CC BY-NC-ND 4.0 · Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia: Brazilian Neurosurgery 2018; 37(S 01): S1-S332
DOI: 10.1055/s-0038-1672584
E-Poster – Spine
Thieme Revinter Publicações Ltda Rio de Janeiro, Brazil

Brucelose espinhal: uma causa esquecida de dor na coluna

Bernardo Drummond Braga
1   Instituto Neurológico de Goiânia
,
Nayara Matos Pereira
2   Hospital Santa Helena
,
Bethania de Oliveira Ferreira
3   Hospital Alberto Rassi
,
Poliana de Oliveira Castro
4   HGG
,
Sebastião Berquó Peleja
4   HGG
,
Saad George Oliveira El Haouli
4   HGG
› Author Affiliations
Further Information

Publication History

Publication Date:
06 September 2018 (online)

 

Apresentação de caso: Homem, 52 anos, produtor de leite, apresentou-se com lombociatalgia direita intensa, dorsalgia mal definida e febre vespertina branda há mais de 15 dias. Foi avaliado pela Infectologia sendo solicitado rastreio infeccioso e encaminhado para avaliação neurocirúrgica. Ao exame, força e sensibilidade estavam preservadas e Lasègue positivo à direita. Trazia RNM da coluna torácica e lombar que evidenciou coleção extradural com realce ao contraste em T7 e T8, além de edema nos corpos vertebrais, no disco e na musculatura paravertebral de T7, T8 e também de L5 e S1. Pesquisa e cultura para bactérias, fungos e BAAR no soro foram negativas. Já a sorologia revelou altos valores de IGM para Brucelose. Foi realizado tratamento cirúrgico do abscesso epidural, biopsia percutânea de L5S1 e antibioticoterapia com doxiciclina, gentamicina e rifampicina por 6 meses, com controle através de RNM. Paciente evoluiu com melhora completa do quadro.

Discussão: A brucelose é uma doença ocupacional de veterinários e trabalhadores rurais causada por cocos intracelulares. São transmitidos pelo contato com mamíferos pacientes ou pelo consumo de leite e derivados infectados, tendo disseminação hematogênica para quase todo tecido. Na coluna, ocorre mais na região lombar, seguida da torácica. Abscesso e granuloma espinhais são relativamente raros, mas progressivos, podendo levar a déficit neurológico permanente. No diagnóstico, a clínica e exames laboratoriais são essenciais e não há sinais patognomônicos. O quadro clínico é habitualmente insidioso, com febre branda e com queixas inespecíficas: fadiga, mialgia, sudorese, inapetência, cervicalgia ou lombalgia, podendo mimetizar outras doenças como tuberculose, metástase e discopatia degenerativa. A cultura é padrão-ouro, mas nem sempre isola a bactéria. Assim, testes sorológicos são preferíveis, como os testes Rosa Bengala, aglutinação do soro, Coombs, microaglutinação, Brucellacapt, ELISA e IFA. A RNM permite definição da extensão da doença e a distinção entre infecções agudas e crônicas. Indica-se cirurgia em caso de déficit neurológico, destruição vertebral com instabilidade segmentar, cifose associada e falha no tratamento medicamentoso. Classicamente, a doxiciclina e a rifampicina são os antibióticos mais usados.

Comentários finais: A apresentação da brucelose é inespecífica e variada. Sua suspeição em lesões espinhais e em dor na coluna permite a solicitação de sorologia, essencial para diagnóstico e tratamento.