução significativa nas crises epilépticas, parece haver efeitos independentes da ENV no estado de alerta, humor e outros fatores, com acréscimo do desempenho em testes cognitivos mesmo sem redução das crises. Os efeitos neuropsicológicos parecem ser independentes do controle das convulsões. No caso relatado, houve redução de 80% das crises e um efeito positivo no humor, cognição e qualidade de vida após o uso de ENV, sem efeitos colaterais descritos.
Comentários finais: Este caso destaca a melhora cognitiva significativa, mesmo antes da redução das crises convulsivas, após o implante de ENV em uma paciente com epilepsia de difícil controle e sem indicação de cirurgia ressectiva. Embora este seja um caso raro, o uso de ENV na lisencefalia pode ser uma potencial ferramenta para melhora cognitiva e comportamental.